𝐁𝐄𝐀𝐂𝐇

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CHORANDO

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CHORANDO. Esse é o estado em que eu me encontro no momento, totalmente o contrário de minutos atrás enquanto eu tentava confortar meus avós falando que iria ficar tudo bem. Após outro exame, a confirmação veio. Vovô tem câncer. Eu nunca achei que iria pensar nisso, ou que isso iria acontecer comigo, mas é real. É real e eu não tenho a menor possibilidade de aceitar isso.

Há meses o vô tem passado mal, perdido peso e tendo alguns sintomas distintos de apenas uma gripe ou doença comum. Apesar de todos negarmos sempre, sabíamos que algo estava acontecendo antes de chegar aqui, mas Linfoma nunca foi uma possibilidade, pelo menos na minha cabeça. Nunca me preparei para o dia que receberia uma noticia como essa, o que me deixa mais aflita. Não consigo ter outra reação além de chorar.

Ok, tem a chance dele ficar bem, o que é a única coisa com que eu me preocupo agora, mas tem o outro lado da moeda também e não consigo engolir o fato de que eu posso perder meu avô. Eu não posso. Eu não posso. Eu não posso. Eu simplesmente não posso. Eu já perdi toda minha família de parte de pai, não tenho uma mãe presente e meus avós e tios são as únicas coisas que me restam. Eu não posso nem pensar em perde-los.

Lágrimas involuntárias correm pelo meu rosto, enquanto meu coração bate descontrolado. Meu pulmão se enche de muco a cada momento que passa. Não consigo respirar pelo nariz, pelo fato de estar entupido. Estou chorando no banho há mais ou menos meia hora.

Assim que meu celular desperta pelo menos três vezes seguidas, assumo que é hora de sair. Pensei diversas vezes se iria para a minha aula de violão hoje, e após deliberar eu decidi que sim. Preciso sair de casa e preciso deixar meus avós sozinhos por um tempo para conversarem. Todo mundo precisa de um pouco de espaço.

Após passar uma maquiagem para disfarçar os meus vermelhos e inchados olhos, me despeço dos meus avós, avisando que chegaria um pouco mais tarde pois provavelmente encontraria as meninas. Tia Liz, que ainda está ficando na nossa casa, me trás e me deixa na porta da escola, avisando que iria dar uma volta também, me pedindo para liga-la qualquer coisa.

Assim que passo pela porta da frente caminho até minha classe. Como a tia me trouxe, estou cerca de cinco minutos adiantada. Vitória para Mia. Algumas pessoas sentam em cadeiras, outras no chão mas a turma ainda não tinha todos seus alunos presentes. Assim que avisto Noah, um amigo, vulgo ajudante do professor, vulgo meu quase professor particular, caminho até ele, sentando ao seu lado, como todas as aulas anteriores.

O garoto levanta o rosto, sorrindo pra mim assim que seus olhos encontram os meus. Seu cabelo forma algumas ondinhas que eu nunca havia visto, parece que ele dormiu com o cabelo molhado, é fofo. Sorrio sem mostrar os dentes, não estou bem o suficiente para sorrir genuinamente.

— Posso tocar pra você? – e a primeira coisa que digo.

Havíamos conversado na noite anterior e eu havia lhe dito que aprendi a tocar uma parte de Be My Mistake do The 1975. Já estava com o violão no colo, com os dedos posicionados. Ele assente, voltando sua atenção completamente para mim. Começo assim como aprendi em um vídeo e com as dicas de Edward em uma das minhas aulas anteriores e surpreendentemente consigo tocar toda a primeira parte da música. Noah não para de sorrir para mim enquanto toco, já que o observo pelo canto de olho. Levanto meu rosto orgulhosa quando acabo.

one shots 𓆜 noah urreaOnde histórias criam vida. Descubra agora