Familiaridade

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Os gritos de fúria e tristeza ecoavam na cabeça de Midoriya, as vezes distante e vagos, outras vezes tão altos e próximos que faziam o cérebro latejar. As mãos firmes e geladas sacudiam inutilmente seu corpo pesado, a voz começando a ficar cada vez mais clara.

— Por que?! — O homem grunhiu em meio a soluços — Eu te dei de tudo! E você... você... você me traiu!

Midoriya começou a rir, não sabia exatamente o motivo, estava meio dopado, mas achava a situação cômica.

— Ele está rindo, Shigaraki. — A voz melodiosa de um garota falou, pela sua entonação ela parecia se divertir.

— Vou te esfolar vivo. — O homem que o agarrava ameaçou, cegado pelo ódio.

— Nah, quanta bobagem, todos sabemos que você não vai fazer isso. — A voz de outro homem falou, esse parecia incomodado — E coloque uma roupa nele, seu doente.

— Eu gosto de ver o corpo do Izuku assim. — A garota protestou, infeliz.

— Olhem pro outro lado, ele é meu! — O mesmo homem que chorava a poucos segundos gritou, com raiva.

— Chamasse quando tivesse vestido ele primeiro, as vezes esqueço o quanto você é doente e nojento. — o homem incomodado bufou.

— Dabi quer morrer. — A garota gargalhou.

— Cale a boca, Toga.

— Ele acordou. — Dabi interrompeu Tomura para apontar para Midoriya, que estava com os olhos abertos e uma expressão confusa.

— Onde estou? — Murmurou sentindo sua cabeça girar.

— Você voltou pra casa, Deku! — Toga riu animada — Eu senti sua falta.

— Casa? — Midoriya repetiu confuso, seus olhos focando e desfocando.

— Nossa, você exagerou nas drogas dessa vez. — Dabi resmungou para Shigaraki — O garoto sempre obedece, não precisava dopar ele assim.

— O que você sabe?! — Tomura levantou a voz irritado — Está vendo essa marca aqui? — apontou para um chupão próximo das partes íntimas de Midoriya — Não fui eu quem fez! Esse desgraçado me traiu! Eu vou cortar a língua daquele Bakugou! Argh!

— Achei que estava óbvio que Izuku não sentia nada por você. — Dabi desdenhou — Usar drogas para que ele aproveite o sexo de vocês não vai mudar nada.

— Saia daqui! Saia antes que eu te mate! — Shigaraki rugiu.

Enquanto os dois discutiam, Toga se aproximou de Midoriya que estava acorrentado na cama. Ela se sentou ao lado e começou a tagarelar sobre algum assassinato aleatório cheio de sangue. Midoriya sentia a familiaridade do ambiente, nos últimos anos passou exatamente assim. Até a vergonha de estar nu na frente de três pessoas não existia mais, era provável que eles conhecessem mais seu corpo que ele próprio.

— Estou com frio. — Midoriya reclamou, interrompendo a briga dos homens e a tagarelice de Toga.

— Tadinho, Tomura é um bruto mesmo. — A garota riu baixinho — Seu animal, estamos no inverno!

— Vou pegar roupas novas. — Shigaraki amoleceu na hora e saiu aos tropeços da sala escura e úmida.

— Aqui. — Dabi tirou seu casaco e cobriu o corpo pálido com cuidado.

— Shigaraki vai ficar com ciúmes... — Toga avisou com um sorriso.

— Quando ele não fica? — Dabi deu de ombros — Me da agonia ver Midoriya sempre pelado.

—  Pode apostar que o mais desconfortável aqui sou eu. — Midoriya refutou amargamente.

— Ei, Izuku, quer vomitar? Deve ter muito sangue preso na sua garganta. — Toga sugeriu animadamente.

— Se alguém me ajudar. — Midoriya respondeu indiferente.

