Capítulo 9: Quando o frio invade...

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— O treinamento será simples — Grita o comandante Raegan no centro da arena. Ele para, olha se todos estão ouvindo e continua com sua voz contundente — Primeiramente, será um combate entre dois pelotões. Cada um ficará em uma extremidade dessa arena, ali será sua base. Nela, haverá uma bandeira. Vocês precisam proteger as suas bandeiras e pegar a do adversário. Simples, não? Vocês estão prontos? Vamos começar.

...

Estava frio naquele grande galpão. Eu e meus amigos nos sentávamos em arquibancadas nas laterais de uma arena de talvez uns 50 metros quadrados. Observo o local, na arena, que não era plana, mas cheio de subidas, declives e diversos objetos e construções, se via duas equipes a batalhar na tentativa de pegar a bandeira do outro.

Assim que a bandeira é capturada, diversos alarmes soam e alguns drones que gravam tudo anunciam a finalização do teste. Era uma batalha simples, mas extremamente complexa, já que, da sua base, não se tem uma ampla visão da arena. A estrutura era muito disforme para ter uma boa visibilidade, diversos cilindros, quadrados e colunas se projetam feitas diretamente do solo por impressoras 3d industrializadas.

Ao todo talvez houvesse 10 pelotões dentro daquele galpão, toda a nossa divisão. Aquele era uma área anexa ao nosso dormitório na sede da ONU. Respiro fundo, já um pouco cansado. Tento planejar alguma estratégia, mas tudo era extremamente complicado.

Olho atentamente aos dois grupos de pessoas que agora estavam perto de se encontrar, eles correm rápido. Pulando de declines a outros objetos. Descendo rampas e correndo até se escorar em alguma coluna e se esconder, todos portavam armas de imobilização capazes de disparar rajadas elétricas não mortais, mas dolorosas.

Naquele estado, em cima a observar, percebo o quão poderoso podemos ser. Cada soldado ali movia-se como um recordista olímpico, em movimentos rápidos e precisos. Éramos o exército que todo líder sonharia, ágil, forte, com mira precisa. Mas não só isso, treinados desde a infância, ajudados por envelhecimento acelerado, a todas as situações possíveis em cargas de treinos exaustivas. Diferente de droides, que não raciocinam, podíamos planejar medidas de ação e efetuar uma missão com ainda mais segurança.

E continuávamos a crescer, a nos tornar maiores, mais poderosos. Isso impunha o respeito, a força da ONU só cresce, como nunca antes. O QG de onde eu vim, o único que conheço, no pacifico, talvez tenha poderio militar para enfrentar alguma das grandes potencias atuais e isso é de alguma forma assustador.

Os alarmes soam cortando meus pensamentos. O comandante Raengan grita chamando meu pelotão e outro, nossa vez. Ferris, que estava jogado na arquibancada, se levanta em um pulo, já sorrindo. Já Cody se levanta lentamente bocejando, parecia cansado.

Nos posicionamos, armas em punho. Agora era diferente, estávamos no campo de batalha, hora da ação. Nossa base ficava no fim de vários declines, em uma espécie de buraco. Era simples, somente uma haste com uma bandeira branca, nenhum detalhe, nenhuma proteção adicional somente um pedaço de pano amarro em uma vara de metal pregada no chão.

Um segundo alarme soa iniciando o treino. Cody corre na frente gritando para nós:

— Boa sorte para me acompanhar!

Corremos atrás ao ouvir isso. Sempre era assim, Cody, como o mais rápido e ágil de nós, ia na frente em uma sondagem por possíveis inimigos. Era interessante ver como ele se movia. Estávamos sem nossas típicas armaduras, somente roupas leves e casacos de frio. Por causa disso, era ainda mais visível a agilidade dos movimentos de Cody que corria a 5 metros de nós, pulando de obstáculo em obstáculo, sempre a vigiar o nosso caminho a frente, enquanto que Ferris e eu ficávamos na retaguarda em um suporte tático.

