X - Parado em nome da sacola de feira

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Ano de 481

 Klaus estava exausto. Durante a manhã participou de um intenso treinamento envolvendo uma corrida de quase uma hora com armadura, agachamentos com armadura, saltos sem sair do lugar com armadura e o que Kian chamou de treinamento para o pulmão que não era mais do que respirar fundo e segurar o ar o máximo de tempo possível. Pelo menos esse era sem a armadura. Kian ainda encontrou tempo para 'ensina-lo' algumas técnicas de imobilização. Cada técnica envolvia posições um tanto constrangedoras, muita dor e a pequena possibilidade de Klaus sofrer uma morte por asfixia. Foram momentos divertidos para Kian pela forma como sorria enquanto apertava com as coxas o pescoço de Klaus.

 Como se tudo isso não bastasse, Klaus foi obrigado a fazer a patrulha usando uma cota de malha sobre a roupa. Não era tão pesada quando a armadura que usou para treinar, mas o peso extra o deixava desconfortável e tornava o simples ato de respirar enquanto caminhava um tanto cansativo. Pelo menos o treinamento para o pulmão começava a fazer sentido.

 Durante a tarde o comportamento de Kian mudou drasticamente, retornando ao estado sem emoção de quando Klaus o viu pela primeira vez. E foi assim, em silêncio, que os dois patrulharam a Zona Leste. Nada de muito importante aconteceu. Kian às vezes se aproximava de alguns vendedores e perguntava como estavam os negócios. Eles davam respostas curtas e voltavam ao trabalho como se a presença dos dois guardas não fosse muito desejada. Klaus queria saber o motivo dessas reações, mas não encontrava o momento certo para perguntar já que Kian tinha o péssimo habito de ignorá-lo por completo. Vez ou outra ele tentou puxar assunto, mas o guarda permanecia emudecido e com olhos atentos ao redor.

 Em certo momento, enquanto atravessava a rua, Klaus percebeu que estava caminhando sozinho. Kian havia parado abruptamente e agora encarava um jovem casal que paquerava entre si do outro lado da rua. O rapaz tirou um colar do bolso e presenteou a garota colocando a joia em seu pescoço. A garota, eufórica, deu-lhe um beijo. Kian arregalou os olhos.

 - Sabe... - Klaus começou a dizer meio sem jeito. - Se você não ficasse tão sério o tempo inteiro talvez tivesse uma namorada também.

 Kian o ignorou como sempre e começou a atravessar a rua caminhando na direção do casal. Sua feição não era mais tão neutra quanto antes. Agora ele parecia irritado.

 - Ei, espera aí amigão. - Klaus tentou entrar na frente. - O que está acontecendo?

 - Saia! - Gritou Kian com uma fúria que Klaus não conseguia compreender.

 Algumas pessoas pararam o que estavam fazendo e olharam na direção do guarda que colocou a mão no braço do Klaus e o empurrou com força para o lado. Depois, continuou a avançar na direção do casal que havia parado de paquerar e agora os observava assustados.

 O rapaz passou as mãos ao redor do pescoço da garota e falou algo em seu ouvindo. A garota sorriu. Depois segurou o rosto dela com as duas mãos, uma de cada lado, deu-lhe um beijo e saiu andando pela calçada.

 - Parado! - Gritou Kian indo atrás do rapaz que apertou o passo e dobrou a esquina.

 Kian, vestindo sua armadura reluzente, acelerou o passo e depois correu atrás do rapaz. Klaus ainda estava parado no meio da rua sem entender o que estava acontecendo.

 A garota que antes paquerava com o rapaz começou a gritar. Klaus correu até ela para ver o que havia acontecido.

 - Meu colar. Acabei de ganhar e já o perdi. - Ela passava as mãos ao redor do pescoço enquanto olhava para o chão procurando pela joia. - E ele combinava tão bem com os meus brincos de esmeralda. - Ela levou a mão às próprias orelhas e gritou novamente. - Meus brincos. Perdi os meus brincos também.

Deuses do AlémOnde histórias criam vida. Descubra agora