II - Portas trancadas

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Ano de 481

 Entre gemidos, Klaus falha ao tentar se levantar. Sua cabeça estava pesada como um saco de pedras. Um saco de pedras quebradas se estivesse certo sobre o nariz.

 "Droga." – Resmungou com a voz nasalada.

 Também sentia uma leve pressão na cabeça. Uma faixa fora enrolada em sua testa e sobre o olho direito, onde acreditava ter levado um belo chute, e na altura do nariz forçando-o a respirar pela boca.

 Não sentia mais o calor do seu sangue em suas roupas. Na verdade, não sentia parte das suas roupas. Vestia apenas sua calça cor de caqui. Nenhum sinal dos seus sapatos de couro ou da sua camisa branca que agora devia estar com uma bela estampa escarlate. Não havia sangue em seu pescoço e peito. Klaus estremeceu ao imaginar algum estranho limpando seu corpo enquanto estava inconsciente.

 "Pelo menos deixaram minha calça no lugar." Pensou.

 Com um esforço maior conseguiu sentar-se no chão frio. Sua cabeça latejava. Após espreguiçar para ajudar a despertar o corpo ficou de pé e examinou o lugar.

 Estava em uma sala pequena. O chão, as paredes e o teto eram feitos de blocos retangulares de pedra escura. Um forte feixe de luz iluminava o local entrando por uma abertura na parede a sua esquerda. Infelizmente a abertura, que mais parecia a ausência de um dos blocos, ficava alta demais para que ele pudesse alcançar e escapar. A única saída da sala estava à sua direita, uma porta de mogno cuja tranca ficava do lado de fora.

 - Maravilha! Tantas horas praticando abrir fechaduras e não me servirão de nada agora que estou preso. - Chutou a porta com a sola do pé. - Obrigado pelo 'conhecimento que pode salvar sua vida' Yan. - Balbuciou imitando a voz de Yan. Depois voltou a examinar a sala. - Dessa vez farei as coisas do meu jeito.

 Tentou se jogar de ombro contra a porta. O que fez muito barulho e lhe rendeu uma tremenda dor de cabeça, contudo a porta não se moveu.

 - Considero isso um empate. - Concluiu.

 Do outro lado da porta alguém gritou com uma voz grave e rouca. Os sons de passos pesados e tilintar de metais começaram a ecoar em ritmo constante até que pararam frente à porta que foi destrancada e aberta, revelando um jovem alto com cabelos escuros longos penteados para trás, de rosto agudo e inexpressivo. Sua armadura metálica refletia a luz que entrava pela abertura na parede com tamanha eficiência que Klaus precisou cobrir o rosto com as mãos.

 - Meu nome é Kian. Guarda da Zona Leste do Reino de Damora. - Disse o jovem reluzente sem demonstrar qualquer emoção em sua voz. - Sem perguntas, apenas siga-me. É hora do seu julgamento.

 Não foi uma caminhada longa. Klaus sequer teve tempo de refletir sobre suas escolhas e descobrir onde cometeu o primeiro erro que o levou a uma vida de furtos. Teve no máximo tempo o suficiente para pensar 'Yan é um babaca e me deve uma'.

 Ao sair da cela, caminhou por um curto corredor que terminava em uma escada caracol. A escada os levou a uma sala mais ampla onde varias prateleiras metálicas estavam enfileiradas, cheias de papeis e caixas empoeiradas. As aberturas nas paredes que iluminavam aquela sala eram tão altas quanto as da cela onde acordara. O guarda e Klaus atravessaram a sala a passos largos em direção à outra porta de mogno. Seu guia parecia piscar como um vagalume sempre que atravessava os feixes de luz.

 Os dois pararam diante da porta que estava entreaberta.

 Na porta havia uma pintura do brasão do Reino de Damôra. A imagem continha um circulo dourado com vários pontinhos escuros ao seu redor. Klaus nunca entendeu o que eram aqueles pontinhos. Ladrões ao redor de um tesouro, dissera Yan certa vez.

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