Sophia Robbins passou os dez últimos anos em Madrid se preparando pra assumir o lugar do seu pai nos negócios da família. Na memória de Henrique, sócio e amigo do seu pai, Sophia era aquela menina inocente que chorava sempre que ele a chamava de bra...
Nunca fui muito boa com pessoas, confesso. A minha infância e adolescência traumáticas de alguma forma me tornaram esse "diabo de saias" que sou hoje, apelido carinhosamente dado pelos meus colegas do doutorado de administração em Madrid. Passando meu batom vermelho da sorte eu me olhava no espelho com os olhos ainda marejados por estar me despedindo da minha tão querida Espanha, a terra que me acolheu e me tornou a mulher firme que sou hoje. Volto hoje pra Califórnia para assumir a presidência e direção estratégica da nossa empresa. Como o verdadeiro escolhido, meu único irmão Arthur, optou pela carreira de fotógrafo eu me tornei a sortuda. Quando papai sacou que o Art nada tinha de administrador e que eu fazia conta até das moedinhas do lanche, tratou de me despachar para uma das melhores escolas preparatórias para o mundo dos negócios aqui na Espanha. Finalizado meu doutorado agora é hora de retornar e mostrar principalmente ao Henrique, o idiota do sócio do meu pai, que a "quatro olhos" aqui iria infernizá-lo até se sentir vingada por tanto bullying sofrido durante a adolescência. Pois é, Rick, você foi meu amor de adolescência mesmo sendo 15 anos mais velho. Fazia questão de demonstrar seu desprezo por mim sempre que eu me aproximava. Agora se prepare porque eu vou te fazer engolir todas as suas palavras com doses cavalares de lágrimas.
Meu vôo sairia às dez e eu acabara de chegar ao aeroporto. Antonela e Miguel, meus grandes amigos espanhóis, vieram comigo para se despedirem.
- Antonela, se continuar chorando assim vai interditar o aeroporto por alagamento. - disse revirando os olhos para a sensibilidade excessiva da minha amiga. Não que eu não estivesse arrasada mas não existe lugar no mundo para pessoas fracas. Assim eu aprendi aqui na Espanha.
- Até num momento como esse você é uma idiota! Não ta vendo que eu to sofrendo, sua demônia? - resmungou ela.
- Até parece que eu vou pra Plutão. Já ouviu falar em redes sociais e telefone?
- Você odeia redes sociais, Sophia! E quem vai encher a cara comigo quando eu estiver péssima?
- Esse é o lado bom dessa separação. Vocês duas bêbadas são assustadoras. - constatou Miguel que consultava o relógio.
- Bem, é isso então. - disse tentando não demonstrar minha emoção e Miguel sorriu me olhando debochado. - Sem sentimentalismos, ta. Estarei em Los Angeles e temos um grupo no Whatsapp para emergências, então nem sentiremos tanta falta assim. - as lágrimas já ameaçavam a cair quando abracei meus dois quase irmãos de vida.
- Sabe que pode contar com a gente pra sempre, né. - disse Antonela limpando as lágrimas.
- E vocês comigo. Espero vocês dois lá assim que possível. E, Miguel, cuida dessa nossa maluquinha e não deixa ela se matar de tanto fazer besteira.
- Ok, se cuida também e nos orgulhe. - disse meu amigo.
- Madrid/Los Angeles, vôo 1587 das dez horas, última chamada!
- Amo vocês!
Joguei beijos com os olhos marejados e embarquei. Foram dez anos de grandes lutas internas e transformações. Madrid transformou a menininha chorona em mulher. Aqui eu aprendi a não me deixar pisar, a ser tão profissional quanto qualquer CEO metido a gostosão e jurei nunca mais me deixar amedrontar por críticas destrutivas.
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Sophia Robbins
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