Capítulo 2: Beta-19

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Já fazem dois dias desde a missão e a imagem do capitão jogado no chão não sai da minha cabeça. Sem muito o que fazer, me jogo em cima da cama. O livro que lia recai sobre meu peito e olho para o teto. Nele, quase como uma projeção, o rosto do capitão se revela entre o forro cinza.

Desisto, balanço a cabeça e volto a ler. Por alguns segundos, meus olhos pesam e tento resistir a vontade de cochilar rapidamente. A porta se abre. Dou um pulo involuntário e fico em posição de sentido.

– Beta-19?

– Sim, senhor!

Respondo de maneira abrupta ao homem na porta. Um dos oficiais de posição sobre a organização, alto, cabelos loiros já embranquecidos pela idade e um olhar Aquino e penetrante, sempre a analisar todo o sujeito do fundo de sua alma para fora.

Ele olha para o livro jogado em cima da cama, não fala nada sobre isso. Volta seu olhar para mim e, sem mover um músculo, diz:

– Parabéns, você está oficialmente sendo promovido a patente de capitão. A partir de hoje será aquele que liderará seu pelotão – ele espera alguma reação, não demonstro nenhuma, por isso só continua – Esteja na sala de reunião depois do almoço, não se atrase.

– Obrigado, Senhor! – Respondo.

Ele dá um último olhar e sai. Com isso, posso finalmente voltar a respirar. Volto a me sentar na cama com as mãos na cabeça. Por algum grande motivo, aquela imagem não saia de meus olhos. O pior de tudo é que era o meu rosto estampado na cara do capitão, na verdade, o rosto de quase todos nós aqui, com variação de jeito e trejeitos.

Agora, sou eu o capitão, o próximo na linha de tiro. Talvez, o próximo a morrer.

...

– Steve, aqui!

Caminho pelo grande galpão que era o refeitório e vou em direção ao chamado, meu pelotão. Lá na mesa, vejo Cody, um dos mais novos da equipe e aquele que me chamou. Me sento em silencio. Cody e Ferris me olham com aquele olhar típico de interrogatório. Depois de alguns bons minutos, quando percebem que eu não diria, falaram quase ao mesmo tempo.

– Então, quando ia nos contar que é o novo chefão?

Sorrio, paro e olho para eles. Enfim, é ruim descrever alguém que é quase igual a você. Mesma cor morena, de cabelos pretos e olhos castanhos escuros. Claro, todos temos nossos jeitos diferentes, mesmo sendo clones. Cody era o mais "novo" de nós, foi o último a entrar na equipe, tem o jeito mais aberto e brincalhão. Seu cabelo preto era solto e largado em sua cabeça em fios despenteados. Já Ferris era duro, com cabeça raspada e olhar irônico, com certeza, ele seria o primeiro cara a começar a briga no bar.

No fim, somente respiro fundo e digo:

– Sei lá, não sei se sou a pessoa certa para isso. Bem... além que não quero mais trabalho.

Digo e dou um sorriso, depois não me aguento e rio da cara de incredulidade de ambos. Acho que estão decepcionados, sempre fui o mais desinteressado do grupo, talvez o mais preguiçoso também.

– Cara, desencana. Você é melhor de nós para isso.

Diz Cody, porém não tenho tempo de responder. O alarme soa e eu tenho que ir, hora da reunião. Acho que os momentos de refeição têm se tornada cada vez mais curtos, porém não digo nada, termino bem rápido o meu almoço e saio na direção da reunião.

...

Não demora muito para a sala ficar cheia, era um espaço pequeno e pouco iluminado com uma mesa oval e longa no meio. De paredes cinzas e forro, parecia um grande teatro, só que sem muita cor. Lá, uma quantidade de talvez 10 pessoas permaneciam ao redor da mesa a conversar sobre qualquer coisa, todos capitães. Eu estava entre eles, mas não tinha coragem de conversar muito, nem vontade o suficiente.

A porta se abre. Vejo o mesmo homem de cabelos loiros a entrar na sala. Dessa vez, ele estava em seu uniforme militar, com insígnias e patentes. Ao seu redor, dois soldados de elite em armaduras pretas lhe escoltam.

A sala fica em silencio. General Nash, o mesmo que viera em meu quarto de manhã. Aquele era um ser que impunha respeito, medo. Parecia que sua aura encobria toda a sala, sufocando a todos. Tirando todo a energia, como se sua presença quebrasse o espirito de todos.

Seus olhos percorrem a sala, encarando olho a olho. Inspecionado, averiguando, infiltrando-se na alma das pessoas. Seu olhar para em mim por alguns segundos, me encara e começa a caminhar lentamente até a mesa. Um espaço é aberto entre as pessoas que se afastam de sua presença. Ele se aproxima da mesa, aperta um botão e ela se acende iluminando a sala de azul. Uma imagem holográfica se projeta, aparentemente uma construção, paredes grandes e sólidas, no meio de uma área desértica e isolada.

– Boa tarde a todos, vamos começar nossa reunião – sua voz grave ecoa por toda a sala. Ele respira lentamente, olha novamente para todos e continua – espero que prestem atenção, pois será importante. A partir de hoje receberão as instruções para uma missão de alto grau. Como todos sabem, tivemos casos de ataques terroristas em algumas cidades europeias e asiáticas. Pois bem, esses ataques pertencem a um grupo terrorista no oriente médio que permaneceu por muito tempo desconhecido. Entretanto, a base desse grupo foi localizada, iremos invadi-la, desmontar o grupo e eliminar seus líderes. Fui claro?!

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