— Alvo identificado. Dados recolhidos. Preparar para invasão.
Assim que começa, sempre começa assim. Seguro mais forte a arma um pouco nervoso. Respiro pesadamente por baixo do capacete preto. Meu coração estava acelerado, batendo firme, doendo. Fecho os olhos por um momento, esqueço que estou em uma nave acima da cidade, pronto para invadir e realizar uma operação de resgate. Por um breve instante esqueço todos os perigos lá em baixo, as armas a tilintar na nave e os outros soldados, todos em armaduras pretas, iguais.
— Um minuto para início da invasão.
Escuto novamente a voz ecoando no meu capacete. Hora de acordar. Olho para o capitão, ele faz um último aceno para a tropa e aperta um botão para iniciar as armaduras. Todos os cinco soldados no pelotão repetem a ação.
Uma luz brilha no teto, nos levantamos. Iguais. Um último respirar profundo, hora de ir. A porta da nave se abre, vemos no chão uma cidade em movimento, difusa e borrada. Nosso transporte não permanece parado, pelo contrário, ele se move até o local da missão.
— Preparar — Diz com força o capitão. Ele levanta a mão, três dedos para cima. Depois que o ultimo se abaixa, ele corre: — Agora.
Sem tempo de outras reações, ele pula da nave ainda em movimento e nós o seguimos. Imediatamente, o mundo gira. Sinto náuseas. Nos aproximamos em queda livre em direção a algum prédio abandonado. Sem paraquedas. Sem outra utilidade. Seguro firme a arma, graças ao capacete não tenho problemas de visibilidade. Porém, a queda livre me assusta, mesmo que já tenho feito isso milhares de vezes. Talvez, esse seja o meu problema, eu temo demais.
O visor do capacete se acende e meu corpo, sem que eu tenha muita coisa a fazer, solavanca. De minhas costas pequenos propulsores se iniciam diminuindo a velocidade da queda. Pousamos. Cada soldado, já com arma em mira, visualiza o terraço. Nada, somente uma estrutura velha com lixo e poeira. Sem inimigos visíveis.
Nos posicionamos. Lá fora no chão é perceptível a luz forte de viaturas e de repórteres. Tudo mais que se tem em uma cidade movimentada. Todos ao redor do prédio. Claro, ações terroristas desse porte dão notícia.
O capitão estica a mão apontando para uma pequena porta à frente. Corremos em fila única. Sou o terceiro. Era uma escada que dava acesso ao andar inferior. Um dos soldados se encosta e abre lentamente a porta, sem inimigos. Entramos, o tempo corria contra nós. Cada minuto martelava na cabeça.
Entramos, não havia inimigos. O corredor era sombrio, lixo se amontava em cada parte da passagem. Em cada lado, três portas se mostravam maltrapilhas e meio quebradas. Provavelmente, algum dia, fora um hotel.
O chão, de madeira velha, parecia preste a quebrar. Felizmente, nada de rangidos. Um segundo comando com a mão nos faz movimentar novamente. Nada de palavras, não precisávamos mais.
— Inimigos a frente, preparar para confronto.
A voz no comunicador ecoa novamente, nos entreolhamos, começaria a ficar mais complicado. Continuamos lentamente pela escada. Uma passagem única, quase um portão para o outro andar. No fim dele, uma porta.
Avançamos lentamente. Parecia que as trevas que cobrem o cômodo nos cobriam envolvendo nossos membros. Paramos um segundo, aquele em primeiro na fila olha por um cantinho da porta o corredor a frente. O capitão, que veem logo em seguida do primeiro, puxa uma pequena granada de fumaça e estica em direção ao da frente.
De novo a contagem dos dedos.
3... 2... 1...
A granada é lançada por uma brecha na porta, avançamos no meio de uma cortina de fumaça. Para nós, graça aos capacetes, não era um real problema. Antes que os inimigos pudessem perceber o ataque são eliminados, dois tiros rápidos. Sem gritos, sem nada. Nossos disparos são silenciosos.
Dois caem, os vigias. Um em cada porta do andar. Foram rápidos, talvez não deu nem tempo de sentir o disparo inaudível. A bomba de fumaça garantiu o resto. O capitão para, com certeza recebendo ordens. Aponta para a porta do meio na esquerda. Nos posicionamos. Fico em um lado da porta, dessa vez o primeiro da direita. O capitão na esquerda. Três para um lado e três para o outro. Eu e ele a entrar primeiro.
Lá de dentro se escuta um choro abafado, grunhidos mudos, dores contidas. Contagem... Dedos para cima e na minha mente o tique-taque do relógio alucina. Pronto.
O último dedo se abaixa. A porta é arrombada com um chute. Entramos.
Sou um dos primeiros junto com o capitão. Entramos já mirando nos alvos. Com o olhar rápido analiso o contexto. Sala grande e espaçosa com moveis velhos e acabados jogados nos cantos. No meio um círculo de homens e mulheres chorando. Vendas nos olhos e na boca, grunhidos abafados e ocos de pessoas sem grandes esperanças. Ao redor deles, homens com fuzis e outras armas, talvez 7 ao todo.
São pegos de surpresa pelo ataque, assustados se viram, confiaram na vigilância dos guardas nas portas, erro. Assim que entro, sem pensar em mais coisas, miro e atiro. Sem tempo para respirar ou pensar. O clarão das armas ilumina a pouca claridade do quarto. Eu e o capitão atiramos enquanto o choque da realidade não faz o efeito nos terroristas. Dois caem.
Sem muito outro pensamento, pulo no chão, me jogando em busca de algum abrigo enquanto eles agora respondem ao tiro. Fumaça do corredor começa a entrar na sala. Me jogo de trás de um sofá velho que aos poucos começa a ser furado. Uma segunda onda de tiros silenciosos reinicia, nossos tiros. Alguém cai. Não dá para ver e nem ouvir quem era.
Com o canto do olho vejo a posição dos inimigos, ainda quatro tentando se abrigar no canto da sala. Ótimo. Apoio o pé no sofá e o chuto. Ele é perfurado e furado cegamente. Sempre assim, o menor movimento. Se você não sabe o que é e nem quem é só há uma resposta, atirar.
Aquilo foi o bastante, um segundo de distração e alguns da minha equipe surgem da fumaça atirando. Os tiros cessam, não há mais inimigos. Os tiros de meus companheiros são letais e precisos, rápidos e limpos.
Me levanto ainda respirando pesadamente. Ao olhar os reféns, vejo que, felizmente, estão inteiras. Os soldados do pelotão correm para ajuda-los. Paro para respirar, estava soado por debaixo da armadura. Deixo que meus olhos percorram o quarto. Reféns, o.k. Inimigos, finalizados. Porém, quando estou preste a relaxar, vejo um gemido. Ao olhar para trás, vejo nosso capitão deitado. Sua armadura havia sido perfurada. Seu capacete tinha sido retirado. Ele respirava rápido e quase sem ar.
Olho para seu rosto, já o conhecia bem. Claro, nunca havia visto seu rosto sem capacete, mas realmente não precisava. Aquele era o meu rosto, quase como se eu olhasse para o espelho. Iguais. Sempre. Em movimento, em pensamento ou em rostos. Na verdade, todos ali, todos feitos iguais. Todos Clones, feitos para a guerra.
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Crise de identidade
Science Fiction#1° Lugar na categoria ação no concurso anjos e fadas. Crise mundial, tensões políticas, guerra. Esse foi o cenário de nosso surgimento, viemos como um exercito para manter a paz na terra, a lâmina da ONU. Clones feitos para a guerra, aprimorados ge...