ShawnMeus pulmões queimavam e eu não conseguia recuperar o fôlego.
Eu nem sabia onde estava. Eu me levantei ao amanhecer com uma ressaca hostil. Tylenol e duas garrafas de água não fizeram nada para aliviar a batida na minha cabeça. Eu não conseguia nem me lembrar de chegar em casa. Eu me lembrava de sentar no bar do aeroporto, disparando vodca e pedindo mais no avião. Depois disso, foi praticamente um borrão. De alguma forma eu consegui pegar o trem certo e cheguei na minha cama. Em qualquer outro dia, se eu tivesse acordado com esse tipo de dor de cabeça assassina, teria me virado e voltado a dormir.
Mas esta manhã eu precisava sentir mais dor. Então eu saí para correr. E eu corri. E corri. E continuei correndo. Eu corri até sair da praia, então continuei avançando, percorrendo ruas laterais e passando por casas e quarteirões o mais rápido que podia.
Finalmente, minhas pernas cederam e eu caí.
Então aqui estava eu, sentado no meio de um parque que nunca tinha visto antes, em algum quarteirão onde nunca estive, ofegando e sangrando de um joelho arranhado e aberto. Minha cabeça ainda doía, mas a queimadura nos meus pulmões parecia melhor.
Eu sentei com meus cotovelos nos joelhos e minha cabeça entre eles.
Meu pai é um maldito traidor.
O homem cuja cadeira eu sentei no trabalho, cuja filha eu criei nos últimos cinco anos, cujo relacionamento eu achava que era tudo... o homem que eu tinha admirado desde que conseguia me lembrar.
Doía pra caralho. E eu simplesmente não conseguia entender.
Por quê?
Por quê?
Meus pais pareciam tão apaixonados. Eles não brigavam. Eles não tinham problemas financeiros. Eles terminavam as frases um do outro, pelo amor de Deus. Enquanto me sentei lá, imagens deles passavam na minha cabeça como uma apresentação de slides acelerados.
Eles dançando no convés.
Mamãe lendo para o papai na praia.
Ele agarrando sua bunda e ela rindo quando achavam que ninguém estava prestando atenção.
Todos os eu te amo.
Os frascos de Mason.
Os dois escrevendo coisas que amavam um no outro e os trocando como presentes.
Quem diabos faz isso se não está apaixonado?
E essa era a parte que não conseguia conciliar.
Mesmo que tivesse descoberto que ele tinha um caso de longa data com outra mulher, eu ainda não tinha dúvidas de que ele amava minha mãe. Então, se ele amava minha mãe, por que faria isso?
Por quê?
Por quê?
Por quê?
A única resposta que fazia sentido era a que sua amante me dera. Eles se casaram muito jovens, nenhum deles conhecia uma vida sem o outro, e meu pai atingiu certa idade e começou a ter uma crise de identidade.
Uma crise de meia idade.
Não foi correto.
Isso era uma certeza.
Mas também foi o que aconteceu no casamento de Camila.
Porra.
Eu estava chateado como o inferno com o meu pai, mas não era por isso que meu peito parecia vazio no momento.
