Ali diante de mim estava a Lorena, uma mina que eu havia conhecido a uns três anos atrás... onde tudo começou. Como de costume, todos os anos nas festas juninas a minha família viaja para nossa fazenda no interior e foi lá que eu a conheci. Eu estava em fase de descobertas, os hormônios fervendo por conta da idade e durante uma festa típica da cidade, acabamos transando de forma insana no meio do mato... Resultado? A Lorena surgiu grávida um tempo depois junto ao seu pai na porta da fazenda, e o meu pai simplesmente surtou, mais até do que eu pois segundo ele aquilo poderia manchar a imagem da família. Depois de muita conversa, por ser de família bem humilde, eles acabaram aceitando bastante dinheiro para que ela tirasse aquela criança e assim podermos seguir nossas vidas normalmente.
- Me deixa em paz guria, não tô acreditando que você veio lá do interior somente pra encher o meu saco - Falei em tom firme.
- Adoro esse teu jeito brabo, me faz lembrar daquela noite quente de São João - Ela disse irônica.
- Não tem sentindo algum você surgir depois de três anos para me pedir dinheiro, não temos mas ligação alguma e... já te adianto que você deu viajem perdida! - Proferi e então dei as costas para ela, e comecei a caminhar rumo a sala de aula.
- A é Vinicius, e se eu te disser que não fiz aborto algum? E que você tem um filho um filho passando necessidade lá no interior da cidade?!
o ouvir aquilo fiquei em choque, senti o sangue fugir de meu corpo... era como se eu fosse apagar. Respirei fundo, me virei novamente e então caminhei em direção a Lorena. Quais eram as chances daquela garota tá dizendo a verdade? Será mesmo que eu tinha um filho largado no mundo sendo que eu levo uma vida bastante confortável? Aquilo mexeu de mais comigo.
- Não... não é verdade, você tá blefando! Meu pai te deu dinheiro para clinica e ainda pagou pelo silêncio de vocês, e muito bem... não tem sentindo você ter levado aquela gravidez acidental adiante, não tem!
- É claro que tem Vinicius, eu já estava na clinica quando desisti de tudo aquilo, a criança não tinha culpa alguma da nossa irresponsabilidade.
Gabriel
Eu havia acordado tão feliz naquela manhã, pela primeira vez em anos sentia uma energia radiante percorrer por minhas veias, só de imaginar que ao chegar no colégio eu iria ver o Vini, meu coração acelerava e eu sorria feito um bobo. Porém, tudo isso desmoronou quando eu cheguei lá e o vi em um canto conversando com uma garota, e segundos depois eles saíram juntos pelo portão lateral do colégio. Naquele instante senti um ódio terrível de mim mesmo por ter sido tão idiota, a Dora havia me alertado e eu não havia lhe dado ouvidos... segurei as lágrimas que já estavam prestes a cair e então corri para o banheiro.
- Como você pode ter sido tão idiota a ponto de achar que um cara feito o Vinicius iria dar bola pra você em? - Gritei para o meu reflexo no espelho, enquanto rasgava com bastante ódio aquela poesia ridícula que eu havia escrito para ele.
Em minha cabeça, eu já imaginava um romance rolando entre mim e o Vini, idealizava que essa postura dele de garoto safado era apenas um personagem para esconder o que realmente ele sentia e que tudo entre nós era o início de um amor... só que obviamente eu estava enganado e com certeza enquanto eu estava ali chorando, ele estava lá transando com uma garota em um motel qualquer. Quando escutei vozes se aproximando, corri para uma das cabines do banheiro, fechei a porta e pus uma música para tocar no fone de ouvido. Quando o sinal do primeiro horário tocou, sai da cabine, lavei o rosto e caminhei em direção a sala de aula. Como sempre, pretendia guardar os meus problemas para mim mesmo e tentar levar uma manhã normal, sem que a Dora ou alguém percebesse... porém, foi em vão.
