Vinho barato e travesseiro humano

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Naquela madrugada, Taehyung levantou desesperado da cama enquanto buscava o notebook no meio das nossas roupas jogadas na poltrona. Durante o processo, eu também acabei despertando com o coração meio acelerado.

- O que você tá fazendo? – perguntei ainda sonolento e tentando acalmar meus batimentos cardíacos.

- Estou procurando meu notebook.

- Pra que?

- Eu tive um sonho e acordei com várias ideias para o livro - vi Taehyung vestir uma cueca e então pegar o notebook nos braços. Ele me deu um beijinho na bochecha antes de sair. – Vou estar na sala escrevendo.

Depois que ele deixou o quarto, eu ainda tentei dormir novamente. É claro que eu poderia, afinal de contas passei vinte e três anos da minha vida dormindo sozinho, porém, depois de um ano com Taehyung, do mesmo jeito que ele parecia conseguir dormir somente quando abraçava alguma coisa – desde ursos até o meu corpo -, estava óbvio para mim que eu só conseguiria dormir com os braços dele me segurando com força.

- Que foi bebê? – ele me olhou rápido e logo voltou a digitar frenético no notebook. Taehyung costumava mesmo ser assim, as vezes ele tinha lapsos de ideias e não importa o horário, ele sempre iria desenvolver.

Alguns meses atrás, no ano novo, ele não brindou a passagem de ano pois tinha tido um desenrolar incrível para uma de suas cenas.

- Perdi o sono – menti, deitando do outro lado do sofá.

- Desculpa, não queria ter te acordado – senti a mão de Taehyung acariciar minha coxa e neguei fraquinho.

- Tudo bem.

- Bem, mas já que você acordou... – olhei para ele e o vi me lançar um sorrisinho fofo. Bufei.

- Você só me usa né.

- Vai lá Jeonggukie, ninguém mandou você tomar meu vinho todo.

- Eu estava estressado – tentei justificar e ele riu.

- E agora eu estou inspirado. Você sabe como eu adoro vinho barato.

- Urgh! Só pra constar – me levantei a contragosto e comecei a vestir um casaco pendurado ao lado da porta. – Os vinhos que você compra são horríveis.

- E mesmo assim você to-

Saí antes que Taehyung terminasse de responder e com uns trocados dentro do bolso do casaco fui até a conveniência 24 horas no fim da rua.

Taehyung e às vezes, eu, costumávamos ir muito ali de madrugada, por isso quando entrei na loja, Yoongi – o funcionário da noite já me lançou um sorriso.

Era uma coisa que fazíamos.

Comprávamos qualquer vinho doce demais e alguns salgadinhos, para depois irmos assistir televisão até às 06:00 da manhã. Taehyung tinha muita insônia por conta do estresse em seu novo trabalho, e eu estava muito ansioso pelo projeto ao qual estava trabalhando após terminar a faculdade. Muitas vezes o sono nos abandonava, e além desta solução, apenas deitávamos juntos em sua cama e ficávamos quietinhos até o primeiro feixe de sol passar pelas cortinas.

Era bom.

Era uma coisa nossa.

_

- Puta merda, isso é tão gostoso – Taehyung murmurou de boca cheia após enfiar alguns doritos na boca.

- De nada.

- Você é um anjinho, Jeongguk.

- Anjinho né... olha só, se você não deixar a Joy e o Tyler juntos no final acabou tudo entre a gente.

Taehyung riu alto e voltou a escrever.

Não sei em qual ponto da madrugada eu dormi. Talvez depois de comer todo o salgadinho e beber mais da metade do vinho, talvez depois de tentar espiar o que Taehyung estava escrevendo e ele me dar um tapa. Provavelmente depois que ele me deixou deitar no peito dele e fez cafuné em mim enquanto digitava com uma mão só.

- Jeonggukie... Eu já terminei, vamos dormir na cama?

- Não Tae – me virei para o outro lado do sofá. – Eu já vou ter que acordar mesmo daqui a pouco. Pode ir deitar lá.

Escutei quando Taehyung se afastou, e eu acabei me aconchegando mais contra o estofado. Já estava quase dormindo novamente quando senti ele deitando atrás de mim com um cobertor.

- O que você tá fazendo? – resmunguei, mas o meu eu sonolento acabou puxando-o mais contra mim.

- Hm. Estou deitando com o meu travesseiro humano.

Ri sem forças.

- Você é idiota.

- Eu também te amo.

Não importa quantas vezes ele já tenha me dito isso. Meu peito sempre vai ficar quentinho ao ouvir essas três palavras. 

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