No começo, avançamos rápido, correndo. Porém, já na metade da arena, paramos e nos movemos lentamente. Era uma estrutura grande que permitia se esconder com facilidade. Já por causa disso, era claustrofóbica. Avançamos lento, sempre a esperar os tiros a qualquer minuto. Talvez, o pior não fosse isso e sim o silencio antes deles. Cada minuto decorrido fazia o coração acelerar.

Esperávamos que a cada driblar de objeto, os inimigos aparecessem. Mas não foi isso, prosseguimos sem interferência. Não foi difícil saber o plano deles, eles não correriam até nós. Pelo contrário, esperariam que pulássemos indefesos em suas garras. Era uma armadilha, sem dúvida e corríamos diretamente para ela.

Creio que meus companheiros entenderam também a situação, avançamos ainda mais lentamente, receosos com aquilo. Por sorte, tínhamos Cody que era um ótimo batedor. Mas ainda assim, não gostava a ideia de uma armadilha.

Não demora muito para que cheguemos até a área mais próxima da base deles. Nenhum sinal. A área era composta de diversas colunas dispersas em um breve espaçamento entre si. No final da arena, já encostado com a parede, elevava-se em quadrado com a bandeira deles colocada.

Eles estavam ali em algum lugar, sentia isso. Nos juntamos. Poderíamos tentar avançar rápido até a base, era a única opção visível. Mas ainda assim, não era aquilo que eu queria. Sem grandes motivos, lembro de um treino de alguns garotos. Vejo suas ações perfeitamente na minha cabeça, foi o dia em que fui promovido, acho que cada detalhe daquele dia ficou gravado. Bem... o maior erro deles foi avançar sem pensar direito. Pois bem, não cometeríamos esse mesmo erro.

Me aproximo e descrevo em sussurros o meu plano para Cody e Ferris, eles concordam. Nos preparamos, não sabia se daria certo, mas teria que tentar. Estávamos abrigados em um retângulo baixo, dali, podíamos ver a base deles e o nosso alvo.

Nos preparamos para correr. Respiro fundo e jogo meu casaco para cima. Era uma ação simples que poderia não funcionar e que nos revelaria, mas se existe uma coisa que se aprende em um campo de batalha é que, se algo se mexe, você atira.

E foi exatamente isso que aconteceu, o casaco é atingido por três tiros rápidos e certeiros. Aproveitando a oportunidade, pulamos para uma outra construção. Agora, tanto eles quanto nós sabíamos onde cada um estava. Eles, como pensávamos, tinham se escondido em um triangulo ao redor da base.

Avançamos correndo rápido entre as estruturas, abaixados e a ver o mundo explodir em pequenos disparos azuis brilhantes.

Trocamos tiros e nos separamos, cada um refugiado em algum canto. Todo o galpão grita com o barulho das armas. Porém, naquele impasse, ficávamos sem poder avançar. Agora, era a pura estratégia, sem armas de fumaça e sem outros instrumentos.

O tempo urgia, tudo explodia em azul. Continuamos a atacar. Cody estava perto, mas os tiros estavam intensos e cada milímetro de terreno era defendido com afinco. Olho para Ferris caçando o seu olhar. Assim que o encontro, falo movendo os lábios "Cobertura, Cody". Ele balança a cabeça.

Respiro fundo, fecho os olhos e ao abri-los tento criar coragem. Hora de ir. Simplesmente saiu de minha proteção, saltando para o terreno vazio e a atirar. A surpresa foi imediata, acho que não esperavam por essa atitude.

Suas armas apontam contra o meu peito, todas as três. Sou lançado contra o chão a ver o mundo girar. Meu corpo se contrai sem que eu tenha o controle sobre ele. Uma forte dor percorre meu corpo. Enquanto isso, sirenes soam, o treinamento terminou.

Minha cabeça dói, minha visão embaça, mas consigo escutar algumas frases soltas de Ferris e de Cody. Depois de um tempo, desmaio.

Crise de identidadeOnde histórias criam vida. Descubra agora