Quarta-Feira - 15

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PAUL

— Você acha que é ele? — pergunto, pela décima primeira vez em cinco minutos.

A aula ainda não começou. Estamos sentados no capô do carro de Ellie, tomando café e observando os garotos entrarem na escola.

— Mackenzie Whittaker?

— Aposto que, por trás daquele exterior turbulento de quem ama feira de ciências, ele é um gatinho. Nem um pouco como acho que seja.

— Sobre o que vocês dois conversariam?

— Ciências. Conversaríamos sobre ciências. Ciências quentes e pesadas. Ciências da terra.

— E ele?

Ela gesticula na direção de Ted Lee, um cara de meu time de beisebol.

— Hétero.

— Tem certeza?

Hétero.

— Você já pensou nisso, não foi?

— Já — admito. — Já pensei nisso. Alguns dos pensamentos foram bem detalhados. Mas a resposta continua a mesma. Ele é hétero.

— Eu odeio essa palavra. Hétero. No mínimo, os que não são hétero deviam ser chamados de similares. Ou de paralelos. Na verdade, gostei disso."Você acha que ela é hétero?" "Ah, não. Ela é paralela."

— Sabe o que eu odeio?

— O quê?

Eu olho para Ted, que está muito lindo.

— Odeio o fato de começarmos tudo com essa rodada de qualificação. Ele é ou não é? Se eu gostasse de garotas, não haveria isso. Bastaria ir pra cima, pois as chances estariam a meu favor. E, se a garota por acaso fosse paralela, a reação seria só algo do tipo ops.

— Mas e se o cara que você acha que é hétero não for quem você pensa que é? — Ellie diz isso como se fosse aluna da escola de treinamento para videntes.

— Sabe — digo, me encostando no para-brisa e tomando um gole de café.— A gente deveria ter um programa matinal. Só eu e você no capô de um carro, falando sobre todo mundo que passa. Seria um sucesso.

— E Diego? Ele é paralelo.

Apesar de saber de quem ela está falando, meu olhar segue na direção dele. Mas me arrependo, porque ele percebe, e há um momento constrangedor antes que vire o rosto.

— Ah — diz Ellie. — Interessante.

— Ele teve uma paixonite por mim — explico. — Por um tempo. Quase o ano inteiro. Me convidou pra sair. Três vezes.

— E por que você não aceitou? Ele é demais.

— Porque eu estava com outra pessoa. Só que não podia dizer pra Diego que estava com outra pessoa. Então, não tive escolha. Fui um babaca com ele.

— Você o quê?

— Banquei o babaca. Eu o dispensei. Fingi que ele não estava perguntando aquilo. Fiz parecer que eu era um cretino convencido, para que ele não achasse que havia alguma coisa errada com ele. Tentei muito fazer com que ele ficasse na zona da amizade. Você não faz ideia.

Não conto que ele chorou. Não seria justo. Mas ele chorou. A terceira vez foi a pior. Eu não entendo, ele ficava dizendo. E o que eu podia fazer? Eu só quero você como amigo, falei sem parar, até ter dificuldade de entender também. Quando dizemos algo muitas vezes, passa a ser apenas palavras.

À Primeira Vista (Ellister)Onde histórias criam vida. Descubra agora