Prólogo

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A estrada estava vazia.

Claro que à meia-noite não se encontra muita gente, mas como era uma via expressa para outro estado, esperava-se no mínimo um transito tranquilo.

Os sete amigos viajavam curtindo o som da Kombi de Carlos, um jovem Hippie.

— Mais três horinhas e a gente para, beleza galera?— Carlos pergunta com entusiasmo.

Todos fizeram que sim com desdém. 

Era uma viagem muito esperada pelo grupo, estavam animados demais. Indo basicamente pra todos os lugares do Brasil, acampando e vivendo o momento.

Daniel, o mais novo do grupo, sempre teve uma queda pela Ana, e estava lá principalmente por causa dela. Ia dizer isso pra ela no próximo acampamento, do jeito brega e romântico, como ela gostava, sob  luz da lua, o que ele amava.

Jonas tinha um objetivo a cumprir, visitar todos os lugares do Brasil antes de se aprofundar na carreira de boxeador, Maria secretamente "crushava" Jonas, e ia em todos os seus treinamentos.

Eduardo sempre andava com sua câmera, tirando foto de tudo, registrando cada momento do grupo junto com sua namorada, Alicia.

Todos se conheciam desde criança, estavam presente em todos os momentos da vida um do outro. Eles juntaram todas suas economias pra essa viagem, "A Grande Viagem", como Carlos gostava de chamar.

Na via expressa pra São Paulo, um dos pneus da Kombi de Carlos furou. Deixando ele furioso, fazendo ele ter que parar no acostamento.

— Ah, merda! — ele bateu no volante e saiu da Kombi. — Alguém ai por acaso é borracheiro?

Ninguém respondeu.

— Ótimo, eu me viro — Carlos revirou os olhos e foi pegar uma roda reserva.

Todos ainda estavam dentro da Kombi, enquanto Carlos não.

Ainda conversavam sobre tudo, o assunto nunca morria.

— Então — disse Jonas com um sorriso maroto —, quando os pombinhos vão ficar juntos?

Ele falou pra Daniel e Ana que estavam juntos. Ana estava cansada então tinha recostado no ombro de Daniel e adormecido.

— Fala um pouco baixo, ela está dormindo. — Daniel logo avisou.

— Não pode esconder isso pra sempre, Daniel.

— Esconder? — chegou Maria falando tão alto quanto Jonas. — Isso tá muito claro, só não vê quem é cego.

— Tipo o seu amor pelo Jonas? — rebateu Daniel.

Maria ficou tão vermelha que se afastou um pouco.

— Nossa vocês são uns chatos. — Disse Ana acordando. — Me acordaram.

Antes que pudessem falar mais qualquer coisa. Carlos do lado de fora gritou para que todos saíssem, desesperado. Mas era tarde de mais...

Naquela madrugada, quarta-feira, dia dez de janeiro de 1990 aconteceu um acidente onde um caminhão desgovernado chocou-se contra a Kombi. Matando todos eles.

No momento do impacto, Daniel sentiu uma pressão muito forte, como se todo o seu corpo tivesse sendo sugado por um buraco negro, em todas as direções.

Sentiu o vazio e o medo da última coisa que ouviu. Só havia escuridão até que um fio longe de luz revelou seus amigos.

Era como se estivessem em uma imensa ponte. Não tinham só seus amigos, cada um estava com mais uma pessoa.

Jonas, Maria, Eduardo, Alicia, Carlos e... Ana, que por algum motivo, era a única que parecia estar com a imagem embaçada. Ele prometeu que ia encontra-la de novo. Do outro lado. Ele sabia que estava morto, por algum motivo misterioso.

Todos eles estavam acompanhados, andando juntos por essa ponte. Mas Daniel não conseguia se mover, parecia uma esteira invisível, andava mas não saía do lugar.

Daniel sentiu o vazio e a pressão novamente. Então apagou.

Acordou novamente, em um gramado. Era dia, e ele levantou lentamente, sentindo-se pesado. Olhou em volta e viu muita gente andando, divertindo-se. Andou um pouco pra sentar no banco de concreto, percebeu que estava em um parque.

Ele sabia o que fazer. Ele sabia o que ele era naquele momento.

O ser que acompanha outro ser durante os seus últimos últimos dez dias de vida, para atravessarem a ponte juntos.

Um Presságio de Morte.

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