14. Miss Americana &... (Parte I)

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Fazia calor naquela manhã

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Fazia calor naquela manhã. Já fazia calor há alguns dias, na verdade. Mas, naquela manhã, em New Blaine, a sensação térmica era de como se a pequena cidade do interior de Connecticut assasse dentro de um forno gigante, aceso em 280ºC. As janelas estavam abertas, mas nenhuma brisa entrava no cômodo, e o ventilador de mesa, em cima da escrivaninha, apenas espalhava o mormaço infernal pelo quarto de Alison, que escovava seus cabelos recém pintados de marrom.

     No seu celular, tocavam músicas tristes dos anos 2000, que ela cantava, de maneira teatral, alguns dos versos para si mesma no reflexo, usando a escova como um microfone improvisado.

     — Eu sou um "Donut"! — Naomi comemorou de repente, sentada em sua cama, exclamando enquanto segurava um vidrinho de esmalte vermelho — Aqui diz que eu sou o café da manhã mais extravagante! — Leu o resultado de um dos quizzes... peculiares... que havia feito no "BuzzFeed".

     — Por que você ficou com "Donut" e eu fiquei com... "Burrito"? — Franziu as sobrancelhas, virando-se para a amiga que terminava de pintar as unhas do pé, assoprando-as para secar mais rápido.

     — Provavelmente porque você anda 'emburrada' nos últimos dias. Talvez tenha refletido no seu resultado... — Naomi disparou sarcástica, recebendo um "Ouch!" da outra, que se aproximou:

     — Não estou 'emburrada'! — Pisou forte no chão, demonstrando estar o contrário do que dizia. "É claro que está!" a ouviu rebater — Não. Eu literalmente não estou.

     — Eu não vou te julgar se você estiver. É sério — Garantiu.

     — Ai meu Deus! Eu não estou 'emburrada'! — Ergueu os braços, como se tentasse negar não só para a insistente perante à ela, mas à Deus e o mundo, talvez até para si mesma.

     — Se você quiser cancelar o baile e ficar por aqui, assistindo à alguma comédia romântica, afogando as mágoas em litros de "milkshake", com bastante calda de chocolate, eu topo. Você não precisa se forçar à ver o... — E quando estava prestes a dizer o nome dele, sentiu duas mãos segurarem o seu rosto, e deparou-se com os olhos intensos e, adoravelmente, ameaçadores dela fitando até a sua alma para reforçar as palavras que enfatizava:

     — Eu.Não.Estou.'Emburrada'.

     — Você só está deixando tocar as músicas mais deprimentes da "playlist" e ainda chorou quando tocou "Big Girls Don't Cry"! — Acusou, fazendo-a gaguejar algumas vezes antes de se defender:

     — Pois a Fergie está completamente errada! As garotas crescidas choram sim! 

     — Tudo bem, tudo bem... — Naomi ergueu os braços, se rendendo à amiga — Você é uma garota crescida que tem um batom chamado "Chihuahua"  — Zombou, fazendo Alison revirar os olhos — Agora vamos, quero testar os cremes depilatórios que compramos — Pegando o saquinho com o produto adquirido na farmácia, puxou a morena pelo braço, levando-a até o banheiro.

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