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ㅡ E aí? Já podemos ir? ㅡ Félix perguntou se aproximando com a alça da mochila caindo de um dos ombros.

ㅡ Eu só estou fechando aqui ㅡ Respondi terminando de fechar as portas da loja. Ele se encostou na parede e tirou o celular do bolso, conferindo alguma coisa. ㅡ Você tirou foto das assinaturas?

ㅡ Sim. Eu voltei de tarde na escola e por sorte nossa sala estava aberta ㅡ Ele pegou a mochila e tirou um moletom de dentro, e o entregou para mim. Troquei o blaser do uniforme pela blusa que ele me deu e fiz um coque no cabelo, usando um boné para prender. ㅡ Trouxe tudo?

ㅡ As lanternas, luvas, câmera instantânea e um lanchinho caso você fique com fome mais tarde.

ㅡ Você é um anjo, Félix.

ㅡ Eu sei. Vamos?

ㅡ Vamos.

∽∽

ㅡ Por que eu sinto que essa foi a pior ideia que você já teve?

ㅡ Cala a boca, você concordou ㅡ Respondi, tentando me equilibrar em seus ombros e pular o portão da escola ㅡ Aliás, a minha mãe vai continuar estressada só por causa dessa classificação boba e talvez, ela nunca mais seja boazinha comigo.

ㅡ E ela já foi boazinha alguma vez? ㅡ Félix logo pulou o portão também e ficou ao meu lado, esperando eu dizer alguma coisa ㅡ E então?

ㅡ Não pense demais, senão você vai querer voltar ㅡ Falei, fazendo um sinal pra ele me seguir.

Atravessamos o pátio da entrada e subimos os degraus da fachada principal. Como as portas estavam trancadas, demos a volta e seguimos pela escadaria de emergência. Quando Félix foi até a escola de tarde, deixou uma das janelas do corredor aberta e não foi difícil entrar por ali. Chegar até o pátio foi moleza, difícil mesmo foi entrar na sala dos professores. Estava trancada.

ㅡ Não acredito que eu esqueci disso ㅡ Bati na própria testa ㅡ E agora?

O garoto colocou a mão no bolso do moletom amarelo e tirou de lá um molho de chaves.

ㅡ Bom garoto. Da onde você roubou isso?

ㅡ Uma vez eu pedi emprestado pra um dos seguranças quando esqueci o meu uniforme na mochila e o professor de Educação Física trancou a sala de propósito. Mas aí o cara foi demitido e eu fiquei com as chaves.

ㅡ Ah… Tá mas, qual delas é a certa?

ㅡ E você acha que eu sei?

ㅡ Merda ㅡ Fechei os olhos com força já imaginando o tempo que seria poupado se tivéssemos pensado nesse detalhe mais cedo.

Segurei a lanterna enquanto ele testava todas as chaves na porta. Era um por cento da esperança se esvaindo a cada chave que não abria a fechadura. Quando cheguei a pensar que nenhuma delas seria a certa, vimos uma luz no final do corredor. O guarda noturno.

Mais que depressa, Félix empurrou a porta e entramos na sala, ficando um de cada lado. O loiro botou o indicador sobre os lábios, pedindo pra ficar em silêncio. Eu não percebi no momento, mas assim que o som dos passos começou a aumentar gradativamente, cheguei a segurar a respiração. O guarda iluminou o interior da sala e murmurou algo como "Jurava que tinha escutado algo". Logo ele saiu daquele corredor e pudemos suspirar aliviados. 

ㅡ Se ele pegar a gente aqui, nem eu, nem você vai poder fazer prova nenhuma pra concorrer à bolsa de faculdade nenhuma.

ㅡ Eu já fiz muita coisa errada nessa escola e não vai ser dessa vez que eu vou ser pega, ainda mais na sala dos professores.

Ele balançou a cabeça, concordando.

ㅡ Eu vou procurar nos armários, você olha nas gavetas ㅡ O mais baixo disse indo direto para a lateral da sala onde ficavam os armários coloridos, cada um com o nome de seu respectivo dono.

Eu andei até a mesa do professor de matemática, olhando alguns cadernos e blocos de folhas ao lado do computador. Abri as gavetas, procurando pelos testes da minha turma. O que mais tinha ali eram materiais confiscados, como celulares, cigarros e estojos de maquiagem. Encontrei uma carteira e me perguntei por que o professor teria confiscado dinheiro de alguém. Como já estava correndo o risco de me meter numa encrenca, não queria outra e então foquei no meu maior objetivo. Depois de revirar as duas primeiras gavetas, achei uma pasta grossa cheia de folhas de papel e marcações em grifa texto.

ㅡ Encontrei ㅡ Falei baixo o suficiente pra que Félix escutasse. Ele foi até onde eu estava e se agachou ao meu lado usando a própria lanterna para trazer mais iluminação até os papéis já que eu tinha as mãos ocupadas.

ㅡ Tem certeza que são esses?

ㅡ Uhum ㅡ Concordei enquanto conferia os primeiros nomes na pasta. O garoto me ajudou a conferir os gabaritos. Olhamos um por um, duas vezes. Todos estavam lá, exceto o de Minho. ㅡ Tem alguma coisa errada. Por que o teste do aluno que tirou a maior nota não está aqui?

O loiro deu de ombros e coçou a nuca.

ㅡ Eu não sei… ㅡ Ele respondeu.

ㅡ Por que o professor esconderia a prova dele?

ㅡ Será que ele não usou como base pra corrigir as outras?

ㅡ Não faz sentido, ele tem o próprio gabarito com as questões certas. Por que será?

ㅡ Bem, a única coisa que descobrimos é que a prova do Minho não está aqui. Mas o que isso significa?

ㅡ Eu não faço ideia.

ㅡ Hum… ㅡ Félix murmurou algo, conferindo novamente os testes ㅡ Você errou alguma questão quando foi passar pro gabarito?

ㅡ Não que eu me lembre. Por quê?

ㅡ Tem uma questão rasurada com corretivo. ㅡ Ele mostrou ㅡ Alguma chance de alguém ter feito isso de propósito?

ㅡ Só pra que eu não tirasse a maior nota e ficasse em segundo?

ㅡ Sim. Acha que pode ter sido... O professor?

ㅡ Não. Ele não faria isso, mas algum aluno fez. E o Minho com certeza sabe de algo. Vou falar com ele amanhã ㅡ Respondi juntando as folhas e guardando de volta na pasta.

ㅡ E agora? O que eu vou fazer? ㅡ Félix abraçou os próprios joelhos e abaixou a cabeça ㅡ Eu fiquei em terceiro lugar mesmo assim, mas não vou poder concorrer à bolsa pra Universidade de Seul.

ㅡ Não se preocupe tá bem? Nós vamos dar um jeito de provar que o Minho está errado.

𝐀𝐩𝐩𝐞𝐚𝐫𝐚𝐧𝐜𝐞𝐬 ❥ 𝐋𝐞𝐞 𝐌𝐢𝐧𝐡𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora