Capítulo 8: Quando bandeiras são levantadas...

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Era intenso o fluxo de pessoas na rua e a quantidade de gente gritando perto de mim. Do outro lado do portão, diversas pessoas mostravam cartazes e gritavam palavras de ordem pedindo paz, segurança e o fim do terrorismo que se alastrou de modo nunca visto no mundo.

Uma manifestação pequena dividida ao meio por algumas grades, garantindo a permanecia de um caminho para a entrada principal. Permaneço na entrada, Cody está do outro lado, enquanto isso, Ferris faz ronda em outro lugar. Estávamos em Nova York, na sede da ONU. Prédio grande, com uma entrada principal dividida da rua por grades. Nos lados, grandes hastes tremeluziam com bandeiras diversas. No outro lado do portão, no meio da pista, algumas pessoas fazem sua manifestação.

Vejo Cody discretamente levando a mão ao comunicador, ativando linha privada. Segundos depois, escuto sua voz reverberando em meus ouvidos.

- Sempre pensei que as forças especiais fossem mais... animadas.

Não consigo deixar de sorrir, mas resisto a vontade de começar a rir. Digo em resposta:

- Melhor do que ter balas voando perto de sua cabeça a cada meio segundo.

Ele ri, foi uma risada simples, não forçada. Cody demonstrava uma alegria latente que era difícil de resistir. Dou um olhar rápido para ele e depois volto a prestar atenção na movimentação da rua. Era visível que o complexo estava mais movimentado, diversas pessoas caminhavam pela rua, outras entravam por áreas secundárias ou outros blocos e prédios. Ao que parece, haveria uma reunião importante para lidar com os casos de terrorismo intenso que brotavam no mundo.

O que explicava a manifestação a frente. Muitos exibiam cartazes "não-violência", ou símbolos pela ordem. Porém, era perceptível o medo no olhar e na face das pessoas, mesmo que estivessem sendo protegidas por um miniexército, com vigilância pesada e drones no céu, elas continuam a temer.

Paro de prestar atenção nas pessoas quando vejo uma comitiva a se aproximar. Dois carros negros, seis motos ao redor dos carros. Param no final da pista, bem na entrada. Os primeiros a descerem foram os da moto e antes mesmo que estivessem completamente no chão, já portavam armas grandes e fortes.

Além das enormes armas, exibiam ainda brasões vermelhos em suas armaduras pretas, um dragão todo vermelho. Basicamente, eram clones como eu. Porém, suas armaduras pretas com detalhes vermelhos e seus brasões demonstram a mudança de categoria. Aqueles eram os dragões vermelhos, unidade responsável pela proteção de figuras importantes.

Eles se posicionam ao redor dos carros, sempre alertas. Pareciam uma pequena muralha impenetrável, acho que esse era o objetivo.

De dentro dos carros, que provavelmente devem ser mini tanques, saem algumas pessoas e mais alguns guardas. Depois que diversos engravatados já estão fora, um último sai e esse eu consigo reconhecer, era o secretário-geral da ONU, Bradley Kruger.

Ele era um homem alto, vestido de roupas sociais, tinha cabelos pretos com longos fios brancos nas laterais do rosto. Não era muito musculoso, na verdade, tinha um tipo de corpo meio fino para alguém daquele tamanho. Assim que ele sai do carro, a multidão ao redor reverbera e ele a recompensa com um sorriso fácil e sincero. Se dirige lentamente, acompanhado por seus seguranças, e estende a mão para algumas pessoas as cumprimentando, perguntando se estão bem.

Seu olhar é receptível e seus olhos eram amigáveis. Se houvesse uma palavra a defini-lo seria carismático. Depois de alguns minutos de aceno, ele começa a entrar, passando por grandes portões e adentrando até onde eu estava, a porta de entrada. Assim que se aproxima consigo perceber em seu rosto o cansaço e o estresse em seu rosto. Debaixo dos olhos, algumas rugas se projetam, enquanto algumas veias pulsam na testa. Depois de passar pela porta e entrar consigo escutar ainda o respirar profundo de alguém sobre pressão.

Depois de uns dez minutos, vejo Ferris a se aproximar. Ele toca em meu ombro e diz:

- E aí, capitão, minha vez de ficar de vigia.

Concordo com um aceno e saio. Era uma manhã bonita, céu limpo, sol quente com as mais de duzentas bandeiras a tremeluzirem no céu. Começo a minha ronda, mesmo estivesse movimentado, o prédio estava calmo, nenhuma confusão.

Enquanto caminho, percebo duas grandes imagens aparecendo no céu. Dois grandes quadrados com projeções holográficas no meio do céu. Lá, sem a presença de nenhum pano, imagens da sala de reunião eram mostradas.

As imagens se focavam no secretário Kruger, no meio de um púlpito, o local reservado do orador. Com certeza, aquela era a hora do discurso de abertura da reunião. Kruger permanecia em pé sorrindo para todos com um olhar calmo. Ele puxa o ar lentamente e respira de maneira profunda, depois começa com calma seu discurso.

- Senhoras e senhores, tenho grande prazer em estar diante de todos para iniciar mais uma reunião, contudo, entristece-me por não ser em melhores condições.

Ele pausa, olha para todos. Suas palavras são ditas de maneira lenta, sem se apressar, garantindo que todas as letras fossem bem pronunciadas. Paro e escuto. Ele continua:

- Nas últimas décadas, o mundo vem passando por situações difíceis. Primeiro, enfrentamos duas grandes pandemias globais, depois, crises econômicas e sociais. Estivemos firmes, mesmo sofrendo diversas catástrofes, situações de tensão política e diplomática. Ainda assim, permanecemos firmes e unidos. Hoje, temos visto uma crescente onda de destruição e medo. Diversos ataques terroristas e extremistas tem afetado nossas realidades, nos tememos. É isso que querem. Sim, tememos, mas não recuamos. - Ele pronuncia essas palavras com força, garantindo que as suas palavras tenham o efeito esperado - Posso supor que a última vez que o mundo viu tão grande onda de terror, ocorreu no 11 de setembro, há muitos anos. Eles querem que recuemos, querem que cedamos. Mas não faremos isso. Uma de minhas primeiras propostas para enfrentar essa crise foi que pudéssemos nos unir cada vez mais. Juntos poderíamos enfrentar essa crise e vencê-la. Propus a implantação de um exército unificado a serviço da paz, mantido pela própria ONU e não emprestado de nenhum país. Nesse momento, de difícil situação, vemos os efeitos dessa tropa de clones, desses soldados da paz. Ato votado e aprovado por essa entidade e seus países.

Ele fala de nós. Surgimos por isso, como medida de combate ao terrorismo. Nos tornamos a arma da ONU pela paz. Sim, no fim, somos só isso, armas. Já estive em dois casos diante daqueles terroristas. Primeiro, em uma missão de resgate a civis e depois em um ataque a uma de suas bases. Mas, pelo que suponho, eles continuariam a atacar o mundo. Tudo isso para estabelecer a unidade, culpam as nações divergentes por todas as crises mundiais e acreditam que uma única liderança pode resolver os problemas do mundo, tolos.

- Nesse período em que essa força tem operado, tivemos uma diminuição brusca de ações extremistas. O exército da paz tem impedido mais de 500 atentados ao redor do mundo, mas não só isso, passamos para uma nova fase ao destruir mais de 40 de suas bases na Ásia, Oriente Médio e África. Hoje, da mesma forma que vencemos as crises que passamos, também venceremos essa, com uma ajuda a mais. No fim, era exatamente isso que queria dizer a todos - ele faz uma pausa e olha diretamente para a tela com um olhar penetrante - Venceremos a eles, as suas armas e ao seu medo. Juntos!

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