Ano de 484
Klaus passou toda a manhã evitando lembrar-se do que acontecera – ou quase acontecera – em seu quarto enquanto conversava com Celeste. Se tivesse passado no teste aquele teria sido o momento perfeito para beija-la. Só de começar a imaginar como as coisas poderiam ter sido sentia vontade de bater com a cabeça em alguma parede. Caminhava apressadamente pelas ruas, sem direção, tentando deixar para trás suas lembranças. Quando passou próximo a uma praça alguém assobiou e ele olhou por reflexo na direção do assobio.
Um mercador usando um manto acinzentado com capuz acenava. Uma combinação um tanto suspeita.
- Ola! - Cumprimentou Klaus. - Você não é deste Reino, não é mesmo?
Qualquer mercador do Reino reconheceria o uniforme do Klaus e não gostavam de negociar com membros da guarda. Embora não usasse a armadura oficial, ele vestia uma camisa de manga comprida branca com o emblema do Reino costurado no centro do peito. Se isso não fosse o suficiente, a adaga de aço a mostra em sua cintura deveria ao menos indicar que seria um erro alguém tentar passar a perna nele.
- Você é um rapaz muito perspicaz. Não, eu não sou desta terra.
O mercador removeu o capuz, revelando uma pele tão escura quanto uma hematita. Pelas rugas em seu rosto parecia ser um homem de idade avançada, mas seus cabelos e barba eram tão escuros quanto sua pele. Ele sorria para Klaus.
- Meus produtos também não são desta terra. Gostaria de dar uma olhada? Eu lhe garanto, tenho algo que irá servi-lo muito bem.
Ele apontava para uma bancada de madeira coberta por um pano bege dobrado. Quando desdobrou o pano, inúmeros objetos surgiram. Colheres e copos de prata, um martelo de madeira, algumas ferraduras gastas, uma corrente parcialmente enferrujada e o que parecia ser um penico.
- Olha, isso parece mais sua trouxa de objetos pessoais do que produtos para serem vendidos. - Klaus falou com seriedade, fazendo esforço para não rir por causa do penico.
O mercador gargalhou.
- Sabia que você era perspicaz. Venha. - Ele sinalizou para Klaus o chamando. - Vou te mostrar algo realmente interessante.
Ele caminhou até sua carroça que estava parada a poucos metros de distancia, debaixo de uma grande árvore. Seu cavalo pastava ao lado da carroça, amarrado no tronco da arvore. O mercador revirou algumas bolsas até encontrar o que queria e virou-se com um sorriso no rosto. Quando percebeu que Klaus ainda estava ao lado da sua bancada de madeira com os braços cruzados balançou a cabeça e foi em sua direção.
- Vocês, jovens, deveriam ser um pouco mais educados. - Ele trazia um objeto enrolado em um pedaço de pano bege assim como o estendido na bancada, porém mais gasto. - Veja bem, este é um objeto sem igual. - O Mercador encarou Klaus como se o estivesse avaliando. - Espero que você seja capaz de manejá-la corretamente.
Klaus estava ficando irritado. O papo foi engraçado no começo, agora o sol estava esquentando sua cabeça e ele não queria perder o horário de almoço ouvindo as loucuras de um viajante que não batia bem das ideias. Quando o mercador começou a desenrolar o objeto uma ponta de lamina vermelha brilhou com o reflexo do sol. À medida que a lamina era revelada os olhos de Klaus se arregalavam. Ele nunca tinha visto nada parecido. Ela tinha o tamanho de um antebraço sem contar com o cabo e parecia feita de metal, mas ele podia enxergar através dela com quase a mesma facilidade que é possível ver através de um véu. Inscrições douradas em uma língua que Klaus não conhecia preenchiam parte da lamina. O cabo parecia feito de uma madeira escura que ele também desconhecia.
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Deuses do Além
AdventureKlaus estava prestes a ser morto por um arqueiro misterioso quando uma chuva de laminas afastou o inimigo. Uma figura coberta por um capuz apareceu na entrada do beco, onde antes estava o arqueiro, completamente encharcada pela chuva. Quando olhou n...