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PAUL

Duvido.

Por que achamos isso legal? Por que sempre sentimos a necessidade de insistir e insistir e insistir? Não sabemos que insistir nunca é o jeito de fazer a outra pessoa se aproximar?

E mesmo assim.

Tem algo de poderoso em abandonar o conforto. Tem algo de intenso em sentir a pessoa insistir, em saber que a força por trás é a força do carinho, da crença genuína, que é insistindo que ela vai fazer você chegar a um lugar melhor.

Não estou pronto.

Quando subo a escada para o quarto de Trig, penso que a única resposta verdadeira para essa declaração poderia ser:

Quem está?

* * *

Ele ainda está de pijama. E isso não é justo, porque, no caso de Trig, o pijama é uma cueca boxer e uma camiseta velha e surrada da rainha Amidala, que é bem mais sexy que qualquer relíquia do final dos anos 1990 devia ser.

Mas não é isso que me chama atenção. O que estou vendo é um garoto tão perdido no mundo que não consegue nem sair da cama. O cansaço da falta de sono, o cansaço de pensamentos demais sem chegar ao certo. Ele parece um balão que já tocou no teto com alegria, mas agora, semanas depois, quica esquecido pelo chão.

— Obrigado por vir — diz ele. E o fato de ele sentir necessidade de me agradecer me deixa triste. Devia ser óbvio que eu estaria aqui, que sempre estarei aqui.

— Sei que é ridículo — continua ele. — O momento. Puta que pariu, só faltam dois dias de aula. Era de se esperar que eu conseguiria ficar no armário por mais dois dias. Mas, não. Ao que tudo indica, o plano não era esse.

— Então é isso? — pergunto. — É hoje o grande dia?
Ele indica com a mão o espaço ao lado dele na cama, depois segura um travesseiro contra o peito. Eu me sento no lugar onde ele indicou, de frente para ele.

— Hoje é o dia há muito tempo — diz ele. — Hoje é uma coisa que eu disse para mim mesmo com frequência sem nunca acreditar. Mas, esta semana... hoje realmente virou hoje. Chega de olhar para a parede e fingir que é um espelho. Chega de botar ficção na prateleira de não ficção. Chega de achar que eu poderia me safar disso. Sei que você não quer ouvir isso, mas foi Taylor que me chamou de blefe. Com você e comigo, o segredo era parte da história; ao menos, do jeito que eu a estava escrevendo. Sei que você teria escrito de um jeito diferente. Mas, comigo e com ele... eu tive de sair do mundo que criei. Tive de andar no mundo de verdade. Os sentimentos que estou tendo... não são sentimentos de amanhã. São sentimentos de hoje. Com você e comigo... é tão...

— Complicado? — sugiro.

— É. Complicado. Posso dizer outra coisa que você não quer ouvir?

— Claro.

— Se eu não tivesse visto você naquele balcão de bar... eu nunca teria tido coragem de falar com Taylor. De dançar com ele. De deixar isso tudo acontecer. Você me deu a inspiração de que eu precisava. Uma parte foi por competição. Tenho certeza: você fez aquilo para eu ter de fazer algo mais arriscado. Mas outra parte foi pura admiração. Então, flertei tão abertamente com ele... e fazer isso me fez perceber como era ser livre. Eu cheguei a esse ponto. Estou nesse ponto. Agora, só preciso descobrir os outros noventa e nove por cento. E, quer saber? Esses outros noventa e nove por cento são assustadores pra caralho.

À Primeira Vista (Ellister)Onde histórias criam vida. Descubra agora