Capítulo 11: Tons de preto e dourado

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Primeiro, vem o vazio, o nada existencial, a escuridão em sua primeira forma. Depois, quando vem o haja, a luz. Veio assim que eu apertei o botão no capacete, tendo apertado, houve luz. Quando esta chegou, vi-me em meio de um túnel largo, cortado a partir da terra, largo o suficiente para que eu pudesse ficar em pé e ainda sobrar espaço.

Cody e Ferris, agora também com suas armaduras, pulam para dentro do buraco. Agora, não havia mais sinal das antigas roupas, nem das bolsas, o local onde guardamos nossas armaduras, acopladas e prontas para se colocar contra o peito e ativar. Na verdade, aquela era uma versão diferente, feita para se esconder em pequenos objetos e para investigação. Mais leve e fina que a pesada que o comandante vestiu.

Recebemos as ordens de seguir. Seguimos lentamente, os túneis eram escuros, sem a presença de luzes, mas graças aos capacetes e a visão noturna embutida conseguimos ver. Era uma construção rústica, aparentemente sem preparo técnico, parecia quase feito manualmente em trabalho braçal. Pareciam túneis das antigas minas de escavação, coisa que atualmente é feita de maneira robótica.

Cody vai na frente, seguindo como batedor. Talvez uns cinco metros atrás dele vêm Ferris e eu. Continuamos avançando lentamente e com cuidado. De súbito, escuto a voz rouca de Ferris soando no comunicador particular.

— Ei, Capitão, isso está parecendo muito estranho. Acho que isso pode ser grande e perigoso.

— sim — concordo meio cansado — infelizmente, não temos outra opção além de avançar. Talvez venham reforços, mas não podemos esperar por eles.

Ferris se cala, aquilo era estranho, por alguns momentos, pareceu medo em sua voz. Deixo os pensamentos para lá. Vemos a distância uma luz. Continuamos. Passos ocos no meio das pedras, graças aos capacetes temos reservas de oxigênio para emergência, mas aquilo parecia sufocante. Mesmo com os visores do capacete, parecia que as trevas estavam a toco tempo a esticar sua mão em um toque gélido que preenche o corpo e arrepia.

Um toque em mãos finas e sem vida. Espera, realmente era isso. Aquilo era corrente de ar, estranho, então o túnel leva a algum lugar, algum canto que se liga com a superfície lá fora. Não demora muito para chegarmos a luz. Na verdade, o túnel aumentava em uma sala. Não havia ninguém.

Diferente do resto do caminho, aquele cômodo aparentava ter sido bem feito. Suas paredes eram retas, pintadas de uma cor branca. O piso coberto por um piso morto, de cor meio escura. Não havia mais nada que chamasse a atenção, a não ser por uma mesa de madeira marrom clara. Era uma mesa simples, sem detalhes. Por cima dela, vejo diversos papéis espalhados, uma raridade hoje em dia o seu uso.

Havia uma única luz pendurada sobre o teto a balançar, a visão noturna se desativa automaticamente. Me aproximo da mesa, alguns desenhos me chamam a atenção. Olho os diversos papéis jogados, pareciam planos. Haviam desenhos, porém não consigo fazer reações entre a realidade, prédios talvez. Infelizmente, todos estavam codificados, impossibilitando que fossem lidos.

— Comandante? Acho que encontramos algumas coisas interessantes...

Lhe falo do túnel, da sala e dos papéis. Ele fica em silêncio por alguns segundos, parece refletir o que fazer. Depois de longos momentos de silencio, escuto sua resposta. Aparentemente, ele tenta colocar confiança na voz, mas era visível a preocupação.

— Algumas outras unidades também encontraram instalações subterrâneas — Mais silêncio — Pois bem, irei lhe enviar um outro pelotão como reforço, esperem aí. Tomem cuidado.

Ligação encerrada. Esperamos. Cody volta depois de uma breve exploração, haviam dois túneis depois da sala se dividindo para a esquerda e direita. Pareciam idênticos ao anterior de onde viemos. Não seguimos por nenhum caminho, esperamos.

Isso até que simplesmente um cara aparece na entrada da sala vindo do caminho da esquerda. Não houve tempo, nunca há, somente o acontecimento e a reação. O homem, um chinês de estatura mediana, faz uma cara de pura surpresa ao nos ver. Seu olhar de espanto dá lugar a raiva. Sua mão se move rápido em direção da cintura em uma tentativa de sacar alguma arma escondida. Entretanto, não tem tempo de terminar a ação. Cody, a pessoa mais próxima puxa sua arma. O homem não possui reação somente cai gritando. Cai como um saco de batata lançado contra a parede.

O eco de seu grito ecoa pela instalação, depois de segundo morre na garganta. Cody se aproxima para revista-lo e corre. Corre em toda a velocidade descendo pelo caminho da esquerda. Sem esperar suas palavras corremos em disparada o acompanhando.

— Aquele tinha um companheiro. Foi alertado.

Cody diz com palavras entrecortadas. Continuamos a perseguição por um inimigo invisível. Incorpóreo a nossa frente, porém, tão mortífero quanto. Depois do início da corrida, não há mais detalhes, tudo se mistura em um misto de velocidade e adrenalina. Corações bombeiam o sangue em grandes proporções.

Para seu azar, nossa velocidade aumenta a cada segundo. Corremos, as pernas ardem ligeiramente pela disparada inesperada. Sinto os músculos a pulsarem e a impulsionarem o corpo para frente.

Rápido, rápido. Mais, mais. Passamos correndo por entre algumas salas com mesas incorporadas as paredes, mesas com diversos aparelhos, máquinas desmontadas e projetos desconhecidos.

Mais. Mais.

Estávamos quase a alcança-lo. O tempo se torna mais lento ao meu redor, devagar, como se tudo ocorresse em câmera lenta. O homem corre, agora já consigo o ver. Era alto, magro, seus cabelos pretos esvoaçam.

Chegamos a uma segunda sala de troços nas paredes. O homem pula desesperado agarrando algo. Assim que o faz, Ferris levanta a arma, aponta e atira. Ainda no túnel escuro, sua arma brilha em um estouro dourado. Tudo lento. Fios de linha dourados voam em direção do homem, linhas como de agulha a tricotar uma roupa, furando, abrindo, entrando.

O homem estagna, sua reação. Cai de joelhos. Em sua mão, vejo um detonador. Prendo a respiração. Seu dedo aperta o botão vermelho, mais reflexo automático do que voluntário. Nada. Nada. Nada. Tremor. O chão treme. Nada. Depois, o som ecoa, alto e forte em um grito seco. Uma explosão.

Crise de identidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora