Parte 03

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De olhos fechados e os dois braços posicionados em frente ao rosto, eu esperava pela surra que aquele garoto iria me dar. Não havia chances de defesa, eles eram em três... aliás, eram todos contra mim. Naquele momento, as lembranças da minha infância voltaram com força total, onde eu era o alvo de piadas pelo simples fato de ser um gordinho, e até apanhava dos garotos mais velhos, o que me deixou um trauma colossal, que carrego até os dias de hoje. Uma consequência disso? Eu odeio o meu próprio corpo, mesmo após ter perdido peso.

- Ou!! Vocês tão loucos? Ele tá comigo! - Vinicius esbravejou segundos antes de eu levar o primeiro soco.

Os meninos não disseram nada, apenas se afastaram e voltaram a curtir a festa. Naquele momento, Vinicius estendeu sua mão e me ajudou a levantar do chão.

- Tá tudo bem? Aqueles babacas te machucaram? - Ele perguntou, aparentemente preocupado.

- Não, mas eu já estava preparado para levar umas porradas - Falei e nós sorrimos.

- Me desculpa Biel!

- Pelo quê cara?

- A culpa disso tudo foi minha, eu não tinha nada que te deixar sozinho aqui.

- Tudo bem, eu já tô acostumado a passar por esse tipo de coisa.

- Vamos beber algo, vem, lá no jardim podemos conversar mais a vontade!

Após dizer aquilo, Vinicius me puxou pelo braço e seguimos até o bar. Ele pegou uma bebida, já eu, um copo de refrigerante, e então seguimos para o enorme jardim daquela mansão. 

- Esse lugar é muito bonito, passa uma paz né? - Falei, admirando cada detalhe daquele lugar. 

- Sim, e o pior é que na maioria das vezes... nós donos nem valorizamos. 

- Deve ser tão fácil a vida de um garoto feito você, que teve a sorte de nascer em berço de ouro, morar em mansão, ser da classe popular do colégio e ainda por cima ser bonito. 

- Você... me acha bonito Gabriel? - Vinicius proferiu me fitando com um olhar fulminante, senti um arrepio intenso tomar conta de todo o meu corpo. 

- É...digo... Ter uma aparência que é "exigida" por essa sociedade hipócrita - Respondi completamente aflito e ele sorriu. 

- As coisas não são tão simples como você e muitos imaginam, as vezes pessoas da alta sociedade são bem mais infelizes do que os mais humildes. 

- Sei lá, mas sinto como se vocês não passassem por problemas de verdade sabe? - nós rimos - Eu por exemplo, não sou o garoto perfeito e certinho que todos imaginam. 

- Sei bem como é, também fiz coisas no passado das quais eu me arrependo. Bom, mas vamos mudar de assunto... quero falar sobre você agora. 

- So-sobre mim? - Novamente fiquei tenso, e para completar, Vinicius se aproximou ainda mais de mim. 

- Sim ué, o garoto com o sorriso mais bonito da turma. 

Não consegui responder absolutamente nada, me faltavam palavras, era como se eu tivesse perdido a voz. Meu olhar estava completamente mergulhado ao do Vini, que por sua vez também me encarava de forma insistente enquanto ia aproximando seu rosto do meu... será que eu estava delirando? Ou ele realmente ia me beijar?! Senti a mão direita do Vinicius se posicionar em minha cintura, o que acelerou ainda mais meu coração. Entretanto, de repente, o celular do Vini começou a tocar nos assustando completamente... ele se afastou. 

- Ué, não vai atender? - Perguntei ao ver ele fitando de forma intensa a tela do seu iPhone. 

- Na-não! Não é nada de mais - Ele respondeu, colocando o celular de volta no bolso. 

- Tá tudo bem? Você ficou pálido de repente... 

- É só um número desconhecido que anda me infernizando. Gabriel eu... Acho que essa bebida não me fez muito bem, você vai ficar chateado se formos embora agora? - Vinicius questionou em tom de tensão, por mais que ele tentasse disfarçar, tava na cara que aquela ligação mexeu com ele. 

- Claro que não, só tô aqui por você mesmo.. 

- Então vamos, vou te deixar em casa. 

Pov's Vinicius 

Assim que eu deixei o Gabriel em casa, nos despedimos e então segui para minha. Adentrei no imóvel completamente pilhado, subi ligeiramente as escadas que levam ao meu quarto e fui direto para o banheiro. Após molhar bastante o rosto na tentativa de me acalmar, passei a andar de um lado a outro insistentemente... O que aquela menina poderia tá querendo comigo depois de tanto tempo? Pensei em falar com meu pai porém logo desisti, afinal, eram apenas ligações. 

Gabriel 

Cheguei em casa completamente confuso, será que eu mais uma vez estava sendo paranoico ou estava mesmo rolando um clima entre mim e o Vinicius? Se aquele maldito telefone não tivesse tocado, ele iria me beijar?.. A minha cabeça estava a mil e várias teorias assombrava a minha mente. 

- Como o Vinicius pode tá flertando comigo se ele é hetero de carteirinha? - Sussurrei para mim mesmo - Sei lá, mas vai que ele é bi e nunca comentou com ninguém... Não! Claro que não, para de viajem Gabriel... um cara como o Vini nunca iria prestar atenção em um cara feito você... até mesmo se fosse bi... Ou... será que sim? 

Eram muitas perguntas sem resposta, tudo que eu mas precisava naquele momento era alguém para desabafar... Mas quem? Nem mesmo a minha melhor amiga sabia da minha orientação... o jeito era mais uma vez, guardar tudo para mim mesmo. Corri para o meu quarto, sentei diante do notebook e comecei a escrever um novo poema. Eram quase duas da manhã quando finalizei, todos aqueles acontecimentos haviam me dado bastante inspiração... mas também, havia me despertado algo ainda mais forte... a vontade de finalmente compartilhar com alguém os meus verdadeiros sentimentos. 

Chat on 

Gabriel: Dora, amanhã eu quero falar algo muito importante contigo.. 

Chat off 

Já iam dar sete da manhã quando terminei de me arrumar para o colégio, e como de costume quase não trisquei no café. Corri para o quarto, terminei de arrumar a mochila, apliquei uma seringa e então sai. 

- Ei Gabriel, qual o motivo de tanta pressa? - Minha mãe gritou da janela de casa. 

- Preciso pegar uns matérias na casa da Dora, desculpa por não avisar - Respondi no mesmo tom, enquanto atravessava a rua. 

- Tá bom, vá com Deus! 

Ao chegar na casa da Dora fui recebido gentilmente por sua mãe, entrei e então corri pro quarto dela e fechei a porta...eu precisava falar de uma vez antes que eu perdesse a coragem. 

- Olha ele aí, chegou as duas da manhã né? Isso porquê não queria ir - Dora disse debochada como sempre enquanto passava seu inseparável baton vermelho. 

- Hã? Duas da manhã? - Questionei completamente confuso. 

- Sim ué, foi esse o horário que você me mandou uma mensagem. 

- Atá... Não foi esse o horário que eu cheguei, na verdade foi bem mais cedo. 

- E então, o que você tem de tão importante para falar comigo? - Fiquei calado por alguns segundos. 

- É... é algo que eu já não suporto mais guardar somente para mim Dora - Naquele momento, por mais que eu estivesse tentando evitar... foi em vão, meus olhos se encheram de lágrimas por conta do medo da rejeição - Dora, eu sou gay! 

Restam-me as Flores (Romance Gay) Onde histórias criam vida. Descubra agora