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ELLIE

Eu o encontro na calçada, exatamente onde a mensagem disse que estaria.

— Não consigo acreditar que você veio — digo.

— Não consigo acreditar que você não veio

Apesar de estarmos atrás da galeria, as luzes e vozes que vêm lá de dentro me dizem que a festa ainda está a toda quase quatro horas depois de ter começado. Vi a Sra. Rivera e a Sra. Gao entrando em um carro quando cheguei, mas consigo ouvir a voz de Sofia e a de Brad e uma gargalhada tão aguda e sem alegria que deve ser de Audra. Nem procuro a voz de Áster, pois sei que ela não está lá. Está em outro lugar, esperando que eu me redima.

A voz de Brad explode lá dentro, o prazo de uma hora para terminarem os lances no leilão.

— Podemos ir para outro lugar? — pergunto. — Podemos voltar pra cá depois, mas não posso entrar agora.

Paul se levanta.

Eu olho para ele; ele olha para mim.

Não somos os mesmos que éramos no domingo.

Ele passa a mão pelo cabelo, e até a forma como as mechas caem mudou. Ele não é um garoto de ouro, encantando o bar com seu visual arrasador e sexappeal saudável. Está ferido e maltratado, cansado e perdido. Se agora estivesse dançando no balcão de um bar, a mesma quantidade de pessoas olharia para ele, mas nenhuma sorriria.

Também consigo sentir a mudança em mim, mas não quero pensar nela. É uma coisa ser destruída por outra pessoa, outra bem diferente é ser destruída por si mesma.

— Garrison apareceu aqui procurando você.

— É sério?

— Ele tirou fotos minhas e me deu conselhos. Talvez ache que é meu fado padrinho.

Dou um sorriso apesar de tudo e penso na noite de sábado, naquela mansão e todas aquelas pessoas, e na sensação de que tudo era possível.

— Eles nunca vão perguntar o que aconteceu — digo. — Se não perguntaram até agora, não vão perguntar mais.

— Eu sei.

O carro estacionado à frente ganha vida, acende os faróis nos meus olhos.

— Que conselho ele deu?

— Falou umas coisas sobre corações. E aquela citação de Churchill sobre andar no inferno, só que adaptou para um coração partido.

— O Sr. Freeman adora essa citação. Você teve aula de história com ele?

— Tive, no primeiro ano.

— Eu amo a sala de aula dele. Todos aqueles pôsteres bonitos que ele emoldura em vez de prender nas paredes com tachinhas como todos os outros professores. Ele sempre tem chá na mesa, e a chaleira elétrica deixa a sala enevoada quando está frio do lado de fora. Eu nunca queria que aquela aula acabasse. Apesar de estarmos falando de guerras e traições e morte, de todas aquelas coisas horríveis que vivem se repetindo, quando eu estava na sua sala, me sentia segura.

Paul me observa enquanto falo isso, como se eu estivesse respondendo à pergunta de mais cedo. E talvez eu esteja. Ou, pelo menos, estou fazendo o melhor que posso ao considerar que não sei qual é a resposta.

O que está acontecendo com você?

Se eu conseguisse colocar em palavras, talvez a resposta não se esgueirasse por trás de mim dessa forma.

Eu fecho os olhos.

Violet.

Mas não está mais dando certo. Ela não é mais uma ideia, um feitiço ou uma fantasia. É uma pessoa cuja boca eu beijei. Sabe que eu tenho problemas e que fujo, e apesar de eu dever encontrar consolo no fato de ela me querer mesmo assim, não encontro.

À Primeira Vista (Ellister)Onde histórias criam vida. Descubra agora