Como se não houvesse amanhã

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um dos meus capítulo preferidos...

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O inverno anterior ao nosso aniversário de três anos juntos foi o pior de todos.

A primeira vez em que senti como se todo o meu peito estivesse apertado, e a minha garganta fechando foi quando os meus pais morreram, e eu tinha apenas dez anos de idade. Ainda lembro de estar jogando videogame quando minha avó recebeu uma ligação. Lembro dos murmúrios e do choro baixinho dela quando eu larguei o controle e fui abraça-la sentada na porta de entrada. Eu era uma criança, mas eu sabia o que estava acontecendo. Eles tinham ido embora para sempre, e mesmo assim, pelas próximas duas semanas eu os esperei na entrada de casa.

A segunda vez aconteceu durante o inverno. E de novo, não foi uma coisa prevista. Não pude controlar e nem esperar. Só... Aconteceu.

Estava tudo normal, como sempre. Naquela manhã o celular de Taehyung despertou vinte minutos mais cedo do que o previsto, então com o rosto sonolento e vermelhinho por ter apoiado no meu peito a noite toda, ele me abraçou. E nós ficamos assim. Taehyung fazia carinhos singelos no meu braço enquanto eu cochilava de novo, e Deus, se eu soubesse o que aconteceria depois eu o teria beijado até meus lábios arderem.

O que aconteceu depois foi o que acontece todos os dias de nossas vidas. Nos levantamos, tomamos banho juntos – com direito a sacanagens e beijinhos molhados -, eu fiz o café enquanto ele alimentava Sr. Doguinho, comemos e então saímos.

Taehyung me acompanhou até o metrô antes de pegar um táxi para o próprio serviço.

- Vejo você no jantar – disse e lhe dei um beijo rápido, pois estava super atrasado.

- Eu te amo bebê – ouvi quando já estava descendo as escadas, mas eu nunca respondi de volta.

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Desta vez, eu não tinha minha avó para receber a ligação por mim. Não tinha mais dez anos para apenas sentar perto dela e a escutar chorando baixinho. Foi rápido e cruel, como deve ser.

- Alô? – atendi o telefone após interromper a sessão de fotos com um grupo de garotas estrangeiras.

- Jeon Jeongguk?

- Sim?

- Nós somos do hospital memorial e ligamos porque você está na lista de emergência de Kim Taehyung.

- Ele está bem? – eu pude ouvir minha voz falhando.

E foi isso.

Rápido e cruel.

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Eu fiquei pelos menos duas horas na sala de espera antes de algum médico aparecer. Úrsula foi comigo, mas precisou voltar para o estúdio e terminar a sessão de fotos. Jimin e Hoseok aparecer uma hora depois, quando eu finalmente consegui sentar na cadeira e ligar para eles. Aquele mesmo sentimento de quando eu era mais novo ainda estava presente: um vazio ensurdecedor. Eu não conseguia chorar, enquanto ouvia Jimin fungar no peito de Hoseok. Não conseguia dizer nada, enquanto meu amigo tentava acalma-lo, era como se eu estivesse ali, mas não realmente.

Eu levantei lentamente quando o médico apareceu em seu rosto indecifrável.

- E-ele está bem? – foi Jimin quem perguntou.

- Sim. Ele está fora de risco agora – ouvi meus dois amigos suspirarem, e eu imaginei que também deveria estar aliviado, mas tudo o que consegui sentir era aquele maldito aperto no peito. – Ele quebrou uma perna por causa do atropelamento, e a cirurgia foi para pôr de volta. Ele também está com algumas fraturas nas costelas, mas não é nada grave.

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