Caminhei devagar até onde Eniel estava, depois da noite de conversa com Ajax eu tive saber como estava meu irmão. Ele estava, assim como todos, na grande clareira. O dia começava a se transformar em noite e as atividades ainda não tinham começado. Enquanto Bárbara não estava a minha vista decidi que era o momento perfeito para questionar Eniel sem provocar mais perguntas da parte dela.
—Amélia! —Ele vem até mim, saindo da roda de conversa, para me abraçando. O seu sorriso, gestos amplos e frases espontâneas sem receio irradiavam por todo meu coração. — Fiquei sabendo que treinou ontem, queria ter visto, mas o Alfa mandou Mattew aplicar um treinamento mais intensivo com meu lobo. —Ele segura minhas mãos, os olhos bem abertos e vívidos. —Logo vou ser apresentado a todos e depois ter meu lugar finamente na matilha. —Aquilo me fez pensar, qual era meu lugar em uma matilha, na qual todos eram lobo, sendo que eu não era lobo? —
—N... Quero falar sério com você. —O puxei para longe da clareira, mais perto da borda rio congelado. Ele me acompanhou parando de falar conforme nos aproximávamos do rio. Seus cabelos brancos balançavam com o vento. —
—O que foi? —Ele perguntou, o sorriso desvanecendo do rosto, trocando os pesos dos pés. —
—Ajax me contou que vocês não são... irmãos. —Comecei falando devagar, não sabendo como começar o assunto, preferindo ir logo para o principal. — Está tudo bem? É... você sempre me falou com tanto carinho e admiração de seu irmão, você realmente sabia que não eram...Não que isso seja ruim, só que eu...Como você está, realmente sabia mesmo? —Ele volta a soltar uma risada fechando os olhos e relaxando os ombros. —
—Bem...Eu acho que sempre soube, mas só percebi depois, ainda mais meus pais de cabelos quase brancos de tão loiros, de olhos claros tão diferentes de Ajax com cabelo tão preto quanto o seu. —Ele dá de ombro—Como eu nasci depois de toda a confusão e do susto do antigo alfa, as coisas já estavam resolvidas e pra mim, ele simplesmente é meu irmão. Acho que tenho algo especial com aqueles de cabelo escuro, não? —Ele dá de ombros, me abraçando. —E isso afinal nunca realmente importou, não é, minha irmã?
—Amo você também. —Sinto mãozinhas apertando minha canela. —
—Abraço!! —Miguel grita apertando minhas pernas, deixando Eniel de lado. Eu sorrio do pequenininho. —
—Acho que você já tem um admirador, além do próprio Alfa que não desvia o olhar. —Ele se afasta rindo, beijando minha cabeça e de Miguel quando eu o peguo no colo. —
—Oi, querido. Sabia que eu ganhei um bichinho?
—Bichinho, tia mélia? De comer ou um lobo igual eu? —se remexeu animado mordendo o dedão e eu rapidamente o retiro da boca. Vejo Lívia caminhando até nós. —
—Um bebê Ecal, igual aqueles que ficam no cercado, mas esse é pequenininho e todo carente. Depois quando eu o achar eu te mostro, ele saiu correndo para dentro da floresta assim que eu o coloquei no chão.
—O que a bonita está fazendo parada aqui? — Lívia começou chegando perto com uma sobrancelha levantada e um sorriso convencido no rosto. — Sendo que seu lobo está fixado olhando pra cá apesar de Lucius estar tentando estabelecer uma conversa com ele, só que não ele não deve estar conseguindo porque o homem não está te encarando igual lobo.
—Eu estava conversando com N e depois ia esperar a Bárbara melhorar da festa e resolver aparecer. —Procuro Ajax para saber mesmo se ele estava me olhando. —
Sorrio quando percebo ele estava de braços cruzados próximo a parede de pedra da caverna que fiquei quando fui resgatada. Lucius conversa e gesticulava calmamente de frente a ele, mas seu foco cravava minha pele.
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A lenda de Ajax
RomanceAna Amélia se tornou órfã muito cedo e por causa de uma guerra entre lobos e bruxos ela encontrou um menino lobo abandonado que se tornou seu irmão. Eles cresceram e a vida em terras humanas se tornou difícil, e a única alternativa foi voltar para...