Sabado Quinta-Feira Sexta-Feira Sabado - 21

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PAUL

Andamos pelo futuro e sentimos que o estávamos pegando emprestado.

Algumas pessoas ao redor eram famosas. Algumas eram famosas só em âmbito local. Nenhuma era adolescente.

Mas ali estávamos nós, andando por uma mansão em Russian Hill, sem saber direito se estávamos pregando uma peça neles, ou se eles estavam pregando uma peça em nós, ou se era possível que nada daquilo fosse uma peça, que um dia nossas vidas seriam assim, e naquele momento estivéssemos tendo um vislumbre precoce, tudo por causa de um fotógrafo que conheci em uma boate.

Não estava claro quem tinha dinheiro e quem não tinha. Não estava claro quem foi convidado e quem era penetra. Não estava claro o que estávamos comemorando, fora o fato comemorativo de termos ido até lá, de estarmos naquele momento. A única pessoa que parecia totalmente à vontade não era uma pessoa, mas um gato chamado Renoir.

Olhei ao redor e vi as constelações, a variedade de versões do tipo de pessoa que uma pessoa poderia ser. O álcool e a hora tardia afrouxavam as línguas dos outros, afrouxavam a música de seus lábios. Eu andei por tudo de mãos dadas com Ellie. Éramos João e Maria, e finalmente tínhamos encontrado a casa certa. As bruxas nos deixariam lamber a cobertura da tigela em vez de nos jogar no forno.

— O que estamos fazendo aqui? — perguntei a ela, repetidas vezes.

— Estamos absorvendo tudo — respondeu ela. — Precisamos absorver tudo.

Inevitavelmente, Trig tem de ir ao banheiro, e Taylor e eu ficamos sozinhos. Ele levou um DVD da versão britânica de Queer as Folk porque não consegue acreditar que nós nunca vimos, embora, para ser justo, tenha saído antes de nós nascermos. Está pausado durante um ato de línguas que espero que os pais de Trig não entrem e vejam. Ele ainda não conversou com os dois, mas está planejando falar no fim de semana. Mais cedo, Taylor e eu o ajudamos a criar estratégias. Em determinado ponto, interpretamos os pais dele. Eu fiz o papel de mãe.

De um modo geral, as coisas foram bem, porque, depois da conversa e da encenação de sair do armário, ficamos vendo TV e comendo. Na minha frente, Trig e Taylor não fizeram nada mais afetuoso que encostar um no outro e roçar braços.

Imagino que seria diferente se eu não estivesse aqui. Mas não me sinto pressionado a ir embora. Não por eles. E nem por mim.

Eu posso fazer isso. Pelo meu melhor amigo.

De alguma forma, como eu vinha me preparando o dia todo, o momento em que fiquei sozinho com Taylor não foi como imaginei. Não estou preparado para ele dizer obrigado. E é exatamente o que ele faz assim que Trig se afasta.

— Pelo quê? — pergunto.

Ele olha para a porta, verifica se Trig não está voltando.

— Por ficar com ele hoje — responde ele. — Por ajudá-lo a passar por isso. Por nunca o forçar a sair do armário, o que sei que não pode ter sido fácil. Meu melhor amigo saiu do armário dois anos depois de mim, e eu quase fiquei maluco.

De todas as coisas que me deixaram maluco, essa não foi uma das mais importantes. Mas não digo isso para Taylor. Só digo:

— A decisão foi dele. Sempre foi a decisão dele.

— Eu sei. Só estou dizendo que você é um amigo incrível. Você não precisa que eu diga isso. Mas, para o caso de ter dúvida, saiba que é. Ainda não conheço Trig tão bem, mas sei disso.

Ande! Cale a boca! Me conte mais! Pare de falar! Minha mente não sabe o que quer de Taylor. Quanto mais ele fala sobre mim e Trig sermos amigos, menos eu acho que ele sabe sobre nós. Fico feliz de Trig não ter me apresentado para o novo crush como um peso apaixonado e não correspondido. Fico feliz de nossos segredos estarem em segurança.

À Primeira Vista (Ellister)Onde histórias criam vida. Descubra agora