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II

VISITA INDESEJADA


ㅤㅤJOYCE ARRASTOU OS pés escada acima. Lamentava pela quinquagésima vez o fato de seu apartamento ser no sexto andar de um prédio sem elevador. Ela não deveria reclamar, pois o escolhera pelo preço baixo do condomínio, era o que podia comprar com a venda do antigo apartamento após completar dezenove anos — ninguém queria pagar caro num lugar onde a louca que via fantasmas havia tirado a própria vida —, também o que podia manter com o dinheiro que possuía.

O edifício não era ruim, apesar de ser pequeno. Tinha estética conservada, os degraus antiderrapantes, para os dias de tempestade, como aquele; onde os moradores subiam para seus apartamentos com a água da chuva batendo na mureta entre os lances de escadas, molhando os corredores e os degraus. A tintura nas paredes, embora fossem de um tom verde abacate-pálido, não possuía lascas ou manchas de mofo.

Só que ela estava cansada, as pernas doíam, a subida tornava sua respiração ofegante. Estava moída desde que lidou com o espírito errante e seu cachorro louco. Joyce havia sido mordida no braço esquerdo, cinco dedos abaixo do ombro, ganhado uma cicatriz e havia sido obrigada a tomar uma vacina antirrábica também.

Não bastavam os mortos a importunando, os vivos também faziam de tudo para perturbá-la mesmo quando fazia uma boa ação; pensou com amargura. Um misto de querer rir e gritar a inundou. Queria rir porque era risível tomar vacina antirrábica, sendo que o cachorro que a mordeu estava morto. Fantasmas não transmitem doenças, pois já estão mortos, mas a enfermeira que a atendeu não sabia disso. A médium tampouco podia lhe dizer. Ela não acreditaria, no fim das contas, e Joyce ainda correria o risco de visitar a ala da psiquiatria, onde encontraria mais fantasmas problemáticos e talvez o médico do escritório que roubou uma das plantas para usar a vitalidade e conectar a alma do fantasma em coma de volta ao corpo.

As feições dela se contorceram numa careta ao lembrar.

Joyce odiava recorrer a sua habilidade mediúnica desse modo. Odiou muito mais ouvir Jun chamá-la de necromante quando lhe contou sobre o que tinha feito, ao denunciar o agressor da moça, embora soubesse que os próprios médiuns também usavam aquele termo para se referir aos seus "conterrâneos" que utilizavam os dons vindos com a mediunidade para quebrar as regras que regiam o equilíbrio do mundo espiritual, trazendo um morto de volta a vida.

Mas tudo no mundo exige um preço. Com a vida não é diferente.

Poder invocar qualquer alma de volta para o corpo, usando a energia de outros seres vivos, era o preço exigido dos médiuns caso desejassem trazer alguém de volta a vida. Uma vida por uma vida. Ou várias, dependendo do estado do cadáver que se desejasse invocar o espírito. Dessa forma, se mantinha o equilíbrio.

No entanto, a mulher que Joyce ajudara ainda estava viva. O corpo dela despertaria quando o cérebro se recuperasse do trauma... ela só usou as habilidades mediúnicas para adiantar o processo e garantir que não houvesse sequelas quando despertasse, visto que o preço exigido naquela condição não era o que abominava...

Até Que A Morte Vos ReúnaOnde histórias criam vida. Descubra agora