《21》

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Ele foi à minha casa pela noite. Eu não queria conversar, não queria ouvir suas desculpas, e deixei isso bem claro quando bati a porta na cara dele. Mas o Taehyung não desistiu fácil. Não saiu do hall de entrada do meu apartamento até que eu o deixasse entra.

-O que você quer? -Perguntei ríspido.

-Seu perdão. Você não merecia ter passado por tudo aquilo. Não foi culpa sua se ele o beijou. -Ele falou e me encarou com os olhos vermelhos e o rosto marcado de lágrimas.

-Você não confiou em mim, no momento em que eu mais precisei de você. Não acreditou na minha palavra. E não é esse tipo de relacionamento que eu quero pra minha vida. Desculpa, Tae, mas acabou.

Quando ele foi embora, joguei-me com força na cama e chorei até não aguentar mais. Chorei até dormir e lembrei que no outro dia teria que vê-lo. Mas é claro que, quando a semana de provas começou, foi totalmente impossível não me preocupar com ele.

Eu expliquei para a Momo como costumava ensina-lo e dei essa missão a ela: ficar com o meu lugar de tutor. Pedi que ela falasse com o Taehyung antes de tudo, mas achei que ele iria aceitar. Ao contrário, contudo, ele não quis a ajuda. Pediu para falar comigo no final de uma aula de matemática.

-Você contou pra Momo sobre o meu DDA?

-Você acha que eu sou desses que saem contando o segredo dos outros? -Eu o olhei espantado. -Pois se achou, achou errado. Se me contou um segredo, ele não sairá da minha boca até que você permita.

Quando ele estava prestes a ir embora, segurei sua mão.

-Tae... aceita a ajuda da Momo. Ela é muito melhor do que eu em relação a notas, escola, estudos e inteligência. Isso vai lhe fazer bem, vai ajudá-lo a manter a base que construímos. -Olhei dentro dos olhos dele.

-Esse é o problema. Não tem ninguém melhor que você. Você é o melhor. E eu queria que estivesse comigo. Mas seguirei seu conselho. -E, dizendo isso, deu as costas e foi embora.

Depois desse episódio, nós mal nos falávamos. O tempo parecia não passar e nada mais importava.

Momo e eu andávamos cada vez mais próximos, saíamos juntos, estudavamos juntos, sentavamos lado a lado... Ela também me contava sobre como andavam as notas tô Taehyung (maravilhosas) e seu desempenho com os estudos. Eu sentia um imenso orgulho dele, mas ninguém jamais saberia disso.

Não sei se foi sem querer, mas um dia ela acabou me contando que, quando tocou meu nome, ele parecia outra pessoa. Com os olhos brilhantes, ele estava mais focado, mais dedicado, como se estivesse fazendo algo por mim.

* * *

Para mim, dias pareciam meses e os meses, anos. O tempo sem Taehyung ao meu lado passava tão lento quanto o trânsito das cinco da tarde.

Sexta-feira, finalmente véspera de Suneung e eu estava uma pilha de nervos. Havia passado mal e sentido dores de cabeça durante grande parte da madrugada de quinta para sexta. Não fazia ideia de como iria para a aula no dia seguinte, mas eu iria de qualquer jeito!

Acordei mais cedo do que o normal, estudei o que seria revisado no colégio, arrumei minha bolsa umas
quatro vezes e fiz o café da manhã. Arrumei-me para ir à aula e encontrei meus pais boquiabertos na cozinha.

-Você fez isso tudo, filho? -perguntou papai.

-Fiz sim. Tem suco na geladeira e o café está nessa garrafa térmica preta -respondi, sentando-me em uma das cadeiras e me servindo de um pouco de salada de frutas e iogurte.

Comemos e logo eu estava no banco do passageiro com minha mãe no volante.

-Kookie, eu sei o que passa na sua cabeça. Você está duvidando de si. Você sempre duvida de si mesmo. E eu não sei o porquê disso, meu amor. Eu e seu pai nunca exigimos que você fosse o melhor. Você sempre exigiu que fosse perfeito. Desde os 11 anos, sempre tentando ser o melhor aluno da turma, com as notas acima de nove, ficava em primeiro lugar nos campeonatos de tênis. Por que isso, filho? Saiba que você é o melhor filho que alguém poderia desejar? Não quero um filho perfeito, quero você, cheio de defeitos e sempre errando... -disse ela, fazendo meus olhos se encherem de lágrimas -O seu melhor é o suficiente.

-Obrigada, mãe. Isso é realmente muito importante pra mim. Mas é quem eu sou. É como eu sou. -respondi choroso abraçando minha mãe.

-Então estude bastante no colégio hoje. Tire as dúvidas que restarem e volte tranquilo pra casa -ela disse, beijando minha testa antes de eu sair do carro.

Passei pelo portão do colégio meio zonzo, mas ignorei e voltei ao meu curso. Não é nada, obviamente. Só nervosismo. A primeira pessoa em que eu esbarei foi... Quem disse Taehyung? ACERTOU!

-Puts! Tae! Isso é tradição? - perguntei risonho.

-Fazia tempo que eu não derrubava você, não é? -Ele riu de si mesmo.

Fomos até a sala em silêncio e a aula foi passando rapidamente. Respondi a todas as perguntas feitas para mim, e com sucesso. Tirei minhas dúvidas com os professores e me surpreendi quando o Suho falou para a fila que se formava: "Metade tira dúvidas comigo e a outra metade tira as dúvidas com o Jungkook, ok, galera?".

Depois de ajudar uma quantidade generosa de pessoas, a aula acabou e comecei a ficar tonto outra vez. O fim do dia estava perto. Isso era mau sinal.

Levantei da minha carteira e comecei a ir na direção do Jimin, mas fraquejei no meio do caminho e me apoiei na primeira pessoa que vi: Taehyung.

-Meu amor, você está bem? -ele perguntou, aninhando-me em seu peitoral.

-Acho que eu estou bem, Tae. Foi só uma tontura.

Menti tão tonto que ignorei o fato de que Taehyung me chamou de "meu amor". Comecei a ver luzes e a última coisa de que me lembro antes de tudo ficar preto foram os olhos do Taehyung.

O lado estranho do amor; taekook ©Onde histórias criam vida. Descubra agora