Toga correu pegar uma bacia, então enfiou seus dedos na boca de Midoriya. Não demorou para o garoto se curvar para o lado e vomitar, novamente desmaiando.

— Oh, tadinho. — Toga murmurou suavemente.

— Quem vê acha que você se importa. — Dabi desdenhou — Vamos logo, ou o chefe vai nos torturar outra vez.

— A menina de chifre foi levada para o quarto dele? — Toga perguntou se afastando com Dabi.

— Sim, mas parece que ela não sabe usar o poder. — Dabi contou — Talvez ele transfira para outra pessoa, eu chuto que vai ser para o Midoriya.

— Oh? Por que? — Toga perguntou animada.

— Não acho que o chefe manteria alguém inútil, se ele mandou trancar o garoto é por algum motivo. E os reféns continuam intactos, o que supõe que as negociações continuam. — Dabi explicou pacientemente.

— As vezes eu esqueço que você é inteligente. — Toga riu, achando que tudo fazia sentido.

— Vou levar isso como um elogio. — retrucou o vilão, sumindo pela porta.

...

Bakugou estava sentado na sala, ouvindo uma música alta no seu fone de ouvido. Queria parar de escutar discussões e acusações ridículas, por isso optou por se fazer de surdo. Nesse momento, a jornalista na televisão começou a falar algo e a foto de Midoriya apareceu. Bakugou tirou os fones rápido, para ouvir as notícias.

— ... Não se sabe ao certo seus motivos ou o que o levou a desistir de ser herói. Muitas especulações surgiram nos últimos dias, o que sabemos no momento é que o jovem Midoriya Izuku e Eri estão desaparecidos. Recebemos outra notícia hoje de manhã, um grupo de jovens esbarrou em uma garota, que pelas gravações foi identificada como a vilã Toga. O grupo perguntou sobre o aluno da U.A. a resposta foi surpreendente. Pelas palavras dela: "Sequestrar? O Izuku? (Risos) Está brincando comigo? Izuku é e sempre será parte de nós, são vocês que estão querendo sequestra-lo. Pobre chefe, ter que ver seu precioso filho nas mãos desses heróis hipócritas." O vídeo foi encontrado por um patrulheiros junto do corpo de três adolescentes. Ainda não pode ser afirmado nada, mas o público considera Midoriya Izuku um traidor e possível filho de sangue de AFO, chefe dos vilões. Aguardamos esclarecimentos dos heróis, mas ate o momento nada foi comentado...

Bakugou não falou nada. Dizer que não pensou na possibilidade seria mentira, já que AFO é o único doentio suficiente para fazer o próprio filho de escravo sexual, além de tortura-lo psicologicamente.

— Não acredito! Izuku não é o filho de um vilão! Meu garoto não! — Mirio gritou no fundo, assustando Bakugou.

— De uma coisa eu tenho certeza, Deku nunca machucaria um inocente. — Bakugou não concordou nem discordou, se colocando como um observador.

— Você parece bem calmo para uma notícia tão chocante. — Nejire observou, entrando na sala também.

— Diferente de você, não acredito em qualquer merda que ouço. — Bakugou retrucou e saiu, preferindo distância da menina.

— Vai demorar muito para ele me perdoar? — Nejire suspirou triste.

— Talvez, você foi estúpida. — Mirio criticou sem dó, um pouco ressentido também — Mas, tudo bem. Logo vamos todos se encontrar com Endeavor, a viagem pode fazer bem a ele.

— Quando reencontrar Midoriya preciso me desculpar. — Nejire avaliou sua posição — Se eu tivesse confiado nele, os rumores não se espalhariam. Foi eu quem fez essa imagem de traidor surgir.

— Você apenas chorou, os outros heróis que interpretaram assim e espalharam rumores. — Mirio refutou — Mas, sim. Você precisa se desculpar por duvidar dele.

— Farei isso. — Nejire concordou, positiva que achariam o esconderijo dos vilões.

Não me deixeOnde histórias criam vida. Descubra agora