Sina

Entre beijos e filmes

Aqueles dias eram os melhores.

Às vezes acontecia na quarta após nossa noite especial, algumas vezes no sábado, outras no domingo. Muitas, Taehyung apenas chegava em um dia qualquer, como hoje, quinta-feira. Usava a minha chave reserva e invadia minha cama enquanto eu tomava banho.

Quando eu saía, estava feliz demais em vê-lo para reclamar do meu cansaço. Taehyung sorria daquele jeito quadradinho e levantava o cobertor para que eu me encaixasse ali. E eu o fazia, sempre. Passava meu braço pela cintura dele e esfregava meu rosto no seu peito cheirosinho. Ele sempre aparecia com uma lista enorme de filmes, sempre clássicos pois Taehyung os adorava. Assistíamos psicose, laranja mecânica, Hannibal e então Sr. Doguinho entrava debaixo do cobertor com a gente.

Taehyung ria e me beijava no rosto e então eu o beijava na boca.

E trocávamos mais beijos doces, alguns quentes e outros em que ele agarrava minha coxa e apertava. Depois se separava e voltava a prestar atenção no filme, como se não tivesse me provocado. Ele ria da minha cara embasbacada e selava o canto da minha boca.

- Obrigado.

Ele me olhou confuso, enquanto Hannibal cozinhava alguma carne humana na tela, enquanto Sr. Doguinho se esfregava nas minhas costas, enquanto uma chuvinha gostosa caía do lado de fora e enquanto o mundo girava.

As pessoas andavam, os carros buzinavam, os bares estavam cheios e enquanto cada um seguia a sua vida, eu parava a minha para fitar os olhos dele.

Um aperto estranhamente delicioso atiçou no meu peito. Por semanas eu tenho sentido. Normalmente quando ele sussurra um "eu gosto tanto de você" no meu ouvido. Na maioria das vezes quando estou andando na rua e encontro alguma coisa que me faça lembrar dele, como um cachorro quente, uma boina, um quadro renascentista. Ou o cheiro de lavanda enquanto caminho pela praça até o metrô. Ultimamente muitas coisas têm me lembrado Taehyung, e a cada dia esse sentimento me sufoca mais.

É como estar com a bexiga cheia e precisar liberar, mas não ter um lugar.

Eu tinha o lugar mas não carregava a coragem.

- Obrigado pelo que?

- Por sabe... ser você... - eu só queria que ele entendesse as entrelinhas.

Taehyung sorriu e colocou o notebook para fora das nossas pernas, em seguida virou de lado para mim, afagando meu cabelo. O fato de Taehyung saber todos os meus pontos fracos ainda me assustava, mas eu estava tentando manter foco em como os olhos dele pareciam sempre apaixonados quando fixos em mim.

- De nada.

- Sério - disse fraquinho e o senti beijar meu lábio inferior com cuidado. O aperto no peito fez companhia para o embrulho no estômago. Suspirei. - Tae... Tem uma coisa que está me incomodando há um tempo já.

- O que é?

- Eu... - droga, eu estava tão nervoso! - Sabe, é meio difícil para mim falar essas coisas porque eu... Bem, acho que eu nunca fiz isso antes e... ah! Esquece.

Taehyung me deu mais um beijo e sorriu.

- Você é tão bobo Jeon... - como? Eu já estava abrindo a boca para protestar, mas ele foi mais rápido - Eu também te amo.

Naquela noite eu o abracei forte, sorrindo como bobo. Era bom. Reciprocidade era um sentimento gostoso. Acho que eu já tinha noção dos meus sentimentos há um tempo, talvez quando eu me derramei em lágrimas após ficar bêbado e ele continuou comigo, pois quando uma pessoa fica contigo no seu pior... É impossível não se apaixonar. Não me canso de dizer o quanto ele é perfeito para mim, como de algum jeito ele sempre me completa.

Taehyung é fácil e eu sou difícil. Ele sente e fala enquanto eu prefiro sentir e demonstrar. Por isso, naquela noite eu lhe aconcheguei no meu corpo, do jeito que ele sempre pede. Ficamos quietinhos apesar da bagunça na qual o meu coração se encontrava. Taehyung respirava no meu pescoço e eu acariciava suas costas.

A chuva ainda estava caindo fraca, Sr. Doguinho roncava baixinho. As pessoas ainda andavam, os carros buzinavam, os bares estavam lotados e a cidade estava em movimento.

Tudo seguia em frente enquanto eu e ele estávamos parados, aproveitando o nosso momento. Foi quando eu sorri e me afastei um pouco para olhá-lo nos olhos.

- Eu te amo.

E eu amava muito.