Terça-Feira - 12

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Ellie

Acordo de repente com a luz quente de verão entrando pela janela, e olho meu celular.

Nada.

E isso é tão estranho, porque Paul disse que me mandaria uma mensagem acontecesse o que acontecesse. Se a notícia fosse boa ou ruim, bem me quer ou mal me quer.

E aí??, escrevo agora, e levo o celular comigo pelo corredor e o coloco na beirada da pia. Enquanto tomo banho, fico esperando que toque. Talvez a água faça muito barulho, ou talvez, enquanto estou embaixo dela pensando em beijar Áster, eu esteja absorta demais na lembrança para ouvir o toque do celular. Mas, quando puxo a cortina e verifico de novo, ele ainda não respondeu.

Seco o cabelo preocupada. Passo rímel preocupada. Levo o batom aos lábios preocupada, mas repenso na ideia do batom. Áster e eu vamos nos ver de novo aquela noite, e não quero ter de pensar no vermelho manchando meu rosto nem se espalhando na sua boca perfeita.

Não quero pensar em nada.

Quando ela me beijar, vou me perder no beijo.

Deixo o celular no colo enquanto dirijo até a escola, uma rara violação da regra de não ter celulares no banco da frente que meus pais impõem a si mesmos e a mim. Nós três temos tendência à distração e somos causa perdida quando o assunto é paciência. É melhor não nos provocar. Mas o trajeto segue sem mensagens, e, quando estaciono, decido que a noite deve ter sido boa para Paul.

Isso porque, se ele for como Sofia ou Camila ou Lauren, não necessariamente me mandaria uma mensagem se estivesse em um delírio de felicidade, mas certamente mandaria se estivesse arrasado. Ele me mandaria livros por mensagem. Coleções de vários volumes de poesia triste. Eu ficaria acordada a noite toda digitando Ah, não! e Que trágico! e Quer que eu vá até aí?

Quanto mais eu penso, mais percebo que a noite de Paul não foi apenas bem, mas muito bem. No estilo de ficarem acordados a noite toda. No estilo apaixonado de como pude não ter percebido antes. Talvez tenham se esquecido de programar o despertador, e os pais de Trig os tenham flagrado em um estado de união despida, e os dois estejam ouvindo um sermão neste exato momento. Ou talvez isso tenha acontecido tarde da noite de ontem, e agora estejam de castigo com os celulares confiscados, o que explica por que Paul não mandou mensagem.

A caminho do armário, faço um desvio pelo corredor C, onde fica o armário de Paul, mas não há sinal dele. Também não há sinal de Trig. Estou indo para meu corredor quando duas garotas do segundo ano me param.

— Mal podemos esperar pela abertura de sua exposição hoje — diz uma delas.

— É — diz a outra. — Soube que todos os seus quadros já foram vendidos. Que impressionante. Parabéns!

— Uau! — respondo. — Obrigada.

Com tudo acontecendo com Áster e Sofia e Paul, ainda não digeri meu novo status na ribalta. É assustador. E não posso exatamente festejar, porque, se essas garotas que eu mal conheço já estão a par de que alguém comprou todos os meus quadros, Sofia também deve estar

Mas até que Sofia é bem simpática comigo quando chego aos nossos armários.

— Grande noite — diz ela.

— E pensar que tudo começou como uma mentira — comento. — Fico esperando que alguma coisa dê errado. Acho que mentiras não foram feitas para virar verdade.

— Não era mentira. Era desejo. Ou pensamento mágico? Alguma coisa assim.

Eu dou de ombros. Não sei o que era para ela, mas para mim pareceu enganação. Foi tentar me fazer uma coisa maior do que eu era. E, agora, acho que tudo virou verdade, mas ainda não me sinto digna disso.

À Primeira Vista (Ellister)Onde histórias criam vida. Descubra agora