A VERDADEIRA NOITE

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SAMUEL

Havíamos revirado o quarto de Lucrécia. Todos os lugares. Até que me sentei no tapete e olhei para cima, havia um fundo falso na camada do teto. Falo para Guzman me dar a cadeira da escrivaninha e mesmo assim eu não alcanço. Faço cara de tédio para os dois que riam.

— Será que podem me ajudar aqui, imbecis?.- Reclamo, descendo.

— Desculpa Samu, mas é que é muito engraçado ver você ficando de ponta de pé.- Guzman diz rindo, subindo na cadeira e alcançando facilmente o fundo.

— Você teve problemas para crescer?.- Ander pergunta rindo.

— Tive problemas na altura, mas não no pinto. Pelo menos isso.- Reflito, e então volto a atenção para o suporte que Guzman abria. Sozinho, o suporte descia devagar e se virava direto para a cama. A câmera estava posicionada direto para a porta. Ergo uma sobrancelha, pensando.- Estranho.

— Muito estranho. Quem tem uma câmera no quarto?.- Ander pergunta olhando para a câmera.

—Alguém que está sendo ameaçado.- afirmo olhando para a câmera.- Ander, procure em todos os lugares papéis, fotos... Acho que Lucrécia já sabia que ia ser atacada.

Ele faz o que eu digo, então eu peço para Guzman retirar a câmera do suporte. Pego o laptop dela e uso para colocar a memória da câmera. Começo a voltar as imagens, e percebo que a câmera havia filmado nós entrando no quarto.

— É uma câmera superficial.- Digo. Olho para o teto.- Quanto Lucrécia deve ter gasto para fazer isso. É um teto falso.

— Isso é impossível.- Guzman diz, ele abre as gavetas da mesa dela.- Eu saberia.

— Você saberia se fosse casado de verdade com ela, retardado.- Ander fala de dentro do closet.

— Mesmo assim, Lucrécia não esconderia.

— Esconderia.- Eu e Ander falamos juntos.- Guzman vai abrir o teto.- ele me olha surpreso.- Estou falando sério. É um teto falso, o verdadeiro teto vai vir depois.

— E por que você não faz isso então?.- Ele me olha como um garoto emburrado.

— PORQUE NÃO TENHO ALTURA.

Depois de muita insistência, ele vai fazer o que eu digo para vermos se achávamos mais alguma coisa. Ander continuava procurando, e eu voltando às imagens da câmera, quando consigo chegar a data e o horário, me surpreendo. A mulher que entra não tinha cara de quem era uma governanta. Ela vestia um vestido verde de cetim, um casaco preto peludo e parecia estar embriagada. Nas suas mãos, havia um pedaço de vidro.

— Guzman, Ander, venham ver isto.- Chamo os, e eles vem.

— É a mãe de Valério.- Guzman fala surpreso. Uno as sobrancelhas.

— O quê?. A mãe dele morreu.- Olho para Guzman.

— Não. Pelo visto não. Eu sei quem é ela porque a já vi em uma das festas na casa de Lu. E olha como ele fica surpreso dela encontrar os dois. Essa merda não tem áudio?.- Ergo o volume do laptop. E então começamos a assistir.

A NOITE

Os fios saltavam do penteado que a mulher usava. Os saltos tocavam o chão da mansão em direção ao quarto com suavidade, a mulher não tinha nada a perder a não ser matar aquela que a tirou da fortuna. Por ela Valério se tornou um imprestável. Por ela, Sandré havia parado de a bancar. O luxo estava indo embora. Lucrécia tinha que morrer. E ao mesmo tempo, o coração daquela mulher que era mãe de Valério se apertava em não acreditar no pai de Lucrécia. Era mentira, seu filho nunca teria um caso com a própria irmã. O sufoco das indecisões, a levou quebrar um vaso do corredor e pegar sua ponta. Empurrou a porta com a mão quando destravou a maçaneta e encontrou os dois. O choque foi grande.

— Mãe?.- Valério solta o chamado pela boca, saindo de cima de Lucrécia.- Mãe. Você está viva.

Ter de fazer sua própria morte para se segurar das dívidas foi um grande passo. Não existia nenhum tratamento de câncer. Não existia nada. Ter sumido era a chance de voltar e fazer tudo acontecer como planejado.

— Então era verdade.- A mulher dos lábios pintados em uma cor marrom diz. Admira a coragem de Lucrécia de se cobrir. Valério se aproxima dela e ela só conseguia pensar no ódio que o amor podia causar.

— Valério o que está havendo?.- Pergunta a garota que está claramente bêbada. O cheiro na casa inteira refletia o que eles eram; A mulher jamais perderia tudo por conta de uma adolescente.

Intencionalmente ela avançou sobre Lucrécia, causando um alvoroço no corpo de Valério que a segurou, mais era tarde. O objeto cortante havia entrado pela clavícula da jovem que agonizava de dor na cama. Suas mãos estavam cheias de sangue, o seu corpo vira bruscamente buscando os olhos de Valério que não acreditava no que tinha visto.

— ERA PARA VOCÊ TER ME DEIXADO ACABAR COM ISTO.- O grito fez com que a veia saltasse.

— VOCÊ PERDEU COMPLETAMENTE A NOÇÃO.- Valério exclamava, enquanto ia até Lucrécia e a abraçava, começando a sentir os olhos e o peito doer de vontade chorar. O desespero tomava conta. Tudo que fez foi ligar para a ambulância e esperar aqueles dez minutos que foram o suficiente para ele deixar Lucrécia por um breve momento e tirar sua mãe completamente sem cabeça dali.

Ao voltar, colocou a mão no ferimento de Lucrécia, inundando sua mão de sangue. Os barulhos da sirene eram ouvidos. Então seu corpo, e o seu coração, pareciam estar juntos. Ele queria proteger as duas mulheres que amava. Ele queria colocar a mão na porta e provar que foi ele que fez aquilo. Ele não queria que sua mãe se desgatasse ainda mais com suas rebeldia. Ele foi um péssimo filho. Um péssimo homem. Ele merecia. Não merecia?. Ele aguardaria a absolvição na cela, enquanto o verdadeiro amor da sua vida o olharia com desprezo e medo.

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SAMUEL

— Foi por amor.- Ander diz assim que aquela parte termina.- Ele não queria decepcionar a mãe e não queria decepcionar Lucrécia.

— Ele foi um imbecil.- Guzman diz o que estava nos meus pensamentos, fazendo me balançar a cabeça positivamente.-Ele assumiu a culpa, e mesmo que esta gravação seja mostrada, claramente mostra que ele ajudou ela fugir. Ele é cúmplice.

— Se encontrássemos alguma ameaça, poderia aliviar. Valério não cometeu o ato.- Comento.- Qual nome dela, Guzman?.- Pergunto.

— Olivia.

FASCINE II & FASCINE IIIOnde histórias criam vida. Descubra agora