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IV

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IV

COLEGAS DE QUARTO FANTASMAS



ㅤㅤUM FIO QUASE transparente reluziu na janela sob a luz do fim da tarde. Uma linha perfeita, apesar da chuva, feita por um dos bichos peçonhentos que a médium mais temia. Porém, naquele momento, o sentimento que a acometeu ao observar a teia de aranha, perto do vaso de peônias na escada de incêndio, foi a melancolia.

Aquele fio, quase invisível, de seu ponto de vista parecia os seres que só ela podia ver — seres que a tornavam diferente das outras pessoas.

Seres como o que estava sentado na janela com os cotovelos apoiados nos joelhos enquanto a fitava sem piscar; os lábios avermelhados unidos num beicinho caído.

Joyce suspirou.

— Você ainda está aqui...

— Pra onde mais eu iria? — retrucou Sunwoo, fechando a janela quando as gotas da chuva engrossaram e respingaram no quarto.

Era estranho poder se sentar e tocar objetos, mas não ser molhado pela chuva, assim como era estranho saber que o cheiro da água contra o metal da escada não passava de um resquício de sua antiga vida.

Ele parou ao lado da médium e se abaixou, apoiando os cotovelos sobre o colchão. A garota ranzinza diante dele era a única a existência no mundo que o fazia se sentir menos... morto.

Joyce resmungou quando ele colocou o rosto acima do dela, do modo irritante que vinha fazendo desde que decidiu que a convenceria a ajudá-lo de alguma maneira. Ela cobriu o rosto com o edredom para conter a vontade de socar a bela face que o infeliz tinha.

Desde que Jun desapareceu, os deixando sozinhos, Sunwoo a seguia para todo canto. Mesmo quando ela decidiu passar a tarde inteira na cama, já que, mais uma vez, estava sem emprego; o fantasma a seguiu com suas caras e bocas fofas e se sentou na janela.

Viver com Sunwoo não seria tão estranho, não seria o primeiro fantasma com quem moraria. Maitê DeLuna, a mãe dela, foi o primeiro, e viveram juntas quando a mulher ainda estava viva. Na época, era Joyce que cuidava de todas as tarefas, assim como da mãe. Dessa vez, ela não teria que cuidar de ninguém, poderia continuar fazendo as coisas do jeito que queria, quando queria, como fazia desde a morte da mãe, porque Sunwoo estava morto. Além disso, ele havia lhe feito uma proposta.

As roupas bagunçadas no dia anterior, enquanto procurava um fantasma entre suas coisas, estavam perfeitamente passadas e arrumadas nos cabides e caixas. A vida inteira Joyce esteve cercada por pessoas que a faziam se sentir sozinha. Da mãe aos tios com quem viveu até alcançar a maioridade, após a morte da mãe, nunca soube o que era ter alguém que se importasse em fazer algo por ela, mesmo que fosse por querer algo em troca.

Até Que A Morte Vos ReúnaOnde histórias criam vida. Descubra agora