O caminho para além de casa - Cap 20

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—Ajax, eles estão te esperando. — O Alfa concorda em silêncio apertando mais as mãozinhas da filha sentada em seus ombros. Sua pequena Luz dava pequenos gritinhos e sorria, molhando o cabelo do pai, se sentindo no topo do mundo. —

Com relutância a pequena foi tirada de seus ombros pela mãe e se contorceu para ir chão, onde passou a engatinhar nas cobertas, tentando ficar de pé para correr atrás do Ecal, bem maior do que ela, querendo pegar sua cauda ou subir em cima dele.

— Cinco meses e ela já quase anda. Eu posso perder muitas outras coisas quando estiver fora. —A bebê se sentou e se virou olhando para o pai com um sorriso babado de dois dentes, mordendo o Ecal, que apenas se sentava impassível ao lado dela, já acostumado com o tratamento que recebia. —Se ela não se lembrar mais de mim? Ou se esquecer minha voz?

—Ela te venera. Impossível, querido. —Amélia pegou as mãos de Ajax e sorriu, mas o brilho não chegou aos olhos como a muito tempo atrás. — Lembre-se que está fazendo isso por ela. Para saber como o sangue bruxo vai afetá-la, o que aconteceu com você quando era menor e o que te faz ficar com as veias negras.

O lobo concordou e se levantou para pegar a filha nos braços, seu filhote, seu pequeno pedacinho. Ele respirou fundo a trazendo mais perto de si, sentindo seu cheiro, reconhecendo sua descendência, querendo lembrar de cada pedacinho dela e evitar ao máximo que ela não o reconhecesse quando voltassem.

—Papai vai agora, mas mamãe vai te falar de mim todo dia. —Ele respirou fundo e colocou sua bebê no colo da mãe. — Não deixa ela se esquecer de mim. Deixei uma coberta com meu cheiro nela, enrola em vocês quando forem dormir. —Ele passou a mão pelos cabelos de Amélia, olhando com devoção para sua companheira, orgulhoso de tudo o que tinham passado juntos. — Toda noite que você olhar para a lua vai ver o do brilho dos meus olhos olhando por vocês, toda vez que sentir o vento nos seus cabelos vai sentir meus dedos passando por entre os fios do seu cabelo para fazer carinho. Acho que amo vocês. —Ele sorriu, brincando para esconder as lágrimas que queriam cair. —

—Eu acho que temos certeza. —Amélia o abraçou e o acompanhou até a base da montanha, levando a bebê amarrada nas costas com alguns pedaços de pano, como descobriu alguns meses que as mães faziam. —

Toda a matilha tinha se reunido em um horário bem incomum, o nascer do dia. Era a primeira vez que todos se observavam banhados pela luz do sol, a sensação estranha de não conseguir olhar diretamente para o céu os incomodava e a estranha sensação que sentiam na pele quando aquela luz estranha, vinda de onde deveriam estar as nuvens, encostava na pele.

Bárbara se abraça a Eniel, com o cabelo no comprimento antigo, e seu filhinho Oliver nos braços, com menos de um mês de idade. Uma mistura perfeita dos pais, uns fiapos de cabelo loiro, que no sol ficaram brancos, no topo da cabeça, sempre arrepiados, sua jardineira e com seus dois dentes de baixo que mordiam dolorido. Eles evitavam chorar, mas foi inevitável quando Oliver mordeu o dedo da mãe.

Lucius pegou o seu neto, o enchendo de beijos e o segurando junto ao peito, virado de frente a tudo o que acontecia. O bebê ria com suas bochechas gorduchas, mostrando seus dois dentes de baixo e balançando as perninhas gordas de fora por conta da jardineira. Ajax pegou sua filha, a colocando nos seus ombros novamente. Amélia se colocou ao seu lado, os braços unidos a frente, sorrindo para agradecer a todos pela lealdade.

—Hoje vamos. Nós somos lobos, somos caçadores naturais, nós nos guiamos pelas estrelas, caçamos nossa comida, nós sobrevivemos, é isso que fazemos, é isso que somos é tudo o que sabemos fazer desde que tudo virou fogo. A natureza é nossa casa e nós sobrevivemos nela. Não nos insulte. Somos os predadores naturais desse mundo. Não estamos sozinhos, cada um sabe o que carrega dentro de si e o motiva a ir em frente. Crescemos juntos, não nos permitindo viver, sonhos somente do tamanho que as montanhas conseguissem conter. O único desejo profundo que podíamos ter deveria pertencer ao mar que nos cerca. A nossa maior conquista deveria ser menos que o alto da montanha. Alegrias deviam ser comemoradas em voz baixa e o seguro era o que disse que devíamos escolher até perceber que o sonhava pequeno para nós. Não devemos nos limitar pelo medo, simplesmente não devemos ter limite.

Todos uivaram juntos, celebrando as grandes conquistas que iriam atingir. Os seus limites se expandindo, os sonhos aumentando. Todos se abraçaram e se uniram em um mesmo uivo de libertação. A voz daquele povo finalmente seria ouvida, por cima das montanhas por entre os medos, acima das nuvens.

Se despedindo dos queridos, todos se prepararam para partir. Ajax deixou um beijo no topo da cabeça de Amélia, não conseguindo sorrir verdadeiramente, a cena se repetia com Eniel, que deixava Bárbara e o filho para trás. Passou sua filha para a companheira que segurava as lágrimas, tentando se demostrar forte, depois de deixar um beijo nas suas mãozinhas.

-Por favor, volte bem. —Eniel se aproximou, se grupo atrás de si. —

-Não é como se existisse uma outra alternativa. - Eles trocam um abraço firme. -

-Boa viajem, irmão. Que a lua te guie. — Ajax proferiu e uivou, chamando seus lobos, se transformando e correndo para o sul em dois grupos diferentes. As mulheres em cima dos lobos com o objetivo de proporcionar um ritmo constante e ininterrupto.

Na formação da alcateia os primeiros são os mais velhos ou doentes que marcam o ritmo do grupo, mas nesse caso todos estavam bem e o ritmo era correr até a exaustão, aqueles são seguidos pelos cinco mais fortes que os defenderão de um possível ataque surpresa. No centro seguem os demais membros da alcateia, e no final do grupo seguem os outros cinco mais fortes que protegerão o grupo e por último, sozinho, segue o Alfa, o líder que transita entre o primeiro e último lugar para não deixar que ninguém se perca ou fique para trás. A direita o lago, ao lado seus companheiros, a trás seu lar e a frente, seu futuro.

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