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PAUL

Eu não quero que ela vá

Durante uns vinte minutos do tempo que passamos vendo Gilbert Grape, eu realmente esqueço o que está acontecendo comigo. Trig saiu da sala, e só estamos eu e Ellie e o filme. Minha mente consegue relaxar. Meu corpo fica à vontade. Não estou destruído.

Mas o filme termina e meus pais chegam em casa, e apesar de eu não querer que ela vá, Ellie pula como se tivesse terminado seu trabalho de babysitter e, não, ela não precisa que meu pai a leve em casa. Ela me dá um beijo no rosto, diz para minha mãe o quanto eu sou ótimo, e vai embora. Eu devia ficar com raiva, talvez, mas não posso culpá-la. Se eu não consigo suportar minha própria presença, como posso esperar que alguém suporte? Estou agradecido pelo esquecimento com o qual ela me presenteou, estou agradecido de haver uma pessoa no mundo que sabia que eu tinha de me afastar um pouco.

Agora, aqui estou com meus pais, e, apesar de estarmos na sala e eu estar de novo no sofá, parece que estou preso no banco de trás em uma viagem muito longa de carro, com minha mãe me examinando pelo retrovisor. Sei que pareço péssimo. Sei que ela reparou. Ela repara em tudo. Principalmente em coisas péssimas.

Mas, com meu pai aqui, ela não vai perguntar se aconteceu alguma coisa. Porque ele vai dizer para ela não se meter. É o jeito desajeitado que ele tem de me apoiar.

— Estou cansado — digo, me levantando e seguindo para a escada.

— Não está tarde ainda — observa minha mãe.

Está para mim, penso.

Espero que Ellie vá à inauguração. Foi fofo de sua parte aceitar o que eu queria em vez de me obrigar a ir com ela. Espero que não a tenha feito perder a exposição.

Sinto-me um amigo péssimo por tê-la prendido aqui por tanto tempo e por desejar que ela voltasse.

Tiro o celular do fundo do cesto de roupa suja, quase nostálgico pela pessoa que usou as roupas sujas que estou jogando para o lado. Só vou pegar o celular para poder desejar boa sorte a ela.

Mas, antes que eu possa fazer isso, tem outra mensagem de texto que eu tenho de ver.

Você está bem?

Como ele ousa me perguntar isso? Como ousa fazer parecer tão simples? Como ousa perguntar só uma vez?

Jurei que não ia olhar o celular, e, agora que quebrei a promessa, é como se as outras estivessem anuladas e inválidas. Como qualquer viciado, construí barreiras feitas de lenços de papel. Em um movimento intenso, abro o laptope olho todos os sites e apps onde Trig poderia ter postado alguma coisa; quero ver como foi sua noite, como foi seu dia, como a história aconteceu sem mim. Sou a porra do Tom Sawyer (ou seria a porra do HuckleberryFinn?) indo ao próprio enterro, mas estou fixado na reação de só um dos presentes. Só que essa pessoa não se deu ao trabalho de aparecer, porque, enquanto olho de janela em janela, não há palavra dele em lugar algum, não há foto, não há vida após a morte para ser vista. Só descubro pelo Facebook que ele está na inauguração de Ellie. Não diz se está acompanhado ou não.

Clico na lista de amigos. Digito Taylor na caixa de busca. Cinco pessoas aparecem. Duas são garotas chamadas Taylor. Duas são homens cujos sobrenomes são Taylor. E uma é o anticristo.

Sei que não é justo. Mas não é justo ver o quanto ele está lindo na foto, de camiseta rosa na frente da ponte Golden Gate, os óculos de sol enfiados no bolso sobre o coração, tatuagens de frases que não ouso dar zoom para ler. Não é justo clicar no perfil e descobrir que ele joga polo aquático e tem suas poesias publicadas em algum semanário alternativo da Bay Area. Não é justo ver uma postagem de 23h13 de ontem com uma foto de Taylor com o braço tatuado em volta de Trig, sentados em um sofá verde com dois outros caras, um banquete sobre a mesa de centro à frente.

À Primeira Vista (Ellister)Onde histórias criam vida. Descubra agora