VI - A câmara oculta na escuridão

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Ano de 481

 Felia não queria sair do quarto.

 Não queria participar do jantar idiota. Nem dançar no baile idiota. Muito menos ver a cara do Cassius que agiu como um idiota. Preferia continuar deitada na cama ou passar a noite na biblioteca do castelo lendo seus livros preferidos como fazia quando queria fugir dos próprios pensamentos.

 Alguém bateu levemente na porta do quarto.

 - Não posso permitir que você se atrase novamente.- Disse Cassius do outro lado da porta. Sua voz soou menos seca do que o habitual.

 - Não sou sua para que me permita qualquer coisa. - Gritou Felia e jogou um travesseiro na porta.

 - Princesa... Felia, por favor. - Insistiu com voz de suplica.

 Felia se levantou e correu até a porta. Abriu uma fresta e encarou Cassius que arregalou os olhos enquanto sua pele corava. Ele vestia um conjunto branco no mesmo estilo militar que usara de manhã.

 - O que foi? Nunca viu uma garota sem maquiagem? - Perguntou irritada.

 - Não é isso. - Ele desviou o olhar. – Não esperava que fosse abrir a porta para mim.

 Felia escancarou a porta. Seus cabelos estavam bagunçados e ainda vestia o vestido de cetim que gostava de usar para dormir.

 - Então porque veio? – Perguntou e Cassius permaneceu em silencio. - Não tem nada mais para dizer?

 Cassius olhou para Felia novamente.

 - O que aquele cara falou. Eu só... acho que ele tem razão.

 Ouve um momento de silencio.

 Felia não sabia ao certo se entendera o que Cassius queria dizer, ou se queria entender. A situação estava ficando difícil de controlar e ela odiava perder o controle. Ainda mais na frente do Cassius.

 - Espere lá embaixo.

 Cassius abriu a boca para dizer algo, mas Felia foi mais rápida ao fechar a porta. Seu coração batia forte. Suas orelhas pareciam carvão em brasa. Correu até o guarda roupas para procurar por uma roupa que combinasse com o traje dele, tirou um vestido rodado azul marinho com um leve decote e o jogou sobre a cama. Penteou os cabelos o mais rápido que pôde e o prendeu em um coque. Tudo bem se não estivesse perfeito, sua coroa cerimonial cobriria boa parte do penteado. Trocou de roupa e passou uma maquiagem leve.

 Quando encontrou Cassius na entrada da torre ele sorriu.

 - Você está linda. - Disse e ofereceu-lhe o braço. - Permita-me acompanha-la até o salão.

 Felia sentiu vontade de correr de volta para o quarto e enfiar-se nos travesseiros. A qualquer momento suas orelhas soltariam fumaça de tão quentes.

 A princesa sorriu e aceitou o convite segurando=o pelo braço com firmeza. Em parte para garantir que não fosse cair, pois suas pernas não paravam de tremer.

 Quando chegaram ao salão muitos observaram os dois enquanto se dirigiam para o centro. O jantar havia terminado e a organização removia as mesas para iniciarem o baile.

 Como não tivera tempo de conversar com os convidados mais cedo, Felia precisava cumprimentar a todos e dar-lhes atenção o máximo possível agora. Não se importaria de fazê-lo ao lado de Cassius, mas o rapaz gentilmente recolheu o braço assim que um convidado, um dos maiores comerciantes de Dales, se aproximou.

 Foi uma breve conversa, ninguém tinha muito que discutir com a princesa. Todos estavam mais interessados em disputar a atenção do Rei. Alguns lhe perguntavam se seu irmão mais velho tinha alguma pretensão de retornar das terras do Sul, mas ninguém sabia exatamente o que se passava na cabeça de Apelio. Quando a pergunta surgia Felia recomendava que perguntassem ao Rei e tão cedo o assunto morria.

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