Capítulo 36

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-Hate, tenta descansar. Você mesmo disse que temos que poupar força para as lutas.

Por algum motivo, não os colocaram para lutar aquela noite. Talvez estivessem esperando que passasse o efeito de quaisquer medicamentos para mostrarem seu desempenho máximo.

-Fácil para você falar. Você não tem uma fêmea te esperando.

-Mas quero voltar para casa tanto quanto qualquer um de nós. E Luci vai querer te ver bem. Não vai estar se você se arrebentar lá nas rinhas – Hate rosnou frustrado, se obrigando a deitar junto aos amigos para se manter aquecido, usando as costas de alguém como travesseiro.

-Luci é sua fêmea? – O macho que estava usando de apoio pergunta. Era um felino, de olhos dourados como os de Valiant. Seu cabelo tinha uma cor de palha, variando até o preto a medida do cumprimento. Com certeza se parecia com um leão. Sua boca inclusive era um pouco arredondada, “puxando” para o nariz, como a boca de um leão, mesmo.

-É.

-E como ela é?

-... Pequena. Tem os olhos bem verdes e o cabelo escuro, com um cheiro muito gostoso. E a pele dela tem cor de leite.

-Por que escolheu uma fêmea humana? – Um que não estava na pilha de corpos pergunta. Estava tentando tirar pontos que tinha no braço já cicatrizado, já que ninguém tiraria para ele.

-Luci é tão forte quanto as nossas fêmeas. Vão ver quando sairmos daqui. Ela enfrentou muitos humanos para nos salvar a um tempo atrás, e tenho certeza que fará isso de novo.

-Ela vai nos tirar daqui?

-Estão procurando por nós. Não só nossas fêmeas, mas todo o nosso povo.

-E irão encontrar! – Tiger lhes disse - Mantenham-se firmes pessoal. Logo iremos todos sair daqui.

-Diz isso pro 850! – Olharam com pesar para um dos Espécies que estava próximo a grade.

Estava ensanguentado, e com diversos cortes abertos na pele. Tremia de frio, mas não se movia um centímetro, provavelmente sentindo dor demais para conseguir.

Hate se levantou de novo, indo até 850 e o arrastando para perto do bebedouro. Ele deu um choro agudo de dor, como um cão que foi chutado, e se virou para morder o mais alto, que não se importou com isso. Rasgou pedaços da própria calça para fazer tiras, como ataduras, primeiro limpando os ferimentos que 850 tinha. E depois enfaixando os machucados que estavam mais abertos. Tinha assistido Luci fazer cirurgias o suficiente para se lembrar como se tratava esse tipo de machucado. Gostaria de ter uma agulha. Poderia usar o próprio cabelo para suturar, pois também tinha aprendido a fazer isso – sua Luci tinha o ensinado a tratar todo o tipo de ferimentos, embora sempre ressaltasse como gostaria que ele nunca precisasse usar - mas não tinha uma, então teria que ficar apenas com as ataduras para segurar os machucados fechados.

Os dois Espécies que tinham falado com Hate antes, se deitaram com cuidado ao lado de 850 para mantê-lo aquecido. Hate também se deitou ali com eles, fazendo outra pilha para dormir, que aos poucos foi aumentando, até estar grande o bastante para que ninguém tremesse de frio.

Durante a noite, Valiant despertou quando o ambiente pareceu ficar quieto demais, o suficiente para que seus instintos gritassem para que ficasse atento. Viu que não tinha nada estranho, se não alguns Espécies de pé, enquanto alguns ainda dormiam tranquilamente.

-Hate, o que estão fazendo?

-Shhh... Vai acorda-lo!

-Quem? – Olhou para cima, para onde o mais alto olhava. 1 metro acima da grade estava um dos guardas. Estava cochilando em pé, pendendo tanto que sua arma estava escorregando pelo ombro. Snow se pendurou no teto, em um silêncio tão bem calculado que com certeza não teria ouvido se não estivesse prestando atenção, mesmo com os sentidos tão mais desenvolvidos que o dos humanos. Estendeu a mão para fora da grade, tentando alcançar a arma, que estava a poucos centímetros de seu toque.

Hate - Novas Espécies (Livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora