A arma agora pesava um pouco nos braços. Seu dispositivo foi alterado, não seria mais tiros de choque, mas sim ataques de perfuração. O tempo urgia, precisávamos nos apressar.
Por um momento olho para trás, todos do pelotão já haviam passado pelo buraco e ele ainda estava lá, no meio da cerca, a nos esperar. Como da última vez, Cody avança na frente, enquanto isso, Ferris e eu ficamos atrás. Agora não podíamos mais nos dividir, aquela era área inimiga.
Tudo estava escuro, algumas luzes eram jogadas no meio do terreno vazio entre a cerca e o prédio, mas não eram suficientes para desfazer o breu que se formava, o que era ótimo para nós que avançávamos no meio da escuridão evitando luzes e prováveis guardas com elas. Depois de se estar a quase 20 metros do apartamento, paramos. Levo minha mão para um comunicador no capacete e digo:
— Unidade B4 posicionada, aguardando ordens.
Primeiro, houve silencio. Um longo, entrecortado por minha respiração pesada por baixo do capacete e do coração a bater forte, depois, veio a resposta.
— O.K. — A voz soou seca, sem emoção e totalmente reconhecível, o general Nash a responder as ordens. Até agora, todas as respostas haviam sido programadas, mecânicas de alguma programação. Agora não, sua voz agora regia a orquestra que se seguiria, colocando em afinação peças como eu, dissonantes.
Enquanto o silencio das ordens em espera se segue, quase consigo o imaginar a frente de todos. Seus olhos duros a olharem cada detalhe de uma mesa holográfica, vendo, por meio de sistemas de localização, cada um dos pequenos personagens do seu jogo. Ao seu redor, uns bons números de pessoas clicam e apertam teclas, mostrando imagens em computadores holográficos, ali, fazem planejamento, logística e análise da situação. Ao redor daquele homem, que cobria a todos, o silencio predomina, cortado somente por cliques. A mesma sala onde estivemos na reunião, a mesma penumbra cortada pelo azul das telas.
No fim, todos nós, cada soldadinho azul na tela, éramos como pinhões. Peças a qual ele estende seus tentáculos, ele e tantos outros do mesmo porte que ele. Enfim, talvez nunca deixemos de ser peças, massa de manobra. Pinhões a serem descartados...
— Demais unidades, reportar.
Sua voz grossa interrompe meus pensamentos, demora poucos segundos para se ouvir as respostas dos demais pelotões. Mais dois a invadirem, B-3 e B-2 e um terceiro a servir de apoio. Ao que parece, as demais unidades já haviam neutralizado seus guardas e entrado, agora, bastava que todos se posicionem.
Aproveitando o tempo extra, olho ao redor. Espaço amplo entre o prédio e a cerca. Depois, analiso finalmente o apartamento, agora, pela proximidade, detalhes se revelavam. Um prédio de três andares. No nível do solo, era visível algo como um deposito, uma grande entrada totalmente aberta e sem portão, lá dentro se via vários pilares de sustentação e uma escada para o primeiro andar. Aparentemente, não havia mais nada dentro daquele armazém.
O primeiro andar estava totalmente desligado, sem nenhuma luz visível. Diferente do segundo que exibia uns dois a três quartos acessos, com certeza, locais de reunião. O terceiro estava apagado.
Aquela era uma base de operação terrorista, segundo a reunião do general, representava um ponto de comunicação entre as demais bases da região, por isso era importante sua retirada. Com isso, eliminamos a comunicação entre os pontos. Além disso, ao que parece, hoje haveriam algumas cabeças importantes. Aquilo era bom, não esperavam um ataque, poucos guardas, seria um golpe profundo.
Depois de alguns segundos, escuto a ordem de avançar. Levanto a mão para meus soldados e seguimos. Seria um ataque triplo, minha unidade atacaria diretamente partindo solo e subindo as escadas em direção aos andares superiores. Enquanto isso, as outras unidades escalariam as paredes e atacariam em pinça, partindo de cima, do último andar ao solo. Assim, encurralaríamos eles e não daríamos oportunidade de uma resposta efetiva.
Seguimos, as luzes eram fracas e conseguimos passar. Havia somente um guarda no armazém que foi facilmente eliminado por um tiro de Ferris. Não havia mais guardas, nenhum. O armazém estava apagado, sem luzes. Suas vigas e pilastras de apoio mostravam a idade do prédio que estava a descascar. Não havia pintura nas paredes, somente um reboco acinzentado que caia em diversos pedaços.
No chão, vários papeis espalhados. Algumas revistas e jornais velhos, outras novas, de dias passados. Nelas, se viam notícias da pandemia de 2019, até o crescente embate entre EUA e China. Em outros, mais atuais, se exibiam em letras grandes a iminência de um ataque nuclear ou terceira guerra mundial. Na última que vi, havia fotos de áreas destruídas, diversos locais públicos e privados ao redor do mundo, onde terrorista, talvez da mesma célula dessa, haviam explodido bombas. Diversos civis morreram, os ataques tiveram grande impacto econômico, moral, e humano. Além disso, algumas folhas com desenhos e códigos, símbolos estranhos.
Esqueço as folhas no chão, no comunicador as unidades se posicionam e alertam a prontidão do ataque. Me preparo, estávamos posicionados. Hora de entrar. Entretanto, alguma coisa ainda estava errada, as informações não batem. Sem guardas, mesmo para o descuido, havia muito menos. Parecia tudo tão perfeito, até mesmo os exatos quartos abertos. Grande área, poucos guardas, maquinado.
— Unidade B4 posicionada?
— Unidade posicionada — respondo ainda incerto.
— Avançar com a invasão.
Escuto as ordens, agora as unidades iniciariam a escalada. Nós entraríamos em um ataque massivo. Mas algo ainda me incomoda, lembro da criança que encontramos primeiro e, um momento antes de dá a ordem, me viro para olhar o local onde antes estivera a criança. Minha mente grita acelerada, pensando, algo errado. Vejo alguma coisa, estranho...
Surpreso, levanto a mão para meus homens, não em uma ordem de avançar, mas sim de parada imediata. Antes que eu perceba, levo minha mão ao comunicador e quase grito.
— Operação corrompida. É uma armadilha!
Há um silencio, depois uma ordem apressada — Operação cancelada, recuada imediata. Porém, não foi a tempo, do chão soldados se levantam com armas em punho. Agora, nos mesmo espaço que percorremos até ali, inimigos se erguem. Dessa vez, nós é que seremos pinçados e talvez, mortos.
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Crise de identidade
Science Fiction#1° Lugar na categoria ação no concurso anjos e fadas. Crise mundial, tensões políticas, guerra. Esse foi o cenário de nosso surgimento, viemos como um exercito para manter a paz na terra, a lâmina da ONU. Clones feitos para a guerra, aprimorados ge...