Henrique
Acordei com uma puta dor de cabeça, mas me lembrava de cada fração de segundos daquela noite. De cada toque da Sophia em mim e cada toque meu nela. O cheiro dela estava impregnado em mim mesmo após o banho. O doce da boca dela misturado com o álcool ainda estavam na minha. Ah, Sophia, minha linda... Você já é minha e nem sabe. Eu perdi pra você com o Conselho Administrativo mas você se fodeu inteirinha comigo naquele beco escuro. Certeza que eu te estraguei pra qualquer outro homem e não é arrogância minha não, foi a reação que eu vi. Eu também to completamente estragado e fodido. Você acabou comigo!
Levantei e tomei um analgésico com café. Eu era um viciado em café e tomei uma garrafa. Fui olhar as mensagens do Whatsapp e nenhuma dela. Claro! Jamais daria o braço à torcer. Da prima esquisita dela, no entanto, tinha umas mil. Devo ter passado meu número enquanto estava bêbado. Acabei esquecendo dela lá, mas depois do beijo da Sophia eu não sabia mais nem quem eu era. O Arthur me trouxe e também tinha mensagem dele querendo saber se eu estava vivo. Não comentei nada com ele sobre sua irmã. Olhei o contato dela e não estava online. Abri sua foto com cuidado pra não ligar. Não que não quisesse ouvir sua voz mas não era o momento. Era certeza de que Sophia estava puta comigo. Mas também era certeza de que ela, assim como eu, reviveu cada momento depois em seu pensamento. Mais tarde eu ligaria pra ela e tentaria um encontro sóbrio. Eu precisava disso.
Tudo o que eu disse era verdade. Eu implicava com ela, quando era mais nova, mas eu sempre fui louco por ela. Quando o Paul e a Claire a mandaram pra Espanha, foi um golpe pra mim. Nunca tentei nada porque, na época, nossa diferença de idade seria um escândalo. Por isso eu tentei fugir a todo custo desse desejo. Mas eu sabia que quando ela voltasse seria fatal. E ela voltou completamente transformada para acabar de vez com a minha racionalidade. O visual era de mulherão mas o perfume ainda era o mesmo, doce, suave, de morango. O perfume que me enlouqueceu há anos. Não teve uma mulher, com quem fui pra cama durante esses anos, que se aproximou do perfume dela. Aliás, em todas eu acabava imaginando ser Sophia quando estava me aproximando do orgasmo. Tentei puxar informações dela com Arthur mas nada. Ela era invisível nas redes sociais. Ele dizia que a irmã era aversa a tecnologia. Agora eu tinha seu Whatsapp e passava o dia vendo os prints das fotos dela. A do perfil e a do status ontem, pouco antes de ser minha. Enquanto babava em sua foto, chegou outra mensagem da prima dela. Nem li, já excluí a conversa e bloqueei. Não quero nem saber! Só quem me interessa é minha bonequinha, porque ela ainda era a razão do meu desespero.
Às duas da tarde eu não aguentei mais e liguei. Após duas tentativas frustradas ela atendeu.
- O que você quer, Henrique?
- Conversar com você. Pessoalmente.
- Não temos nada pra conversar fora da empresa.
- Sophia, por favor! Não quero conversar sobre nós em uma reunião de negócios.
- Nós? Que nós, Henrique? Você ta louco? Aquilo foi... Foi um erro!
- A quem você quer enganar? Janta comigo e eu te deixo em paz. Eu só quero conversar. Não podemos deixar as coisas assim.
- Ok, Henrique! Pela empresa! Mas uma só tentativa sua de me "calar do seu jeito" e você irá se arrepender de ter nascido. - tive que sorrir com a ironia dela.
- Te busco aí às oito.
Ela não respondeu e desligou.
Ela estava linda como sempre, mas evitei ao máximo ficar olhando feito um louco pra ela durante o caminho para o restaurante. Escolhi um italiano muito aconchegante e caro que eu costumava frequentar.
- Um vinho? - perguntei
- Melhor não.
- Ok. - pedi água para nós dois. - Sophia, antes de tudo me permita dizer que você está incrivelmente linda.
- Por favor, Henrique, direto ao ponto.
- Eu não te chamei aqui pra pedir desculpas ou dizer que nos precipitamos. Nada disso! Eu continuo não me arrependendo de nada que aconteceu ontem.
- Então me explica o que a gente ta fazendo aqui, porque isso ta longe de ser um encontro, Henrique.
- Eu não quero que o que aconteceu ontem interfira na nossa relação profissional, Sophia. Acima de tudo nós dois temos uma empresa juntos e eu não quero que fique um clima estranho entre nós.
- De minha parte eu já apaguei a noite de ontem, não se preocupe.
- Não, Sophia, você não apagou e nem eu apaguei. Eu pensei em você o dia inteiro. - eu estava desesperado e ela ficou tensa. - mas eu não vou te pressionar.
- Olha, Henrique...
- Tudo o que eu te disse ontem é verdade. Eu sempre fui maluco por você, sempre. Só que eu era um babaca e sabia que nem tentar eu poderia naquela época. Seria impossível, conhecendo o seu pai como eu conheço. Você era só uma menina, filha dos meus amigos, e eu já era um homem feito. A forma como eu achei de ter pelo menos sua atenção foi te irritando. Isso me fazia achar que pelo menos a sua raiva eu tinha.
- Você tem noção do quanto você me machucou me chamando de esquisita, quatro olhos e feia?- porra ela se lembrava de tudo. Me senti um lixo.
- Desculpa... Era tudo o contrário do que eu realmente achava. Eu só queria te beijar, te abraçar, cheirar...
- Eu levei anos para levantar minha auto estima e aprender a mandar qualquer tipo de opinião sobre mim à merda. Demorei muito pra aceitar que eu era linda, porque hoje eu sei que eu sou, e eu sei o efeito que eu venho te causando desde que eu cheguei. - ca.chor.ra! Tava tão evidente assim? - Só que como você já percebeu eu mudei muito e sei lidar muito bem com o que aconteceu ontem. Foi só um beijo e isso não vai atrapalhar nossa sociedade.
- Não foi só um beijo, Sophia! Foi a porra do melhor beijo da minha vida. - ficamos em silêncio e eu virei meu copo inteiro de água de uma vez. Ela me olhava assustada. - por isso eu sei que a gente não vai esquecer tão cedo dele. Não tenta se enganar!
- Não vai acontecer de novo, Henrique. Eu te dou minha palavra. - ela era difícil.
- Eu te garanto que vou respeitar o seu tempo e é esse o objetivo desse jantar.
- Não vai mudar nada. Não precisa me esperar, se é isso que você quer dizer.
- Isso é o tempo que vai dizer.
Nosso jantar chegou e ficamos em silêncio pelo resto dele. O clima era tenso mas carregado de desejo dos dois lados. Seria duro conviver com ela sem tê-la. Ah, Sophia...
Cheguei em casa e me joguei na cama já sabendo que não dormiria bem e que amanhã eu a veria o dia inteiro desfilando na minha frente, jogando na minha cara que era pra eu desistir dela. Nunca!
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A Sociedade
RomanceSophia Robbins passou os dez últimos anos em Madrid se preparando pra assumir o lugar do seu pai nos negócios da família. Na memória de Henrique, sócio e amigo do seu pai, Sophia era aquela menina inocente que chorava sempre que ele a chamava de bra...