- Nem vem sorrindo pra mim que já vi que você não tá legal - Dora proferiu assim que olhou em meus olhos.
- Ué, tá tudo bem... deixa de coisa - Respondi e então sentei ao seu lado.
- Gabriel, a essa altura da nossa amizade você acha que me engana? Diz logo, anda!
Fiquei calado por alguns, meu coração estava apertado e eu precisava realmente desabafar.
- Você... você tinha razão sobre o Vinicius - Eu disse em tom baixo.
- Eu sempre tenho razão - Ela ironizou, o que me fez rir um pouco - Sobre o quê exatamente você tá falando?
- Sobre ele só querer diversão e tals... tenho certeza que nesse exato momento ele tá filando aula pois tá com uma menina em um motel... Vi ele saindo daqui com ela pela lateral.
- Atá, e daí você já idealizou na sua cabeça que ele foi para um motel? Gabriel, é incrível e chega a ser engraçado esse potencial que você tem de criar paranoias em sua cabeça e acreditar cegamente nelas. Você sabe o que eu penso do Vini, mas isso não quer dizer nada amigo - Ela sorriu.
- A não? Dorinha, o que dois adolescentes fazem quando matam aula e saem escondidos? Por um acaso você acha que eles foram a uma igreja rezar por essa humanidade perdida?
- Também não é pra tanto... Mas sei lá, tem possibilidades deles terem ido a um motel? Tem sim, mas daí você ter certeza de que isso tá realmente acontecendo já é muito diferente.
- Eu prefiro seguir a minha intuição, é melhor do que sofrer futuramente...
Vinicius
Em um banco de praça, a Lorena me mostrava fotos da criança que supostamente era o meu filho. Aquilo estava me deixando tão mal, não era justo que um filho meu vivesse tão humildemente levando em conta a minha condição financeira. Eu estava tão abalado e emocionado, que eu encontrava naquele bebê das imagens diversas características minhas... o que me assustava, mas que de certa forma mexia comigo positivamente também.
- Eu... eu quero conhecer essa criança Lorena - Falei por impulso.
- Não! O meu filho não precisa de um pai que me pagou para que eu o matasse! - Ela proferiu firmemente, me deixando ainda pior.
- Cara, nós só tínhamos quinze anos... Uma vida inteira pela frente, me assustou muito naquela época a ideia de ser pai, e também a minha família jamais iria permitir que essa criança viesse ao mundo.
- Atá e agora ser pai não te assusta?
- Claro, e muito! Só que é diferente... agora essa criança já é real e eu tenho direito de conhecer ela, fazer o DNA e...
- Tá explicado, você quer comprovar se o filho é realmente seu né? Você não mudou nada Vinicius, continua o galinha que eu conheci. Pois fique você sabendo que nunca... nunca você irá conhecer essa criança - Ela se levantou da cadeira após esbravejar - Ah, e eu quero quinhentos mil depositado nessa conta o mais rápido possível Vinicius, caso contrário irei continuar te infernizando... e seu papaizinho vai ficar sabendo que ele já é vovô!
Aquela conversa havia sugado todas as minhas energias, eu não fazia ideia do que fazer ou de como agir daqui pra frente... Tava claro que ela queria apenas me fazer uma pressão psicológica para conseguir dinheiro, e o pior é que ela havia conseguido me deixar mal. Cheguei no colégio por volta de dez horas, já no horário do intervalo. Enquanto eu caminhava pelo pátio, avistei o Gabriel sentado nas escadas com a cabeça recostada na parede e fones de ouvido... senti uma necessidade tão grande de me aproximar dele, e assim eu fiz. Segui em passos ligeiros até ele, e então, involuntariamente o abracei com todas as minhas forças.
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Restam-me as Flores (Romance Gay)
FanfictionA vida de Gabriel muda completamente quando um dos garotos mais popular do colégio aceita fazer parte de um plano para seduzi-lo. (Romance Gay) © Todos os direitos reservados.