Fui recobrando a consciência de mim mesma aos poucos, minha cabeça doía um pouco e os sons do ambiente eram incomuns. Um vento frio passava pela abertura da caverna, fazendo um barulho calmante quando passava pelas pedras salientes. A pouco iluminação me fazia capaz de enxergar que eu estava deitada em cima do peito quente e forte de Ajax e provinha do brilho prateado da lua, infiltrando pela abertura da porta. O belo homem musculoso estava parcialmente deitado com as costas apoiadas na parede do fundo da caverna com os olhos fechados, segurando meu cabelo ainda molhado para longe das minhas costas.
Seus ombros relaxados, a respiração calma e as batidas ritmadas do coração, como as ondas tranquilas do mar contra a costa, o tornavam o compositor de uma música de ninar.
—Eu me pergunto por que você não parece tão pacífico quando está acordado. —As rugas de preocupação que eu vi nos seus olhos quando me tirou pra fora da água não combinavam com ele. —
—Talvez por que o lobo acordado nunca descansa. -Ele abriu os olhos, falando com sua voz rouca de sono que me fez derreter ao mesmo tempo que me assustou. Ele sorriu de lado e deslizou a mão pelos meus cabelos. —Ele está sempre preocupado com os seus.
—Ajax? —Eu arregalei os olhos e abaixei a cabeça envergonhada de ter sido pega no flagra analisando as linhas de uma obra de arte selvagem que compunham esse guerreiro da neve. Ele riu e seu peito tremeu enviando sensações por todo meu corpo, ainda mais por que ele estava sem camisa. –
—Está tudo bem, carinho. Eniel está lá fora e pedi pra Elena trazer a panela com carne que coloquei pra cozinhar pra você, já que seus dentes são fraquinhos e precisam de carne cozida. —Ele disse sorrindo de lado. –
—Os meus dentes não são fraquinhos. Os seus que são. —Quem ele pensava que era pra julgar a forma como me alimentava? Não tinha pedido pra ele cozinha a carne pra mim, fez por que quis. —
—Eu posso te morder para provar que está errada. —O lobo abriu um sorriso preguiçoso cheio de dentes extremamente afiados, deslizando o dedo indicador bem lentamente da base da minha coluna até para na curva do meu pescoço. —Bem aqui. —Minha respiração estava descompassa, fechei meus olhos e estava começando a considerar aquela uma boa ideia. — Você quer que eu te morda? —Ele se inclinou na minha direção, me apertando mais de encontro com seu corpo grande e musculoso, mas respirou fundo e grunhiu. — Você precisa melhorar primeiro e Elena está aqui.
Meu coração tremeu e meus pensamentos voltaram a mim. Ele é irmão do meu irmão, de consideração, mas irmão, e era o líder de um povo lobo que viveu esse tempo todo escondido no meio de neves e montanhas e eu estava quase me jogando nos braços dele. Se bem que isso aconteceu no momento que eu o vi.
—Com licença. —A mesma senhora da outra vez entrou segurando pelas alças um pote simples e se curvou para nós. Eu rapidamente usei o peito de Ajax como um apoio para me sentar. Ele delicadamente me ajuda a ficar sentada na coberta esticada no chão, se levantando para pegar a vasilha da mão da mulher que sorri, mas permanece paralisada desviando o olhar entre mim e ele o tempo todo. Eu tentei ficar de pé também, mas a olhar de advertência que recebi dos dois me fez voltar a me sentar rapidamente.
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A lenda de Ajax
RomanceAna Amélia se tornou órfã muito cedo e por causa de uma guerra entre lobos e bruxos ela encontrou um menino lobo abandonado que se tornou seu irmão. Eles cresceram e a vida em terras humanas se tornou difícil, e a única alternativa foi voltar para...