Primeiro, o barulho das naves. Depois, os soldados de armaduras vermelha pulando em pleno céu a terra. Incrivelmente os dragões vermelhos não estavam aqui na hora do ataque, porém, agora que seu líder estava ferido, eles voltaram como lobos sedentos de sangue. Aquilo tudo estava uma bagunça, drones jornalísticos voavam no céu em uma tentativa de pegar algo. Não se aproximavam, sabiam que se entrassem próximo do perímetro seriam derrubados, mas perto o suficiente para registrar toda a movimentação interna.
Eu estava na ala médica da casa branca, por isso vi a chegada deles. Eles adentraram o cômodo, havia alguns dos nossos guardas, mas as armaduras vermelhas lotaram os pontos de vigia. Enquanto entram, os nossos esvaziam. Um deles olha para mim, não há visão de seu rosto, mesmo ele sendo igual ao meu. Ele me encara em uma ordem silenciosa de retirada. Sustento o olhar e não recuo.
Aqueles eram cachorros treinados. Lobos em coleiras, ferozes a sentir o cheiro de sangue e a esperar a mão afrouxar para pularem e estraçalharem a vítima. Aquela era uma unidade feroz, mesmo entre a elite. Sem recuar, sem hesitar. Era a principal agencia de segurança do Secretário-geral e os mais leais, mesmo dentro das tropas clônicas. Seu grande dragão vermelho pintado sobre o denso preto das armaduras lhes dava uma aura aterradora. Com certeza, aqueles não eram soldados para brincadeiras.
O secretário-geral permanece deitado, seu ombro estava enfaixado. A bala havia perfurado sua carne e atravessado, por sorte, não fora nada grave. Talvez devesse ser, ao que parece o tiro foi mirado no peito. Era um tiro para matar.
Kruger geme ao seu mover. Ao seu lado seu relógio apita na mesinha. Ele estica a mão boa, segura o seu dispositivo e aperta um botão. Uma imagem holográfica brilha em sua frente. General Nash aparece. Ele parece nervoso. Kruger, que a pouco demonstrava um semblante ferido, parece acordar.
— O que diabos aconteceu? Pensei que os manteria em controle.
— Esperava isso, o presidente chinês estava calmo.
— Não estamos prontos ainda.
Bradley estava em raiva, parece levemente desesperado. Ele era conhecido como um grande diplomata e estrategista. Porém, era visível como o rumo das coisas fugiam dos seus trilhos. Nash estava acuado, agora o secretário Bradley não parecia aquela mesma alma calma, estava diferente, parecia alterado. Ele segura seu ombro que parece arder. Nash continua:
— Temos os preparativos quase prontos, espero suas ordens para iniciarmos nossas missões.
— Pois bem, quero tudo pronto para minha ordem.
Ele respira fundo, parece tentar digerir o que diria. Depois continua.
— O presidente americano enviou ao congresso o pedido de guerra. Espera resposta e prepara o exército para uma investida inicial. Os jornais do mundo já notificaram sobre o ataque — Ele para, parecia levemente cansado, depois continua com um olhar de preocupação — E quanto a China, como eles estão reagindo?
— Mesmo eu estando aqui não disseram nada. Porém, é muito claro que estão se aprontando para algo.
— Entendo.
— Bem... por precaução, enviei soldados para diversas bases chinesas para uma tentativa de paz. Além disso, preparei os nossos centros no...
Um ruído. As armas são apontadas. Me movo para perto da figura na cama. Já os dragões não hesitam e atiram contra o vidro da janela. A janela vermelha é perfurada e a janela estilhaçada. Em segundos, outros soldados estão em movimento.
Me aproximo da janela a tempo de ver o alvo cair em chamas. Um drones azul com a logo de um jornal americano a cair. Era ainda de tarde e a imagem do azul a queimar gravou na minha cabeça, indo em direção ao solo até cair e desativar.
Bradley geme um pouco de dor ao se mover em uma tentativa de se levantar. Olha para o holograma e diz:
— Aqui não é seguro para conversas. Você sabe o que deve fazer, ajeite as coisas aí que resolverei o problema aqui.
Não há tempo para respostas, a ligação se encerra. Kruger faz força para ficar em pé. O branco em suas ataduras fica manchado de vermelho.
— Vamos, quero minhas roupas aqui. Tenho problemas sérios a solucionar.
Um dos dragões vermelhos lhe traz a roupa. Entretanto, o comandante Raegan, que permaneceu na sala também, se aproxima.
— Senhor? A sua ferida vai se...
— Calado!
A voz de Kruger se torna gélida, por um momento, seu corpo parece maior, como se ele crescesse. Como se sua aura nos subjugasse, como Nash fazia. Ele continua. Veste suas roupas e sai cambaleando pelo corredor. Seu passo era devagar, estava cansado, doído e sem forças. Era incrível que ainda continuasse em sua caminhada.
Os corredores da casa branca estavam movimentados, loucos. Parecia que mundo tinha sido virado ao avesso. Talvez realmente fosse. O senado e o congresso bateriam o martelo, então poderia haver uma terceira guerra mundial, ou pior, uma guerra nuclear.
No fim, Kruger parecia o único grande homem a tentar parar isso, a arrastar nas costas uma pedra e tentar, como Sísifo, rolar a montanha impossível da paz. Uma missão que ele agarrara com unhas e dentes.
Ele para. No meio do caminho, um homem corre em sua direção correndo. Parecia um secretário comum, possivelmente alguém que trabalhava para Kruger. Ele chega, coloca suas mãos contra os joelhos e respira. Ao menos tenta, está totalmente suado e cansado. Puxa o ar para dentro dos pulmões, não parece conseguir. Ele estava branco, como se todo o sangue de seu corpo houvesse sangrado. Na face, uma imagem de terror.
— Diga, homem, o que houve?
— Senhor... Senhor... O presidente rejeitou a ordem do congresso e decretou um ataque nuclear. Misseis foram preparados e daqui a minutos serão lançados...
— Droga. Quem mais sabe disso?!
— O mundo todo. De alguma forma, a informação vazou. A China já declarou alerta, ela responderá a altura. Daqui a pouco choverá misseis nucleares.
Bradley Kruger se endireita. Parece que ele tira sobre si o peso da fragilidade e fica ereto, como se fosse outro homem. Um alguém diferente do desesperado de minutos atrás. Ele volta a sua seriedade normal. Sangue ainda mancha sua camisa branca por trás do paletó. Ele estica a mão, levantando o relógio a altura da boca e diz:
— Ativar "Expurgo"!
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Crise de identidade
Science Fiction#1° Lugar na categoria ação no concurso anjos e fadas. Crise mundial, tensões políticas, guerra. Esse foi o cenário de nosso surgimento, viemos como um exercito para manter a paz na terra, a lâmina da ONU. Clones feitos para a guerra, aprimorados ge...