Capítulo 53

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– Só mais uma meia hora, no máximo. - A enfermeira acompanhada pelo meu médico me informa o tempo restante para que eu termine a primeira sessão da quimioterapia.

– Ah, tudo bem. Obrigado.

– Está se sentindo bem? Algum incômodo? Você está pálida. - Ele me olha preocupado e pronto para entrar em ação caso seja preciso.

– Na verdade, estou com uma forte tontura... - Declaro tentando ameniza-la.
Tudo vai ficando escuro e não consigo me manter focada.

Ouço vozes me chamarem, mas tudo está confuso demais. Mas antes que eu pudesse me entregar a escuridão negra, vou recobrando a consciência.

– Cloe?

–  Teremos que interromper um pouco, iremos colocar um soro para que suas veias fiquem limpas novamente para assim continuar a sua sessão. Preciso medir suas plaquetas e checar se não estão baixas. Se estiver, não poderá continuar. Apenas quando estiverem normais. - Me explica e me forço a presta atenção.

Assim como dito, ela o faz. E aparentemente, meu organismo não é tão forte, por isso o motivo que me fez passar mal.
Após tomar o soro, ela retorna para a quimioterapia e termino  pouco tempo mais tarde.

Logo após, meu médico apareceu e me deixou a par das reações que posso ter e dos infinitos medicamentos que terei de tomar. Não são pouco.

Saio finalmente da clínica já bastante tarde, coloco o casaco vinho que eu havia comprado e o visto impedindo que o curativo fique a mostra.

Passo em uma farmácia e compro os remédios, além de uma escova de dentes com cerdas extra macias que meu dentista me indicou, já que precisarei realizar minha higiene com ela e água quente devido a grande sensibilidade que terei. Me esforço para fazer caber todos os medicamentos na minha bolsa e assim que consigo, me retiro do local.

Assim que chego, dou um beijo em vovó que estava frente a tv secando as mãos em um avental.
Ela me encara com seus olhos brilhantes e retribui o beijo.

– Chegou tarde querida, conseguiu resolver?

– Terei que ir novamente, daqui um mês...

– Sei. - Me olha desconfiada.

– Taylor amou os croissants. - Engulo em seco tentando mudar de assunto.

– Fico feliz, e quando ele vem pra cá?
 
– Ele não me disse quando, mas que viria. - Caminho até a escada e vou subindo devagar.

Término de subir todos os degraus e entro no meu quarto.
Preciso tomar um banho para tirar esse cheiro de hospital, e assim o faço. Demoro alguns minutos e tenho a sensação de que a água quente leva todos os meus problemas e dores consigo enquanto corre livremente pelo meu corpo despido.

Ao sair e entrar novamente no meu quarto, paro em frente a um grande espelho e fico observando minha imagem então refletida. Corro o olhar por cada uma das cicatrizes, as deixadas na minha infância, as do acidente que ceifou a vida dos meus pais, de Alex, Arthur...
Essas não são nada comparadas com as psicológicas. Essas irão demorar para cicatrizar, mas Taylor está me ajudando, ele é um homem maravilhoso.

Eu o amo e vou lutar com todas as minhas forças contra essa doença para que eu possa sair vitoriosa e assim, poder alcançar a felicidade plena ao lado do meu homem, o homem que me escolheu entre tantas outras e o que meu coração escolheu para amar.

Estou tão cansada, parece até que fui pisoteada por uma manada de elefantes, minha cabeça está doendo mais que o normal, estou meio enjoada também. Provavelmente deva ser alguns dos efeitos colaterais da quimioterapia.

Vou até minha mesinha me sentando ao lado em seguida. Pego as várias caixas de remédio e começo a montar uma tabela com cada medicamento e a hora exata de cada um e vou colocando alarmes também. Ando muito esquecida ultimamente, até mais que o normal. Por fim, recolho todos e os escondo perto dos meus exames no meu armário. Tomo o de agora e resolvo me deitar um pouco.

                                         Arthur

Então ela tomou a primeira quimioterapia hoje? - Pergunto ansioso.

– Sim. E foi sozinha, não a vimos com ninguém, nem quando chegou, nem quando saiu.

– Isso é perfeito! Só facilita ainda mais as coisas para mim. - Ao ouvir tais palavras um sorriso largo paira em meus lábios.

– De fato. Já sabe quando vai tirar a Alex da jogada? - Me pergunta com seus olhos fixos nos meus.

– Em breve, mas antes, ela ainda fará alguns serviços para nós, não pretendo sujar minhas mãos sendo que temos aquela vadia interesseira para fazer isso. - Declaro.

– E o médico que tá cuidando da Cloe?

– Ainda estou decidindo o que farei, talvez, acidentalmente, o carro dele pode ficar sem os  freios. - Alex adentra o local rapidamente e vem até mim com os lábios cobertos por um gloss horroroso que ela insiste em usar.

– Arthur! - Tenta me beijar mais a impeço. – Desculpa...

– O que quer Alex, não vê que estou ocupado?

– É que eu vim avisar que o médico que vai substituir o da loira de farmácia já está a sua espera.

– Ótimo! Chame ele e nos deixem a sós. - Ordeno e assim o fazem. Aguardo alguns segundos e logo vejo a figura de um homem ganhar forma no ambiente.

– Olá Arthur! - Estende a mão para que eu o cumprimente.

– Imagino que já foi informado sobre o motivo de sua presença aqui. - Suponho.

– Brevemente.

– Minha mulher está com câncer, é no cérebro, não quero que ela continue o tratamento no hospital, temo pela sua saúde. Então, resolvi trazê-la para cá e preciso do senhor para acompanhá-la e administrar as doses da quimioterapia. Já está tudo acertado, logo você irá começar a fazer isso no hospital mesmo, mas só enquanto término de providenciar os equipamentos, é claro. Irei te pagar uma boa parte adiantado e poderemos acertar os detalhes depois se aceitar. Mas é importantíssimo que haja sigilo.

– Não vai ser fácil, mas dependendo do que está desposto a oferecer, pode contar comigo.

– Será uma boa quantia, você já trabalhou inúmeras vezes para minha família, sabe como somos. Mas e então, aceita?

– É verdade, tudo bem, eu aceito. - Concorda e estende a mão em minha direção, aperto.

– Ótimo! Acaba de fazer um excelente negócio, e você pode escolher como quer o dinheiro, em espécie ou diretamente na conta. - Acrescento.

– Tudo bem, agora vou indo.

O médico se vai e é hora de mexer meus pauzinhos.

– Alex! - Berro.

Alguns poucos segundos depois, ela aparece.

– Me chamou Arthur?

– Claro que chamei, não vê? - Falo com indiferença.

– O que quer?

– Quero que faça um servicinho para mim. - Declaro.




A Caminho do Inesperado | Vol.1 (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora