"Então vem que eu te quero aqui de novo
Então vem, me tira o sono e eu te tiro o ar
Então vem, todo tempo ainda é pouco"
-Como aconteceu? - Perguntei quando sentei no sofá e ela deitou a cabeça no meu colo. O que eu daria pra cuidar dela assim todos os dias?
-Meu avô já tinha problemas de saúde antes, ele teve um infarto uns dois anos atrás e desde então não estava muito bem... Ele foi piorando e piorando até que não conseguiu mais resistir. - Explicou calma e respirando profundamente entre as palavras. Sentia o nervosismo de longe. - Minha mãe ligou na segunda a noite dizendo que ele não tava bem e os médicos estavam dando apenas mais alguns dias pra ele...
-Aí você veio.
-Aí eu vim... Só avisei a Alice porque não queria preocupar mais ninguém, também não queria que ninguém soubesse.
-Bom, eu acabei descobrindo. - Falei com leve tom de brincadeira tentando aliviar o clima.
-Como? E como você chegou aqui? Digo, em Porto Alegre? - Perguntou levantando do meu colo e sentando no chão de frente pra mim.
-É... Eu fui até seu apartamento em Ipanema; acabei indo pro Rio pra buscar umas coisas e decidi fazer uma visita, mas aí você não tava e sua vizinha disse que você não aparecia em casa desde terça. - Menti, em partes, mas menti.
-Que fofoqueira! - Exclamou e eu ri negando com a cabeça.
-Foi quando eu liguei pra Alice e ela me contou; decidi vir te ver porque imaginei que deve ter sido difícil.
-E o meu endereço?
-Eu falei com a Sofia.
-Sofia? Sério?
-Sim... Digamos que ela não foi a pessoa mais receptiva da vida, e eu tenho a impressão de que ela sabe mais coisa que eu. - Comentei brincando e ela concordou baixando a cabeça. - Mas enfim, consegui convencer ela de que tinha vindo para o bem.
-Obrigada, de verdade! - Agradeceu segurando as minhas mãos e eu sorri segurando as emoções e os impulsos.
-O que é isso perto de quem foi de Miami ao Rio pra ver a ex doida? - Novamente tentei deixar o clima mais leve.
-Você quer comer algo? Nem perguntei, e você deve tá cansada também...
-Não quero comer nada não, tô um pouco cansada sim mas só vou descansar quando saber que você tá bem e não precisa de mais nada. - Assegurei e ela sorriu sem jeito. Fofa!
-Eu tô bem, pelo menos consegui me distrair um pouquinho... - Falou levantando e caminhando até a cozinha.
-Isabella... - Chamei me levantando também. Ela me olhou esperando que eu continuasse. - Seus pais foram no enterro? - Questionei curiosa. Queria sim saber mais sobre como foi, afinal, perder o avô já é uma coisa propriamente ruim, mas ter que olhar para aqueles que praticamente te abandonaram deve ser péssimo também.
-Sim. Minha mãe falou comigo mas meu pai fingiu que não me viu. - Explicou voltando ao trajeto pra cozinha, eu a segui.
Parece muito clichê dizer isso, mas como alguém pode negar ela? Se quando ela me olha com aqueles olhos azuis brilhantes eu já tenho vontade de encher ela de beijos, imagina ela olhando com amor pra alguém? Coisa que eu provavelmente já vi mas não lembro. Imagina ela cuidadosa do jeito que é com a familia? Talvez por isso que Sofia é tão super protetora, é um dos únicos familiares que sobrou e ela sempre se deram bem, pelo que Isabella contou em Miami. O negócio é: É impossível não se afeiçoar a Isabella, pelo menos um pouquinho. Eu não sei se sinto tudo isso porque meu coração ainda lembra dos ultimo cinco anos, apesar de eu ter esquecido, ou se é porque eu simplesmente vejo a pessoa maravilhosa que ela é.
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Memórias de um Presente ||| Romance Lésbico
RomanceDizem que a melhor parte da vida é o período do começo da faculdade até os primeiros anos pós graduação; dizem que são memórias que todo mundo gostaria de guardar. Eu também gostaria mas comigo foi diferente. Meu presente inteiro foi deletado da mi...