19. Transgender Dysphoria Blues

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O dia amanheceu uma bosta

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O dia amanheceu uma bosta.

     É melodramático, e ela sabe disso, e patético também, pois não é o fim do mundo, mas, sinceramente, dependendo dela: o mundo que vá para o inferno, assim como todos os garotos também, e a droga do seu coração que fora partido e levado junto com um deles. 

     "Foda-se essa merda" atirou o despertador irritante na parede, mas eventualmente acabou levantando-se com mau-humor, arrastando os pés até o banheiro, onde trancou a porta e colocou alguma música enérgica para tocar, enquanto tomava banho e fazia todas as suas higienes.

     À medida que terminava de escovar os dentes, a jovem ouvia Edward bater na porta incessantemente: "Só porque você é uma garota 'agora', não quer dizer que tem o direito de ficar mais tempo no banheiro!" ele exclamou.

     Está aí um dos motivos da sua irritação.

     Na noite anterior, sua família estava reunida para o jantar e tudo corria bem, até a mais nova levantar-se do seu assento e anunciar sem nenhuma expressão no rosto que era uma mulher, e exigia que fosse tratada como tal a partir daquele instante. Simples assim, como deveria ser, usando, ainda por cima, o termo "mulher" como se já fosse crescida. Ela sentou-se novamente e continuou comendo enquanto os outros três a encaravam com os queixos caídos.

     Não era assim que deveria ter acontecido. Não foi como ela havia planejado, mas, naquele mesmo dia, tinha contado a notícia primeiro para o seu melhor amigo, Nicholas, e o mesmo reagira da maneira mais esquisita e desagradável que conseguira e simplesmente sumiu. Sem mais nem menos, o garoto deixou o violão que praticava no quarto da, recém descoberta, menina e caiu fora, vermelho como se tivesse à visto sem roupas, ou algo assim. Por isso ela agiu de maneira tão impulsiva, contando para a sua família de qualquer jeito e respondendo às suas perguntas constrangedoras como se não fossem nada.

     Abrindo a porta abruptamente, ela mostrou o dedo do meio, afirmando que "Você é um babaca, Edward! Isso é extremamente ofensivo!" e marchando em direção ao seu quarto, ouvindo ele retrucar que "Eu estou muito apertado para ser politicamente correto!". Revirou os olhos. Essa é a forma do seu irmão mais velho de tentar mostrar que havia entendido a situação e que não se importava, ainda que fosse um jeito problemático de fazê-lo. Porém, no momento, a única pessoa que ela realmente desejasse compreensão era aquela que correu como um covarde para a sua casa. Idiota. Estava tão magoada que resolveu disfarçar a tristeza de raiva, como sempre.

     De volta ao quarto, aumentou o volume, trancou a porta e começou a se arrumar. Desenrolou a toalha de banho e observou-se no espelho, o seu corpo não possuía nenhuma forma, e sentia como se a sua barriga sobrando não fosse nada atraente. Bufou à caminho do armário, buscando uma muda de roupas e optando, na parte de cima, por uma blusa cinza e larga, que não definisse as linhas de sua silhueta, deixando-a o mais neutra possível. Ainda não se sentia à vontade perante a sua imagem e precisaria de tempo para que encontrasse o caminho certo para poder abraçar as suas, ditas, "imperfeições". Mal podia esperar para que esse momento chegasse.

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