Insane - l.s

0.1 - H.S.

A sala branca com móveis em tons de bege continuava impecável, como sempre. A mulher de óculos de grau estava sentada em sua poltrona com suas pernas cruzadas, me aguardando.

Ela me indicou com a mão o enorme sofá e a outra poltrona semelhante a sua, para que eu escolhesse onde eu ficaria mais confortável para falar por mais de 1 hora sobre minha última semana.

- Como vai Harry? - murmurei um "bem" tentando ser o mais simpático possível enquanto me sentava na poltrona - Me diga, como foi sua semana?

- Foi a mesma coisa de sempre, seria um tédio se eu repetisse tudo novamente - tentei fazer com que ela puxasse algum outro assunto para que o tempo passasse rápido, mas ela continuava me encarando aguardando algo diferente. Depois de um suspiro e uma olhada no teto, continuei - Hoje foi um dia como qualquer outro, o trabalho foi a mesma coisa chata de sempre, o orfanato continua igual, ninguém novo, ninguém foi adotado. - parei um pouco pensando o que dizer - Amanhã é meu aniversário, enfim meus 18 anos, Liam prometeu ir comigo procurar apartamentos mais baratos, meu trabalho na cafeteria não é grande coisa, mas dá pra me sustentar em um pequeno apartamento, ainda mais pelo fato de eu ter dinheiro suficiente pra pagar uns 3 meses adiantados, esse tempo todo guardei dinheiro, usava só vez ou outra pra comprar alguma coisa que sentia vontade.

- Isso é bom, você não é o tipo de adolescente que gasta tudo em festas e coisas inúteis. - ela deu um pequeno sorriso, ela está... orgulhosa? Ela nunca esboçou nenhuma reação em todos os anos que estive aqui - O que você espera com essa chegada dos seus 18 anos?

- Eu já estava doido pra ser independente, apesar de trabalhar e ter meu próprio dinheiro e carteira de motorista, nunca precisei comprar comida, pagar aluguel, me preocupar se eu teria água ou luz no outro dia, pra algumas pessoas isso é maravilhoso, mas acho que o fato de você ter sua própria casa, onde você faz as regras, compra sua propria comida e paga suas próprias contas é excitante, fora que sempre tenho que dar satisfação de onde eu vou e que horas vou chegar, essa parte é realmente um saco. - revirei os olhos e ela deu uma pequena risada, que logo se desfez e um suspiro pesado deixou a sala silenciosa por alguns instantes.

- Harry... Essa consulta será diferente, principalmente para você - seu olhar mudou um pouco, parecia preocupada - Com os seus 18 anos, terei de fazer o que sempre estive designada a fazer... - ela se ajeitou na poltrona se inclinando um pouco para frente esfregando as mãos, parecia aflita.

- Como assim? Você é a psicóloga do orfanato. Sua tarefa é ouvir e nos ajudar caso tenhamos um problema... - eu já estava ficando agoniado com sua postura, pela primeira vez em todas as consultas ela se levantou e rodeou a própria poltrona - Você está me assustando Sra Margareth, o que está acontecendo?

- Harry, a 18 anos você foi deixado para nós, como havíamos dito para você, mas você não estava sozinho. Nós escondemos algumas informações de você, a pedido de sua mãe... - minha mãe?

- Minha mãe está viva? Vocês não tinham o direito de me esconder essa informação! - me levantei já com lágrimas nos olhos.

- Não, Harry... Infelizmente ela não está viva. Sente-se por favor, e se acalme. Eu vou te contar tudo, eu prometo.

- Sra Margareth por favor, eu não aguento tanta pressão, a senhora sabe. Me diz logo o que aconteceu, por favor! - me sentei de novo quando senti minhas pernas fraquejar, enquanto algumas lágrimas teimosas escorriam.

- A 18 anos uma mulher, que pra mim era uma criança ainda, nos procurou pedindo ajuda. Ela te carregava nos braços e chorava muito. Seu nome era Anne Cox. Ela nos contou sua história, ela engravidou nova, de um homem muito perigoso, disse que ele era de Londres mas veio passar um tempo em Holmes Chapel. Ela não sabia o perigo que estava correndo, nem quem aquele homem era de verdade, e antes de descobrir que estava grávida, ele contou tudo a ela, na esperança que ela fosse aceitar fugir com ele, e por mais que se amassem de verdade ela não quis fugir de imediato, quis fazer tudo certo. Ela queria terminar o colégio e tentaria entrar em uma faculdade de Londres e iria viajar com a permissão dos pais, Anne queria mudar seu pai de todas as maneiras, fazer com que ele mudasse de vida o mais rápido possível pra então terem juntos uma família, ela só não esperava que já estivesse grávida de você.

