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ELLIE

Quando vou procurar Sofia no almoço, me sinto o mais perto que já me senti de ser uma daquelas calouras solitárias nos primeiros dias de aula, os meninos e as meninas infelizes cujas famílias se mudaram bem na época de entrarem para o ensino médio ou as crianças excêntricas que estudaram em escola domiciliar, ou as que moram em cidades mais perigosas e conseguiram entrar, por sorte ou porque os pais mexeram os pauzinhos, no santuário suburbano que é nossa escola.

Sofia e eu dizíamos bênçãos para eles. Que o garoto da mochila roxa e cachecol encontre seu grupo. Que a garota de marias-chiquinhas e All Star branco novinho siga para o norte até o círculo de garotas com caneta permanente, e que elas personalizem aqueles tênis.

A não ser que fossem muito azarados, acabavam encontrando seu lugar, mas nos primeiros dias tímidos e errantes em que eles mordiscavam os sanduíches de cabeça baixa, Sofia e eu sofríamos por eles. Chegávamos à escola de mãos dadas, as duas recém-saídas do armário para o mundo, com uma quantidade absurda de parafernália de arco-íris decorando nossas mochilas. Pulseiras da amizade de arco-íris, camisetas de Legalize os Gays, as capas dos livros cobertas por todas as músicas de Tegan and Sara que sabíamos de cor, ou seja, todas.

Nós éramos faróis para os outros adolescentes queer. Demos conta de toda a parte difícil no oitavo ano. Não houve garotos constrangidos nos convidando para o baile, muito obrigada. Camila e Lauren, estranhas para nós e uma para a outra, nos encontraram pelo brilho do arco-íris de nossas mochilas. Um garoto chamado Hank também nos encontrou, e por seis meses encheu nossas vidas com quadrinhos e Frank Ocean. Mas aí começou a namorar Harry, e os pais dele descobriram, e ele começou a sumir lentamente da escola e, depois de um tempo, de nossas vidas.

Nós já devíamos saber, o mundo estava tentando nos dizer de tantas formas, mas foi Hank quem nos ensinou que a vida não era tão fácil para todos. Foi Hank quem disse para Sofia e para mim que tínhamos sorte. Foi Hank que fez a sorte às vezes ser uma coisa complicada.

E é em Hank que estou pensando agora, quando sigo até onde minhas amigas estão reunidas, de costas para mim, no deque dos formandos. Elas estão olhando para o resto da escola daquele local de superioridade conquistado com dificuldade. Eu deixo minha mochila ao lado da de Sofia. Pego meu celular e coloco "Super Rich Kids", de Frank Ocean. Aumento o volume até o máximo e apoio na amurada a nossa frente.

Nós balançamos a cabeça e ouvimos.

Quando acaba, Lauren diz:

— Ele devia estar aqui com a gente.

Camila diz:

— Surtei uma vez e decidi que ia encontrá-lo on-line. Procurei em toda parte. Cheguei a pensar em todos os nomes falsos que ele poderia usar.

— Eu também fiz isso — revela Lauren.

— Ellie e eu também — diz Sofia. — E achei que o vi uma vez na Telegraph. Chamei seu nome, mas ele não olhou.

— Nós éramos tão novos quando éramos amigos. — É o tipo de coisa que faria adultos revirarem os olhos, mas é verdade. — Tínhamos 14 anos. A voz dele ainda não tinha nem mudado. Ele era magrelo como uma criancinha. Não sei se eu o reconheceria agora.

— Hank — diz Camila. — Mandamos todo o nosso amor para você agora, onde quer que esteja.

Ficamos em silêncio por um tempo, depois eu digo:

— Tenho uma coisa pra contar a vocês.

— Vou tentar adivinhar. Você e Paul vão se casar.

— Pare com isso, Sofia — diz Camila, e todas nos viramos para ela, surpresos. — O quê? As coisas parecem normais pela primeira vez em uma semana. Vamos tentar ser positivas, tá?

À Primeira Vista (Ellister)Onde histórias criam vida. Descubra agora