Quinta-Feira - 18

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ELLIE

É uma manhã normal de quinta-feira em minha cozinha. A cafeteira chia e bufa, como sempre; nos sentamos ao redor da mesa, como sempre. Mamãe, como sempre, lê a seção de economia, enquanto papai, como sempre, lê primeiro as notícias internacionais e depois se alegra com a parte de artes e entretenimento.

Comemos torrada, frutas e iogurte.

Esticamos os braços na frente uns dos outros para pegar a caixa de leite ou o pote de mel.

Periodicamente, olhamos o relógio vermelho, até um de nós dizer "Sete e meia", quando vamos reunir tudo e lavar os pratos, colocar os perecíveis de volta na geladeira e seguir para nossos três carros, estacionados lado a lado em nossa entrada larga de subúrbio. Não consigo nem explicar o consolo que essa rotina me dá. O consolo poderia ocupar o céu de tão imenso que é.

Mas não consigo apreciá-la há meses, por causa dessa coisa que estou carregando. Essa ansiedade. Esse medo arrasador e terrível. Esse peso do qual decidi me livrar ontem na sala das sombras, as mãos tocando nas de Paul e Aster. Parecíamos uma corrente de crianças de papel. Éramos substância e sombras. Éramos calor e mãos dadas, encantamento e amor. E a clareza que tive... foi de tirar o fôlego, me pegou de surpresa e depois me abandonou.

Então, talvez uma manhã normal de quinta-feira, à mesa do café da manhã, não seja a hora certa para fazer isso, mas vou fazer mesmo assim.

— Mãe? — digo. — Pai? Posso falar com vocês um momento?

Eles baixam o jornal.

— Claro — responde papai.

— Pode falar por mais que um momento — diz minha mãe, sorrindo, apesar de eu conseguir sentir seu nervosismo.

— Ando passando por momentos difíceis.

— Aconteceu alguma coisa com Sofia, não foi? — pergunta papai. — A casa não fica tão silenciosa assim desde que vocês se conheceram.

— Shh — diz mamãe. — Deixe que ela fale, querido.

— Certo. Continue, Ellie.

— É — concordo. — Sofia e eu estamos passando por uma situação. Talvez faça parte do problema, não sei. Mas a verdadeira dificuldade que estou tendo é a faculdade.

Mamãe inclina a cabeça. Papai tira os óculos, muito, muito lentamente, e aperta o ponto entre as sobrancelhas.

— Não quero ir — digo. — Não ainda.

— Hummmm — diz mamãe.

Papai continua apertando o ponto entre as sobrancelhas. Cada vez com mais força.

— Você pode... elaborar melhor? — pede mamãe.

— Posso — responde. — Me desculpem. Eu só quero adiar por um ano. Cada vez que penso em ir embora, entro em pânico. Sei que é normal ficar nervosa, que é uma coisa enorme sair de casa, cuidar de mim mesma, então é de se esperar que eu fique meio abalada. Mas eu também devia estar um pouco empolgada, não devia? E não estou. Nem um pouco. Não consigo nem pensar de tanto que odeio a ideia.

— Você odeia a ideia — diz mamãe.

— É. Odeio. Pai, você está me estressando. Vai acabar se machucando.

— Eu nem — diz papai. — Eu nem sei...

— Acho que o que seu pai está dizendo é que precisamos de um tempo para processar isso.

Não faço ideia do que está se passando na cabeça dela. A voz está calma; ela está até sorrindo. Mas trabalha no departamento de Recursos Humanos de uma firma de investimentos. Está acostumada a dizer para as pessoas o que elas fizeram de errado de uma forma que as faz se sentir bem com elas mesmas. Está acostumada a despedir pessoas e fazer parecer que é uma oportunidade.

À Primeira Vista (Ellister)Onde histórias criam vida. Descubra agora