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PAUL

Quando encontro Ellie depois da aula, ela parece totalmente surtada.

— O quê? — pergunto. — O que foi?

Ela me mostra o celular.

— É AntlerThorn. AntlerThorn me quer.

— Uau! — reajo. — Antler Thorn, é?

Ela assente.

— AntlerThorn já me mandou uma imagem para postar no Instagram. E eu postei. Isso é surreal.

— Sem dúvida! Eu só tenho uma pergunta

— Qual?

— Quem é Antler Thorn? Porque eu não acho que você seria do tipo que recebe ligações de astros do pornô gay. E Antler Thorn é nome de astro de pornô gay.

— É uma galeria. A que Garrison mencionou, lembra? AntlerThorn. Uma palavra só.

Ela fala como se fizesse muito mais sentido como uma palavra só.

— É incrível, né? — digo. Não sei muito sobre o mundo das artes, mas uma galeria querer você deve ser como ter os melhores olheiros te escolhendo, no mínimo.

— É incrível. Mas também é estranho. Porque é uma mentira que está virando verdade. A única pessoa que achava que eu ia fazer uma exposição em uma galeria era Áster. E agora, uma galeria quer que eu faça uma exposição lá.

Enquanto seguimos para seu carro, ela me explica melhor a história. Não comento que estou meio distraído pensando em algumas das roupas que Antler Thorn, Astro do Pornô Gay®, usaria. Não sei se ela gostaria disso.

Também sei que Trig gostaria. Quase sinto vontade de mandar uma mensagem para perguntar o que ele pensa quando ouve a expressão AntlerThorn.

E o imagino respondendo:

Vou ver o que Taylor diz.

Eu tenho de parar. Estou caindo no ridículo.

Agora estamos no carro de Ellie. Ela aponta para um envelope enorme no banco do passageiro.

— Quero que dê uma olhada e escolha os doze que devo mostrar a eles.

Nós entramos no carro, e eu digo:

— Não sei se é a melhor ideia. Trig é o cara das artes, não eu. Se você quiser escolher, fico feliz em dirigir...

Ela balança a cabeça.

— Se eu tentar escolher, vou demorar umas doze horas, e no fim das doze horas eu vou ter certeza de ser a pior pseudo-artista da história de tudo. É assim que eu sou. E nós não temos doze horas; eu tenho de estar lá às quatro. Porque estão fazendo uma exposição de artistas gays, e parece que um dos fotógrafos precisou remover seu trabalho porque tudo era reprodução das conversas do namorado traidor no Grindr, incluindo as fotos, e o namorado está ameaçando processar.

— A sorte tem um jeito estranho de sorrir, não é? — digo, abrindo o envelope. Ela vai ter de dirigir rápido se vamos chegar ao centro até as quatro.

Realmente não sei nada sobre pintura. Não sei se as cores que vejo são certas e nem se as formas fazem sentido. Eu não saberia dizer com que pintores Ellie é parecida, ou em que estilo pinta. Mas quase imediatamente consigo perceber uma coisa em suas pinturas: ela pinta com o coração.

Sinto como se estivesse lendo seu diário. Um diário feito de poemas, onde os espaços e as arrumações de palavras são tão importantes quanto as palavras em si. Essas pinturas não são naturezas-mortas. Não tem nada de morto na vida que existe ali. Tudo que ela pintou tem elementos presentes e elementos ausentes; dá para sentir a presença e a ausência, e é preciso entender se as figuras estão quase completas ou começando a se dissolver. Uma corda esticada pelo céu, com uma garota tentando se equilibrar. A corda é sólida, mas nenhuma das pontas está presa a nada. Em outra pintura, tem uma garota olhando para um aro de fogo. Dá para ver seu rosto ao redor do aro, mas, quando você olha ali dentro, tem um céu estrelado onde o olho deveria estar.

À Primeira Vista (Ellister)Onde histórias criam vida. Descubra agora