A essa altura eu já não segurava mais as lágrimas, isso é muito insano! Meu peito ardia e minha respiração estava falha, eu estava tendo uma crise. Sra Margareth foi até um dos armários de sua sala e pegou uma pequena caixa de madeira, colocou sobre meu colo e se sentou na mesinha de centro na minha frente, me olhando preocupada.

- Harry, respira por favor, você precisa ser forte! Eu não estaria te contando tudo isso agora, se eu soubesse que você não estaria preparado, mas eu sei que você está. É muita coisa pra digerir, se você quiser que eu continue depois não tem nenhum problema! - ela tirou meus cachos do meu rosto e colocou atrás das minhas orelhas.

- Por favor, continue... Eu quero saber tudo agora - minha voz saiu falha, mas ela entendeu assim mesmo.

- Ela disse que seguiria com o plano, iria esperar completar 18 anos, e viajaria até seu pai, contaria pra ele e os dois viriam te buscar. Mas... - ela engoliu em seco, eu percebi que essa seria a pior parte de toda essa história louca - Ela chegou em Londres e encontrou seu pai, confessou tudo e ele ficou mais do que feliz, só não entendeu o porque de ela ter escondido seu próprio filho. Eles marcaram de ir até um restaurante para conversar sobre a vinda a Holmes Chapel pra te buscar, mas no caminho... Alguém tentou roubar seu pai, e o mesmo reagiu pensando que o homem estaria sozinho, mas não estava...

- Os dois estão mortos? - perguntei, visto que ela não conseguia continuar a história - Por favor Sra Margareth, eu preciso saber.

- Eles foram sequestrados - ela parecia obrigada a falar tudo aquilo, minha mão automaticamente foi pra minha boca - Nunca conseguiram encontrar os corpos, um dos amigos de seu pai nos procurou para informar o ocorrido, eles estão desaparecidos até hoje. Essa caixa chegou pra gente a uns 4 anos, junto com uma carta, não tinha remetente, apenas "Em agradecimento, L.T." - olhei para a pequena caixa em meu colo, a madeira era escura e um desenho delicado de uma flor de lótus estava na tampa - Nunca a abrimos, pois na carta dizia que ninguém além de Harry Edward Styles deveria abri-la, esse é o seu nome completo, o nome que sua mãe escolheu para você.

- E-Eu não sei... Não sei se quero abrir isso - disse sincero, as lágrimas ainda escorriam e minhas mãos e pernas estavam trêmulas - Eu não sei se quero fazer parte disso, se quero saber mais.

- Harry a escolha é toda sua, essa caixa é sua, você já é um garoto maduro, tinha seu futuro todo planejado, e se quiser seguir com isso não tem nada de errado, você não é obrigado a nada, certo? - ela perguntou limpando meu rosto, e eu apenas concordei com a cabeça, me forçando a parar de chorar.

- Eu já posso ir pro meu quarto? Eu preciso mesmo descansar. - perguntei, tentando mostrar que eu estava bem.

- Antes eu quero que você tome isso - ela se levantou e pegou um comprimido na grande caixa de remédios, pegou um copo com água e me entregou - É apenas um calmante, o mais fraco que tem aqui, somente pra você descansar melhor.

Eu sorri e tomei o comprimido, encarei a caixa de madeira antes de pegá-la e sair da sala, sem dizer nada. Passei pelo jardim e adentrei o orfanato, subi a enorme escada de madeira velha, indo pro meu quarto que era quase no final do corredor. Não tinham mais tantas crianças no orfanato, no final do ano passado foram feitas bastantes adoções, então não tinhamos com quem dividir tantos quartos. Alguns ficavam sozinhos, outros ainda dormiam juntos por medo ou costume, e eu dividia meu quarto com Liam e Niall.

Assim que entrei, os olhares curiosos dos dois se direcionaram rapidamente a mim, quando os encarei não consegui me segurar e desabei.