A Sociedade

Golpes do destino🌾

O jantar de reconciliação que Margô e mamãe organizaram foi um fiasco, se considerarmos o objetivo principal que seria a reaproximação do meu pai. Ele nem se deu ao trabalho de responder ao convite. Tive que pedir mil perdões à família do meu noivo pela grosseria.
Fora isso, foi um momento divertido para que todos me mimassem e relembrassem histórias antigas minhas e de Henrique, inclusive nossas brigas homéricas do passado, quando eu ainda era uma menina ingênua que acreditava que Henrique me detestava. Também houve uma tentativa frustada da minha cunhada investir no meu irmão. Acho que Arthur está começando a mudar com relação às mulheres. Antigamente ele não pensaria duas vezes, agora é mais prudente pra aceitar qualquer cantada.

Chegamos em casa e fui ligar para Antonela e Miguel para ver como eles estavam. Conversamos um pouco por vídeo chamada e vi que minha amiga estava se recuperando muito bem do acidente. Eu precisava ir vê-la a qualquer custo no próximo mês. Eu estava pagando todo o tratamento enquanto Miguel cuidava dela com a ajuda de uma enfermeira. Henrique assistia a um jogo quando enfim me desconectei do mundo exterior para me aconchegar em seu colo.

- Hum, pensei que iria me deixar aqui à deriva. - resmungou me apertando em seus braços.

- Olha só o ciumento!

- É pedir muito que a minha mulher me dê um pouco de atenção?

- Oh, bodeusdocéu! Acho que terei dois bebês pra disputar meu tempo. - disse apertando as bochechas dele e o cobrindo de selinhos. Ele se aconchegou no meu peito tomando cuidado com a minha barriga e começou a beijar o meu pescoço meio que fungando pra absorver o meu perfume.

- Da Malu eu jamais terei ciúmes mas ela é a única exceção. Ta ouvindo, mocinha? - disse me olhando sapeca e eu acabava ficando meio retardada nessas horas em que ele me olhava assim.

- Amo tanto vocês dois! É engraçado como eu nem vi o rostinho dela ainda mas já sou alucinada por ela. E eu não sei o porquê mas tenho a sensação que em se tratando de ciúmes a nossa pacotinha será idêntica ao papai dela.

- Você vai ser exigente que nem o papai, meu amor? - perguntou colocando o ouvido na minha barriga. Meu coração sempre falhava uma batida quando ele fazia isso. - ela disse que com certeza.

- Eu estou ferrada com vocês dois, sabia?

Dormimos agarrados curtindo o sonho da nossa família que estava começando.

Henrique

Acordei com um frio irritante pelo corpo. Sem abrir os olhos, peguei o controle do ar condicionado para regular melhor. Mas ao procurar por quem deveria estar aninhada ao meu lado e não encontrar, fui obrigado a acordar. Como assim Sophia não estava ali? Olhei o relógio ainda sonolento e percebi que eu havia abusado do sono. Eram oito e meia da manhã de um domingo. Ao lado do relógio estava um bilhetinho com a letra redondinha linda dela.

"Como você é um preguiçoso nato, decidi te deixar dormindo um pouquinho mais. Fui fazer uma caminhada na praia com a nossa Malu. Volto logo. Beijos! Te amo!"

Sorri agradecendo a Deus pelo filho da mãe sortudo que eu era. Ia me levantando pra fazer um café quando meu celular tocou e vi que era ela.

- Aposto que se cansou e quer que eu a busque de carro, sua pregui...

- Senhor, aqui é o Dr. Michael Foster, sou paramédico. Sua esposa sofreu um acidente. Um carro a atropelou quando ela atravessava a rua. Estamos levando ela para o Kindred.

Não consegui mais prestar atenção em nada do que ele falou dali por diante. As únicas palavras que martelavam o meu cérebro eram Sophia, acidente e bebê. Me levantei com as pernas fracas e somente vesti uma camisa qualquer e calcei um tênis. Não pensei em ligar para ninguém e nem sabia se daria conta de dirigir até lá. A gravidez de Sophia estava na metade e um parto de sucesso agora seria impossível. Não, nós não vamos perder a Malu. A Sophia morreria! Eu não sei se aguentaria também. Mas uma possibilidade me arrepiou mais violentamente: a de perder Sophia. Sacudi a cabeça afastando esses pensamentos apavorantes e nem vi onde estacionei meu carro. Ao dizer meu nome e o de Sophia, fui levado para uma sala onde dois médicos me receberam.