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ELLIE

Uma tulipa, uma dália, uma frésia, uma rosa.

Não consigo nem pensar no que acabou de acontecer, então estou pensando em flores. Em qual delas uma garota como Áster escolheria para uma garota como eu.

— É claro que vamos — diz Paul. — Nem fica tão fora do caminho. É até a ponte e um pouco depois.

— Trinta e nove píeres depois — digo.

— Mesmo assim — assegura ele. — Você precisa fazer isso. Tem uma pessoa que você acha que pode amar, que acha que pode amar você também. Que tipo de amigo eu seria se não fizesse você correr atrás disso?

Eu ainda não estou pronta. Principalmente agora, depois que fiz besteira, fechei uma porta, compliquei tanto que nosso encontro vai começar com um pedido de desculpas em vez de um oi.

Mas Sofia estava certa quando me disse que tenho de partir pra outra sem pensar. Até eu consigo ver. Tem tantas pessoas no mundo que não têm sorte no amor. Posso ser uma delas, mas isso ainda não foi determinado. E se Áster for exatamente quem eu quero que ela seja? Ou se ela for diferente, inesperada, de uma forma ainda melhor?

E se ela puder mesmo mudar minha vida?

Seria um crime contra o amor não aproveitar essa chance, então faço para Camila um gesto silencioso em agradecimento e sigo na direção da ponte. Paul solta um gritinho quando passamos por ela, como se eu tivesse feito uma jogada incrível em um de seus jogos de beisebol.

Uma margarida, uma zínia, um lilás, um áster.

Enquanto listo as flores em pensamento, vejo uma nova série de quadros. Flores individuais com fundos azul-cobalto. Se eu as pintar direito, vão parecer mais que flores bonitas. Vão parecer possibilidades de amor.

A Embarcadero ainda está escura e imóvel. Pela primeira vez, é fácil achar uma vaga.

Desligo o motor e descemos do carro. Consigo ouvir os leões marinhos, nada além disso. O silêncio me abala, porque eu esperava encontrar o píer lotado de turistas carregando suvenires, as barrigas cheias de clam chowder e pão sourdough.

Mas está tarde, e tudo está fechado. Paul deve ter sentido minha preocupação, porque diz:

— Ela não veio fazer compras. Veio ver os leões marinhos. Vamos andar até o mar.

A cada passo, sinto um pouco de esperança escapar.

— Como ela é? — pergunta Paul, como se houvesse alguém ali para descrevê-la.

Eu o acompanho.

— Ela tem cabelo escuro e não muito longo. Nas fotos que vi, costuma cair nos olhos. De um jeito perfeito.

Ele sorri.

— E ela tem maçãs do rosto lindas e uma pequena cicatriz ao lado do olho, de um acidente no circo.

— De quê?

Eu dou uma gargalhada. Sinto como se ele já devesse saber tudo; esqueci que mal me conhece.

Então, conto tudo sobre ela e tenho a sensação de estar contando sobre mim, porque, quando se pensa em uma coisa tão intensamente por tanto tempo, essa coisa acaba tomando conta de todo o resto. Eu conto para ele sobre o circo e sobre Sabrina, sobre as palavras que Áster usa nas cartas que escreve. Conto sobre uma foto para a qual fiquei horas olhando, dela na frente de uma tenda de circo desabada, com tinta dourada no rosto e pulseiras no braço, a mão no cabelo desgrenhado, a curva da clavícula linda de doer. Fico contando tudo para ele até chegarmos ao final do píer e os últimos fragmentos de esperança desaparecerem.

À Primeira Vista (Ellister)Onde histórias criam vida. Descubra agora