Seguimos pelos corredores brancos, passo após passo. Nosso anfitrião ia na frente, nós o seguíamos. O secretário-geral parecia tenso e seu costumeiro sorriso fácil havia se desmanchado. Por algum motivo ilógico, eu permanecia como sua escolta junto do comandante Raegan, todos os outros foram dispersados pelo perímetro. Em dias normais, talvez não fosse necessária escolta dentro da casa branca, mas aqueles não eram dias normais. Mesmo fortificações federais em diversos países sofreram ataques, nada era realmente seguro.
Ao andar pelos corredores, nos deparamos com diversos empregados e funcionários. A maioria permanece de cabeça baixa e sem no olhar nos olhos, os que o fazem, demonstram medo, e pior, aversão. Aquilo, de certa forma, me fazia repensar as teorias conspiratórias do oficial Hughes. Realmente, era uma situação estranha.
Aversão, era o sentimento imposto e que reinava dentro daquele prédio espaçoso. Era visível, ninguém precisava dizer diretamente, nenhuma palavra era necessária, não éramos queridos ou desejados naquele local. Sem empatia e nem emoções.
Presidente Underwood sorria, caminhava confiante. Parecia amigável, a contrastar tudo ao redor. Não tínhamos realmente opção a não ser segui-lo. Ele para, abre uma porta e entra. Sua secretária o acompanha seguindo de perto. Entramos. Duas cadeiras são puxadas, Underwood e Kruger se sentam frente a frente. Era uma sala arredondada, sem cantos. Tyra se posiciona ao lado do seu patrão, com sua prancheta levantada e os olhos focados nela.
Fico perto da porta. Aquele era o salão azul, local fácil de reconhecer pelas paredes azuladas, além de cortinas a combinarem e cadeiras com o mesmo estofado. Tudo azul e branco. Nas paredes, diversos quadros de figuras históricas, pinturas. Além de janelas, três que dão vista para o gramado sul. Aquela era a sala de reuniões para pessoas importantes. As duas importantes figuras se acomodam, havia uma mesa marrom entre ambos.
O representante da ONU puxa a manga do paletó e aperta um botão no relógio. Imediatamente, as luzes da sala diminuem a intensidade e uma imagem holográfica flutua acima da mesa. Nela, diversas imagens de pessoas, provavelmente importantes, e algumas edificações destruídas. Bradley inicia suas falas.
— Senhor presidente, como pode ver, demonstro algumas imagens das ações do exército da paz. Graças a sua expansão e as diversas bases feitas ao redor do globo, conseguimos encontrar e desmantelar mais de 50 centros operacionais terroristas, além de conseguir encontrar e eliminar algumas das cabeças dessa hidra — Ele para, respira. Era incrível o quão organizado era aquelas células terroristas, esses unicistas, como agora estavam sendo chamados, presentavam divisão de pelotão e ainda inteligência sofisticada. Kruger continua — Antes de tudo, gostaria de agradecer por ceder alguns centros para o exército de paz poder atuar em seu solo...
— Olha, Kruger, sei muito bem que não estamos aqui para discutir sobre isso. Vamos logo ao que interessa — O sorriso no rosto do presidente se desmancha, em seu lugar, uma máscara de aço lhe cobre o rosto, não parecia ter emoções naquilo — Isso foi um ultraje, o governo chinês nos insulta diretamente, além de nos acusar falsamente.
— Ora, Thomas, não acho que isso seja motivo para...
— Não é motivo? — Underwood bate as mãos na mesa, Kruger não reage — Como não é motivo? Por anos a China tem atacado de maneira indireta, insultam nosso solo, tentam nos espionar, agora nos acusam de comandar terroristas? Por Deus, eles passam de todos os limites.
— Eu sei, Thomas, por Deus, eu sei. Mas, peço que isso não seja motivo para ações impensadas.
Há um momento de silencio. Por algum motivo, não consigo parar de escutar tudo aquilo. Aquele dialogo parecia um combate, não uma luta com punhos. Uma guerra com palavras, com intriga. Creio que essa seja o que os outros chamam de política. Ambos querem algo, ninguém quer ceder. No meio do fogo cruzado, fica os "nós".
— Pois bem, medidas econômicas já foram preparadas. Embargos foram aprovados pelo senado. Além disso, obrigarei que os meus países aliados façam o mesmo. E espero que a ONU não interfira quanto a isso.
O secretário-geral respira fundo, parece aliviado. Realmente, o mínimo que poderia ter é uma guerra comercial, claro, esse é o melhor cenário.
— Pois bem, sendo somente isso, a ONU não intervirá.
Underwood sorria, parece ser dele a vitória do primeiro round.
— Claro, não descartamos nenhuma medida, seja ela extrema como for.
Kruger empalidece. Parece realmente surpreso. Ele estava contra a parede tentando puxar um navio pela ancora. Era incrível o quanto parecia desejável uma guerra. Talvez seja mesmo.
— Não acredito nisso, vim aqui exatamente para tentar acalmar os ânimos. Enviei outra pessoa para a China e vim pessoalmente para conseguir sua palavra que não passaríamos por uma nova crise dos misseis.
— E digo que não farei nada. Não quero isso tanto quanto você não quer. Garanto que não haverá nada, se a China não fizer outra bobagem.
— Pois bem, tenho sua palavra que se for assim não fará nada?
Kruger se levanta quase em um salto esticando a mão para um aperto. Underwood permanece sentado, parece pensativo. Aquela era sua vez de pensar se apertaria a mão. Enquanto isso, a sala estava em uma tensão, parecia que chumbo flutuava entre o ar e todos eram obrigados a respirarem e sentirem seus pulmões a arder. Veias a pulsar, olhares, suor a escorrer. Nada.
Underwood se levanta. Tenho uma sensação ruim, me movo. O vidro explode. Um tiro faz um buraco na janela. Me jogo. Kruger e Underwood gritam quase ao mesmo tempo. Olho para o representante da ONU, estávamos no chão, havíamos nos jogado contra o chão, eu por cima dele. Seu ombro estava vermelho, seu paletó manchado.
Olho para Underwood, sua secretária estava por cima dele. Aparentemente, fizera o mesmo que eu e se jogará por cima dele. Havia um buraco na parede. Comandante Raegan já estava em corrida pelos corredores, era possível ouvir suas ordens ecoando pelo comunicador. Perímetro comprometido, temos um invasor, encontrem-no, gritava.
Respiro fundo, já estava ofegante, não havia tempo para corredores. Olho pra Kruger, ele parecia estar com dor, mas não acredito que seja um ferimento fatal. Me levanto e corro.
— Cody, já para o salão azul, traga médicos, o secretário-geral precisa de cuidados.
Continuo em corrida, a janela a frente, se aproximando. Fecho os braços em um x à frente do corpo e me jogo. Primeiro, o vidro vai se rachando, tudo em câmera acelerada. Um trinco no primeiro contato contra meus braços e a armadura que e reveste. O pequeno trinco se expande e toda a janela explode em cacos para cada lado. Caiu no chão, era baixo. Continuo a correr pelo gramado. Um vulto a frente, o perímetro havia sido violado, havia um assassino dentro da casa branca.
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Crise de identidade
Science Fiction#1° Lugar na categoria ação no concurso anjos e fadas. Crise mundial, tensões políticas, guerra. Esse foi o cenário de nosso surgimento, viemos como um exercito para manter a paz na terra, a lâmina da ONU. Clones feitos para a guerra, aprimorados ge...