Ajax está parado de costas para mim, com minha capa em mãos. Fiz outra coisa errada, deixei minha capa jogada para trás, ele deve estar pensando que estou sendo mal agradecida com a capa que me deu, e ele ainda tinha me avisado que era a única que tinha. Lucius conversa baixo e apressadamente com ele, mas para assim que Ajax levanta a palma da mão aberta em sua direção. Além de Lucius estão também Bhaskara e outro homem que não conheço, que estão de frente para Ajax, mas o evitando o olhar a todo custo.
—Vi você vindo correndo, mas depois voltar. Reforços? Só precisei deixar Miguel com a Lívia, trouxe Eniel também. —Mattew chega junto de Eniel, que rapidamente dirige um olhara para Lucius o qual concorda com qualquer coisa que tenham se entendido e aponta com a cabeça para mim. —
—Amélia, venha comigo, por favor. —Ele estica a mão na minha direção, se mantendo no lugar, a voz baixa e calculada para sair calma. Algo que não combinava com suas mãos tremendo. —
—Só um minuto. —Me viro de costas, focando meu olhar em Ajax e me aproximando dele. —
—Ajax...—Começo hesitante, olhando para minhas próprias mãos não querendo ver o olhar de raiva que ele vai me direcionar se virar de frente para mim. —Me desculpe pelo o que disse hoje cedo. Eu estava errada, realmente você fez o que era certo. —Decido não me aprofundar muito no que tínhamos conversado, já que era um assunto delicado para ele. — Me desculpe.
—Você. Fugir. —Escuto seu movimento na neve, ficando de frente para mim. A voz daquele mesmo jeito de quando voltou com Eniel naquele dia, baixa, rouca, profunda, como se saísse do interior dele e retumbasse por todo seu corpo até sair. —
—Alfa, é a Luna. Você não quer fazer isso...—Lucius diz baixo, se mantendo longe, assim como todos, por medo de se aproximar da nossa discussão. Ele foi completamente ignorado pelo meu cérebro. —
—Eu tinha deixado claro que não ia mais me esconder dos meus problemas, por isso não queria que vocês se escondessem também. — Elevei meu olhar. Perdendo a fala ao ver que dos olhos de Ajax surgiam veias negras na parte branca indo até a pupila escura. Assim como da sua têmpora indo em direção aos olhos e do pescoço em direção ao seu maxilar. —
—Ajax! O que aconteceu, meu amor? —Me aproximei dele com minhas mãos tremendo, segurando a vontade de chorar. — Você foi envenenado? —Essas reações do corpo geralmente são por causa de alguma poção bruxa, no reino humano eu já vi alguns caminhando por lá a noite. Eu até tentei uma vez tentei me tornar uma, mas Eniel me disse que só aceitavam homens. Eu devia ter aprendido mais coisas sobre isso. Encosto devagar em uma veia do seu pescoço. —
—Ficar. —Ele ignora minhas perguntas e aparentemente resolve fazer um dele, aproximando o rosto do meu. Os olhos davam uma identidade diferente a ele, mas selvagem e perigoso. —
—Se eu vou ficar? Bem...Eu quero. —Desvio meu olhar, tentando não soar tão desamparada. Observo Bhaskara se aproximando devagar de Ajax. — Eu não sei nem meu lugar na matilha mesmo, as vezes tenho certeza de que sou um fardo pra vocês e estou atrasando a suas vidas. Pelo menos, com certeza provei que não pensamos do mesmo jeito.
—Companheira. Ficar. —Ele repete e tenho certeza de que não foi uma pergunta. — Comigo. —Ele levanta o braço para passa a capa que segurava na mão em torno de mim. Bhaskara tenta pular nas costas dele. O Alfa apenas continua o movimento da capa, completando um giro completo e bloqueando Bhaskara que cai no chão. Lucius passa a mão no cabelo, revira os olhos e suspira dramaticamente. —
—Você é muito emocionado. —Ele ajuda Bhaskara a se levantar. — Ela o acalma. Percebe?
Eu rio de toda essa situação inusitada. Ajax coloca a capa ao meu redor novamente, escondendo um sorriso de lado, os olhos sem mais as veias negras, porém, apesar de menor quantidade, o pescoço ainda tem algumas.
—Lucius. —Ele se vira para seu amigo o olhando por um momento até Lucius concordar e guiar todos para a clareira. Eles passam por mim, me dirigindo um olhar de dúvida, mas rapidamente deviam quando Ajax rosna. —
—Você achou que eu ia atravessar a fronteira e veio atrás de mim, sim? —Ele concordou, as mãos na minha cintura e o olhar cravado no meu. Ele controlava a respiração. — Depois que descobrir como é bom viver sem precisar me privar de pequenas alegrias me prometi que não ia mais fugir. Eu estava com Miguel e ele saiu correndo atrás com bebê Ecal.
—Companheira. Perigo.
—Para mim que quase me perdi, talvez. Para ele não, e é isso que me importava. —Sorrio sem mostrar os dentes, sabendo que ele ainda não me perdoou. — Me desculpe por hoje mais cedo. Eu sou uma intrusa querendo opinar na sua matilha.
Ele me abraça, escondendo o rosto na curva do meu pescoço, deslizando o nariz por ali e respirando fundo, como se quisesse me gravar com ele. Eu apenas passava a mão devagar nas suas costas, deixando que ele tivesse o tempo que precisasse, até as veias negras sumissem do seu pescoço. Ele deslizou sua mão pela minha cabeça, fazendo carinho no meu cabelo.
—Não diga que você não pertence a matilha, você se encaixa aqui. —Ele pega minha mão e coloca em seu coração palpitante. — e pertence a mim. Você é minha companheira, amor. Minha chama de luz.
—Oh. Tipo Mattew e a Lívia? Ou o Eniel e a Bárbara? —Nossa...As meninas estavam certas. —
—Sim. —Ele sorri, mostra as presas, fecha os olhos, encostando o nariz dele no meu. —
—Por que você não me falou antes? —Cruzo os braços, tentando me afastar dele e sentir raiva, mas sinto mais alívio mesmo por saber que estou sendo correspondida. Ele ri e me puxa de volta. —
—Você não foi criada com essa cultura, meu amor. Não sou uma pessoa que me orgulho de ser quem eu sou. Queria que você pudesse escolher o que quer manter para sua vida.
—Que bom que eu já falei antes que sinto orgulho de quem você é. —Pego seu rosto nas minhas mãos. —Meu lobo incrível que me deixa orgulhosa de tudo o que ter que fazer e abdicar para deixar todos felizes.
—Incrível? —Ele gargalha. ——Você também me deixa orgulhoso, minha companheira. Se manteve firme e brigou comigo provando seu ponto. E você tem razão, eu sou muito comandado pelo meu passado. Não sei nada do meu lado bruxo e como isso pode me afetar no futuro. Não sei por que minhas veias ficam negras e por que minha mão teve tanto medo de mim que me abandonou.
—Me sinto mal por te fazer relembrar essas coisas.
— Antes de descobrir o que aconteceu no meu passado pra tentar resolvê-lo. Quero ter certeza que você se sente parte daqui.
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A lenda de Ajax
RomanceAna Amélia se tornou órfã muito cedo e por causa de uma guerra entre lobos e bruxos ela encontrou um menino lobo abandonado que se tornou seu irmão. Eles cresceram e a vida em terras humanas se tornou difícil, e a única alternativa foi voltar para...