XI - Meu reino por um talento

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Ano de 484


 - Acorda! - Gritou Celeste enquanto descia correndo as escadas.

 Klaus cobriu o rosto com o travesseiro.

 - Se eu tiver que tirar esse travesseiro do seu rosto vai ser com um chute. Minhas mãos estão ocupadas.

 Ele levantou o travesseiro um pouco, o bastante para ver Celeste segurando uma bandeja com pães e biscoitos em uma mão e comendo um dos biscoitos com a outra.

 - Deixe aí e vá embora. - Balbuciou e cobriu o rosto novamente.

 - Vamos lá. - Celeste sentou-se na beira da cama ao lado dos seus pés. - Não vai me dizer que falhar pela terceira vez seguida no teste para o exercito é o bastante para te deixar para baixo?

 Klaus não estava triste por ter falhado, mas sim pelo modo como falhou. Ele simplesmente não conseguia manejar uma espada bem o suficiente para passar no teste de combate. Se tivessem permitido que ele usasse uma adaga teria passado com facilidade há muito tempo. Neste ano chegou a ficar em primeiro lugar na corrida e em terceiro em técnicas de imobilização.

 - Eu não ligo mais. Era apenas um teste idiota. Nem deve ser tão bom assim fazer parte do exercito.

 Na verdade não se tratava de ser bom ou não fazer parte do exercito de Damora. Klaus pretendia passar no teste para enfim ter um salário. Da maneira como estava, sem uma moeda no bolso, como poderia pensar em fazer qualquer plano para o futuro?

 - Você ainda está treinando com uma espada escondido, não é verdade? Se pedisse para Kian te ensinar seria tudo mais fácil.

 Klaus não podia pedir por um treinamento diferente. Isso levantaria suspeitas e ele não queria que Arwin soubesse que ele estava fazendo o teste para o exercito. Ele apertou o travesseiro contra o rosto.

 - Não preciso da ajuda dele, nem de ninguém. - Sua voz saiu abafada.

 - Não é o que parece.

 Ele não podia ver o rosto de Celeste, mas sabia que ela o encarava com um olhar de desaprovação. Mesmo que ela não pudesse ver seu rosto ele torceu o nariz.

 - Se não vai agir diferente então saia logo de baixo desse lençol e me ajude a comer isso aqui seu idiota. É por causa dessa atitude que você é tão magricelo.

 Klaus tirou o travesseiro do rosto e sentou-se na cama. O lençol deslizou pelo seu corpo até cair em seu colo, revelando um corpo do qual agora se orgulhava. Nos últimos anos ele esteve treinando diariamente com um tirano que fazia questão de leva-lo ao limite. Não se tornara um cara grande, mas definitivamente não era mais o magricelo de antes. Celeste arqueou uma das sobrancelhas e desviou o olhar.

 - O que você trouxe hoje? - Perguntou ele enquanto se espreguiçava fazendo questão de cutucar Celeste um pouquinho com a ponta do pé ao esticar as pernas.

 - Biscoitos de polvilho, de leite, leite de coco cobertos com canela e açúcar e... ai. - Ela deu um beliscão no pé de Klaus e sorriu quando ele encolheu a perna para massagear onde doia. - Pães de mel.

 - Você quem fez os pães?

 Celeste mostrou a língua para ele, pegou um dos pães e deu uma baita mordida que a deixou de boca cheia.

 Klaus adorava a simplicidade dela. Assim como seu melhor amigo, a garota parecia ser capaz de fazer qualquer coisa que tentasse. Ainda assim, ela não se gabava nem zombava daqueles que realmente se esforçavam. Sua única dificuldade, para o terror de seus pais que são donos de uma padaria, era cozinhar. Celeste fazia biscoitos deliciosos, mais saborosos até mesmo do que os de seu pai que era o melhor cozinheiro da casa. No entanto, qualquer outra coisa que ela tentasse cozinhar poderia ser usada como arma em um combate real. Até mesmo sua salada tinha o potencial de vencer uma guerra.

Deuses do AlémOnde histórias criam vida. Descubra agora